SINFÔNICA SE APRESENTA SOB A REGÊNCIA DE KARL MARTIN

Será a terceira série de concertos oficiais regida pelo maestro suíço neste ano; ele é o regente convidado principal na temporada 2008

Nos próximos dias 28 e 29, a Sinfônica de Campinas realiza um concerto diferenciado, em que Karl Martin estará à frente dos músicos da Orquestra. O maestro suíço ainda irá reger a Sinfônica em apresentações marcadas para os meses de setembro, outubro e dezembro, quando encerrará a temporada de concertos oficiais 2008.

No programa, a Sinfonia nº 5 deFelix Mendelssohn; a abertura de Fosca, de Carlos Gomes; Manon, Intermezzo, de Giacomo Puccini; Norma, Sinfonia, de V. Bellini; A dança das Horas, de A. Ponchielle; e a abertura de Il Guarany, de Carlos Gomes. Segundo Martin, o repertório é “particular”, porque foi criado especialmente para este concerto, inovando com a inserção de óperas. “Infelizmente, Campinas não tem teatros do gênero. Neste programa, reunimos sinfonias e óperas. Queremos despertar nas pessoas o apreço pela música lírica”, explicou.

A apresentação acontece no Teatro do Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes e os ingressos são vendidas no local, ao preço de R$ 20,00. Estudantes, idosos (acima de 60 anos) e aposentados pagam meia entrada. As bilheterias são abertas das 16 às 21 horas, de terça a sábado, e das 10 às 11 horas aos domingos. Mais informações no telefone (19) 3232-4168. No sábado, às 10 horas, acontece o ensaio geral aberto ao publico com entrada permitida mediante a doação de 1 kg de alimento não perecível, que será encaminhado a alguma instituição de caridade ou ao Banco de Alimentos da PMC.

Felix Mendelssohn (Hamburgo, 1809 – Leipzig, 1847)

Sinfonia n.5, em Ré Maior, op. 107 - Reforma

Apesar da ascendência judia, Mendelssohn foi criado na tradição luterana, da qual sempre foi devoto. A idéia de compor esta obra surgiu em 1829 quando recebeu a notícia de que o rei da Prússia, Frederico II, havia determinado que o ano de 1832 seria marcado por grandes comemorações pelo tricentenário da Confissão de Augsburgo, quando Martinho Lutero estabeleceu as bases da Reforma Protestante.

A sinfonia foi concluída naquele ano e apresentada em novembro de 1832 em Berlim, sob a regência do compositor, com o título Sinfonia para a Celebração de uma Revolução Religiosa, o nome Reforma foi associado posteriormente. Esta sinfonia não foi mais executada durante a vida do compositor e só foi publicada postumamente em 1868.

Escrita em quatro movimentos, somente o primeiro e o último aludem a temas luteranos. A sinfonia tem uma introdução lenta e solene, que alterna entre metais e cordas em pianíssimo, apresentando o Amen de Dresden, tema retirado da liturgia luterana do século XVIII da região da Saxônia. É contrastado por um vigoroso Allegro con fuoco e ao final é reapresentado o Amen de Dresden, que termina em grande agitação com um acorde menor se transformando em maior.

No segundo movimento, Allegro vivace, os instrumentos entram em grupo, madeiras, cordas e finalmente a orquestra completa. Sua forma é derivada do tema do primeiro movimento. O Trio, ou seja, a parte central, apresenta uma delicada melodia executada pelo oboé.

O terceiro movimento, Andante, é bastante contido e sugere, como disse o próprio compositor, uma canção sem palavras para cordas e madeiras. Este trecho funciona como um prelúdio para movimento final, uma fantasia sobre o coral de Lutero Ein' feste Burg ist unser Gott (Castelo forte é nosso Deus), o chamado Hino da Reforma. A flauta inicia o movimento, na seqüência um coro de madeiras vai se ampliando até que a orquestra esteja completa. O andamento é acelerado para Allegro vivace, frases do coral reaparecem em diversos instrumentos até que no final o hino é executado pela orquestra completa.

O número de opus desta sinfonia não reflete a ordem das sinfonias de Mendelssohn. A Sinfonia Reforma, iniciada em 1829, deveria a rigor ser a segunda e não a quinta, já que a terceira, Escocesa, foi iniciada em 1830 e concluída somente em 1842.

Carlos Gomes (Campinas, 1836 - Belém do Pará, 1896)

Fosca – Abertura

Após o sucesso da ópera Il Guarany no Teatro alla Scala de Milão em 1870, Carlos Gomes decidiu que não gostaria de ser admirado apenas pelo seu exotismo e em sua segunda ópera na Itália, Fosca (1873), trabalha com um enredo ao gosto italiano, que se passa na região de Veneza, onde piratas, liderados pelo irmão de Fosca, seqüestram o nobre Paolo. Fosca se apaixona por ele e o drama se desenvolve até que que a protagonista perde a razão. Neste sentido é interessante notar que Fosca é uma heroína atípica na ópera italiana, onde os papéis principais em geral eram reservados às moças de bom caráter, o que não é o caso. Já em Joanna de Flandres, ópera anterior composta ainda no Brasil, Carlos Gomes já trabalhara com uma heroína de caráter duvidoso, como o faria novamente em Maria Tudor

Sem repetir as fórmulas consagradas, na Fosca Gomes criou uma partitura vigorosa, utilizando temas recorrentes, orquestração sólida e um tratamento vocal inovador, com grandes saltos e harmonias ousadas. A despeito de sua indiscutível qualidade musical, Fosca não teve boa repercussão, provavelmente por supostas tendências wagnerianas, um acinte na Itália da época. Esse erro seria reparado em uma nova montagem em 1878, mas o compositor viu-se obrigado a deixar as ousadias de lado e criar uma partitura mais melódica e menos sinfônica. Salvator Rosa de 1874 estreou em Gênova com bastante sucesso e apesar de ter sido o mais rendoso de seus trabalhos, a predileção do compositor sempre foi a Fosca.

Il Guarany – Abertura

Em 1863 Carlos Gomes, graças ao sucesso de sua segunda ópera, Joanna de Flandres, recebeu uma bolsa de estudos do Imperial Conservatório de Música e escolheu como destino a cidade de Milão, então a capital mundial da ópera. Ali concluiu seus estudos e escreveu música para duas revistas, Se sa minga e Nella luna, ambas com grande sucesso e que o tornaram conhecido em Milão. Propôs então ao Teatro alla Scala sua nova ópera Il Guarany, baseada no livro de José de Alencar. Após algumas dificuldades, a ópera subiu à cena na temporada de 1870, despertando grande curiosidade no público italiano, em parte por sua temática exótica, em parte pela utilização de melodias e orquestrações pouco comuns, mas de excelente feitura. A ópera foi muito bem recebida, mas dela ainda não fazia parte a Abertura, também conhecida como Protofonia. Esta foi agregada posteriormente e nela são apresentados os diversos temas que aparecem na ópera.

É interessante ressaltar que, apesar da distância, a cidade natal do compositor deu valiosa contribuição para a estréia de Il Guarany em Milão, já que boa parte dos recursos necessários para a montagem da ópera foi arrecadado a duras penas em Campinas por José Pedro de Sant’Anna Gomes (1834-1908), o mano Juca Músico.

Giacomo Puccini (Lucca, 1858 - Bruxelas, 1924)

Manon Lescaut – Intermezzo

O Intermezzo desta ópera aparece na abertura do terceiro ato, prenunciando o trágico fim da protagonista no ato seguinte. Manon, uma jovem frívola e leviana, amava e era amada pelo jovem Des Grieux. Mas movida por uma ambição desmedida, abandona o amante e junta-se a um nobre, de quem rouba algumas jóias. Acaba na prisão e é condenada ao degredo nos Estados Unidos. O Intermezzo precede a cena em que Manon está no Porto do Havre em Paris prestes a embarcar no navio que a levará ao exílio. Des Grieux, desesperado, para não ficar longe da amada, embarca como grumete e ambos seguem para a América do Norte, onde Manon encontrará seu fim solitário e inglório nas areias do deserto da Luisiânia.

Vincenzo Bellini (Catânia, 1801 - Puteaux, 1835)

Norma - Abertura

Morto prematuramente aos 34 anos, Bellini escreveu algumas óperas de bastante sucesso, sendo Norma a mais conhecida. Nela se destaca Casta Diva, provavelmente uma das arias mais executadas e gravadas de todos os tempos.

Apesar de ser uma obra de um período no qual Bellini atingia sua maturidade artística, a estréia de Norma no Teatro alla Scala de Milão em 1831 foi um fracasso. Aos poucos foi conquistando o público até se tornar uma das óperas mais representadas nos grandes teatros do mundo.

O enredo se desenvolve no início da era cristã na região da Gália, então sobre o domínio do Império Romano. Norma era a sacerdotisa-mor e seu povo a obedecia cegamente. Entretanto, ela se apaixona e tem dois filhos secretamente com o pró-cônsul romano, portanto inimigo da Gália, Polione. Este a trai com a jovem sacerdotisa Adalgisa e para se vingar Norma tenta matar seus filhos. Não encontrando coragem para fazê-lo, entrega-os a seu pai, Oroveso, e confessa publicamente seu crime, pelo qual é condenada à morte em uma fogueira.

Amilcare Ponchielli (Paderno Fazolaro [Ponchielli], 1834 - Milão, 1886)

La Gioconda - Danças das Horas

Imortalizada como a dança do hipopótamo de frou-frou no filme Fantasia de Walt Disney, a Dança das horas é uma das peças mais conhecidas do repertório deste compositor, que era amigo e morava em uma villa vizinha à de Carlos Gomes em Maggianico di Lecco, região alpina próxima a Milão.

A ópera La Gioconda tem quatro atos e libreto de Arrigo Boito baseado em novela de Victor Hugo. Estreou no Teatro alla Scala de Milão em 1876 e seu enredo se desenrola em Veneza durante o século XVII. Não é muito representada atualmente, mas ganhou enorme popularidade devido à Dança das Horas, uma suíte de balé que aparece no terceiro ato da ópera, durante uma festa no Palazzo Ca d’oro em Veneza.  É formada por quatro episódios, cada um deles comentando sobre as horas do dia: do amanhecer, do dia, do entardecer e da noite. Simbolicamente, isto pode ser entendido como a eterna disputa entre os poderes da luz e das trevas.

Históricos escritos por Lenita W. M. Nogueira

 

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