ORQUESTRA SINFÔNICA NO FINAL DE SEMANA


A orquestra se apresenta, em concerto oficial, sob a regência de Osvaldo Colarusso, que há 26 anos não participava de um concerto à frente dos músicos de Campinas

A Orquestra Sinfônica de Campinas se apresenta no próximo final de semana, em concerto oficial, sob a regência de Osvaldo Colarusso. Será a terceira vez o maestro estará à frente dos músicos de Campinas. Colarusso já regeu a orquestra em outras duas oportunidades, em 1982. O concerto contará com a solista Olga Kopylova.

No programa, as obras “Suíte de Danças”, de Béla Bartók; “Concerto n° 2 para Piano”, em dó menor, de Serguei Rachmaninoff e “Sinfonia n° 2”, em Ré Maior, de Jean Sibelius. Segundo a professora e doutora em música pela Unicamp Lenita Nogueira, a obra de Bartók foi elaborada com base nas impressões que o compositor teve dos locais por onde viajou. Em sua composição também há fortes referências do folclore húngaro.

Em “Concerto nº 2”, para Piano, de Rachmaninov, o que se destaca é o solo de Kopylova. O caráter da obra é lírico, com participação ativa de cordas e clarinetas. Para encerrar o programa a “Sinfonia nº 2”, de Sibelius, que segundo os analistas que encamparam a idéia duvidosa do nacionalismo da obra, o primeiro movimento seria uma descrição de paisagens finlandesas, o segundo uma melodia folclórica entrelaçada por pizzicatos nas cordas, o terceiro movimento seria uma chamada às armas e o nascimento do espírito nacional, já o último seria uma canção de triunfo.

Serviço: Concerto oficial, dias 2 e 3, com a regência de Osvaldo Colarusso. Sala Luís Otávio Burnier, às 20 e 11 horas, respectivamente. As entradas são vendidas no local, ao preço de R$ 20,00. Estudantes, idosos (acima de 60 anos) e aposentados pagam meia entrada. As bilheterias são abertas das 16 às 21 horas, de terça a sábado, e das 10 às 11 horas aos domingos. Mais informações no telefone (19) 3232-4168.    

Compositores:

Béla Bartók (Nagyszentmiklós, Hungria [atual Mare, Romênia], 1881-Nova York, 1945)

Suite de Danças

Embora Bartók já fosse um compositor reconhecido em 1923 quando compôs Suíte de Danças (Táncszvit), essa foi a primeira encomenda de sua vida. Veio do Conselho Municipal de Budapeste e visava às festividades do 50° aniversário da união das cidades de Buda e Peste. A estréia foi num concerto de gala do qual, além da estréia da Suíte de Danças de Bartók, outra obra importante veio à luz, Psalmus Hungaricus de Zoltan Kodály (1882-1967).

Muitos anos antes, por volta de 1905, Bartók havia conhecido Kodály, que escrevia um tese de doutorado sobre a música folclórica húngara. Juntaram seus esforços e desenvolveram importante trabalho no estudo da música tradicional do leste europeu. Kodály dedicou-se mais à música húngara e Bartók empreendeu viagens por países como Eslováquia, Romênia, Sérvia, Croácia e Bulgária, por vezes extrapolando até a Turquia e o norte da África. Todas essas viagens deixaram uma marca profunda na sua obra. Além de harmonizar muitas das canções recolhidas, integrou outras ao estilo vanguardista de suas composições. Este é o caso de Suíte de Danças, que, entretanto, não trabalha com nenhum tema folclórico específico, mas todos soam como se o fossem.

Em 1941 Bartók escreveu um ensaio no qual explica a estrutura da Suíte de Danças: primeiro e o quarto movimentos, especialmente este último, têm caráter essencialmente árabe, reflexo das viagens que havia feito ao norte da África; o segundo movimento ele identificou como húngaro, um estilo que também governa ritornello que une os movimentos da peça; o terceiro movimento tem influências húngara, romena e árabe. Sobre o quinto movimento Bartók escreveu que o tema tem uma caráter rural tão primitivo, que qualquer alusão à nacionalidade não seria pertinente. Todos os seis movimentos são conectados por uma ponte, embora haja uma pequena separação entre o movimento de abertura e os três primeiros movimentos e o quarto, o que levou alguns estudiosos a afirmarem que Suite de Danças é uma sinfonia em miniatura. As três primeiras danças ligadas seriam o primeiro movimento (Allegro), seguido por um movimento lento (Molto tranquillo) e mais dois movimentos.

Serguei Rachmaninoff (Semyonovo, 1873-Beverly Hills, 1943)
Concerto n° 2 para Piano, em dó menor, op.18

“Se houvesse um conservatório no inferno, Rachmaninoff ganharia o primeiro prêmio por sua sinfonia, tão diabólicas são as discórdias que ele colocou diante de nós.“ Assim se manifestou em 1897 o compositor russo César Cui a respeito da Sinfonia n° 1 de Rachmaninoff, cuja estréia havia sido um tremendo fiasco. Os críticos foram impiedosos com o compositor que, aos 24 anos e não encontrou forças para suportar tal fracasso e caiu em profunda depressão, o que o impediu de criar uma obra durante mais de dois anos.

Rachmaninoff havia assumido o compromisso de compor seu Concerto para Piano n° 2 para estrear em Londres, mas não conseguia fazê-lo. Aconselhado por amigos procurou o Dr. Nicolai Dahl, especialista neuropsicoterapia que trabalhava com hipnose. O médico era também músico e tocava violoncelo em um quarteto. Pode-se imaginar o que o Dr. Dahl, durante as sessões de hipnose, também falasse sobre música. Por volta de 1900 Rachmaninoff conseguiu vencer a depressão e durante uma viagem para a Criméia e Itália começou a trabalhar no seu segundo concerto para piano.

Escreveu primeiramente o segundo e o terceiro movimentos, que foram apresentados em dezembro de 1900 em Moscou, tendo como solista o próprio Rachmaninoff. O sucesso deste concerto animou o compositor, que terminou o primeiro movimento no ano seguinte. A peça completa estreou em Moscou no mês de novembro de 1901, Rachmaninoff ao piano e seu primo Alexander Siloti na regência. Ao contrário da Sinfonia n° 1, o concerto, dedicado ao Dr. Dahl, foi um grande sucesso e libertou o compositor de qualquer sinal de depressão.

O concerto se inicia de maneira original, uma série de acordes do piano em crescendo. Após essa entrada, cordas e clarinetas apresentam o tema de abertura e o piano dialoga com a orquestra até apresentar o segundo tema. À reexposição do tema inicial, segue-se uma vigorosa coda. No segundo movimento (Adágio sostenuto) o piano continua atuando como acompanhante, desta vez para flauta e clarinete que apresentam um tema bastante lírico sobre os arpejos do piano. Há um rápido scherzo e o piano apresenta uma cadenza e tudo retorna a serenidade. No terceiro movimento (Allegro scherzando) há uma alternância entre passagens brilhantes do piano, dos metais e da percussão com temas longos e românticos.

Jean Sibelius (Tovastehus, Finlândia, 1865-Järvanpää, Finlândia, 1957)
Sinfonia n° 2, em Ré Maior, op. 43

Ao contrário do que em geral se pensa a respeito da obra de Sibelius, ela não se restringe à música genuinamente nacionalista, baseada em lendas e mitos de seu país. Tinha uma admiração especial pela sinfonia e destacava “a severidade do estilo e a lógica profunda que criava uma profunda conexão entre os diversos motivos.”

Por valorizar tanto a estrutura tradicional da sinfonia, sempre negou que as  sinfonias de sua autoria tivessem caráter programático, descritivo ou fossem baseadas em algum elemento finlandês. A despeito desta assertiva, alguns afirmam que a segunda sinfonia pode ser considerada a mais nacionalista de todas, em especial o primeiro movimento que evocaria paisagens da Finlândia. 

Como todas as obras de Sibelius, a Segunda Sinfonia foi um sucesso imediato na Finlândia desde sua estréia em 1902 em Helsinki. Entretanto, o público fora da Escandinávia foi menos receptivo e demorou bastante tempo para que a obra se tornasse a mais popular de suas sinfonias.

Segundo os analistas que encamparam a idéia duvidosa do nacionalismo da obra, o primeiro movimento seria uma descrição de paisagens finlandesas, o segundo uma melodia folclórica entrelaçada por pizzicatos nas cordas, sugerindo um pequeno país rodeado por poderosos vizinhos, o terceiro movimento seria uma chamada às armas e o nascimento do espírito nacional, já o último seria uma canção de triunfo.

Toda esta interpretação, que soa um tanto forçada, é devida ao fato de que no começo do século XX a Finlândia era um país dominado pela Rússia e esta sinfonia, com seu final grandioso, seria um libelo da luta pela libertação da Finlândia, chegando mesmo a ser chamada “Sinfonia da Independência”. A reação de Sibelius frente ao domínio russo já foi amplamente debatido, alguns afirmando que, embora nacionalista ferrenho, Sibelius não se identificava com mensagens patrióticas, enquanto outros acreditam que ele escreveu esta peça e outras peças visando a libertação da Finlândia.

Uma das características dessa obra é o motivo de três notas que aparece logo no início e se repete de diversas formas ao longo da sinfonia e forma a base do tema final.

Notas biográficas escritas Lenita W. M. Nogueira

 

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