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CONCERTO OFICIAL - 22 e 23 de abril: Gershwin; Artie Shaw; Mahler

19/04/2006

GEORGE GERSHWIN – UM AMERICANO EM PARIS

Conheça o currículo dos solistas e regente convidado:

George Gershwin (Nova York, 1898-Beverly Hills, 1937) concebeu Um americano em Paris como um poema sinfônico sem enredo definido, que acompanha as peripécias de um americano pelas ruas da capital francesa. Foi composta em 1928 e ilustra suas impressões de uma visita àquela cidade.


NO início as cordas marcam o passo do turista que caminha pela avenida Champs-Elysées até sentar-se num café. Durante o percurso, no burburinho do tráfico, presencia vários eventos, incluindo uma briga de motoristas de táxi indicada por quatro buzinas, em geral substituídas por trompetes. O aparecimento de um tema popular no trompete indica que o turista está na região dos teatros de vaudeville e variedades; a clarineta ilustra uma caminhada pela margem esquerda do rio Sena, enquanto o violino sugere o idílio de uma jovem sonhadora. Este tema torna-se uma transição para um nostálgico blues apresentado pelo trompete com surdina. Um animado ritmo de charleston irrompe, já que nosso turista encontrou um compatriota, com o qual troca impressões, com a repetição de temas anteriores. Com o retorno do primeiro tema a peça se encaminha para o final, que chega na forma de um novo tema de blues, de caráter festivo.


Gershwin era um compositor extremamente bem sucedido em musicais da Broadway, mas de pouca educação formal em música. Conta-se que procurou o compositor russo Igor Stravinsky para tomar aulas de composição. Ao saber que Gershwin chegava a receber US$ 100.000 anuais, o compositor de A Sagração da Primavera teria respondido: “Então sou eu quem deve ter aulas com você...”


ARTIE SHAW - CONCERTO PARA CLARINETA

Artie Shaw (New York,1910-2004) foi um dos mais inovadores bandleaders da chamada Era do Swing, entre 1935 e 1946, criando um idioma inovador para essa formação. Sua banda, que rivalizava com a de Benny Goodman e tinha como vocalista a então desconhecida Billie Holyday, ficou famosa por executar sucessos inesquecíveis como Begin the Beguine, Stardurst e Frenesi. Nessa época, segundo a revista Time, a imagem que se fazia dos Estados Unidos se resumia a arranha-céus, Clark Gable e Artie Shaw.
Por volta de 1930, quando atuava como clarinetista em uma banda de jazz,  conheceu a obra de compositores eruditos como Stravinsky, Debussy, Ravel e Bartok, cuja técnica assimilou e incorporou em suas composições jazzísticas, nas quais introduziu cordas e madeiras.
Neste Concerto para Clarineta, escrito em 1942, Shaw não trabalha com a idéia tradicional de concerto, já que há apenas um movimento. Considerado um desafio para os clarinetistas, dá ao solista oportunidade de mostrar sua virtuosidade,  através de duas cadenzas, uma das quais conclui a peça.


Apesar da orquestração sinfônica, a peça não foge ao caráter jazzístico, conforme pode ser verificado nos andamentos Tempo de Boogie-woogie e Tempo de Swing. Vários procedimentos são recorrentes, como glissandos, o destaque dado ao trompete (o instrumento de Louis Armstrong), ao piano e ao contrabaixo, geralmente tocado com os dedos. Quanto à instrumentação, chama a atenção a adição de um grupo de terceiros violinos, quando o habitual são dois, a inclusão de saxofones alto e tenor e uma guitarra, por vezes suprimida, que traz algumas cifras, indicando a possibilidade de improviso.


GUSTAV MAHLER – SINFONIA Nº 4


— A abertura dos portões do paraíso! — Assim se expressou o regente Bruno Walter a respeito da Quarta Sinfonia de Gustav Mahler (Kalischt, Bohemia, 1860- Viena, 1911), escrita entre 1899 e 1901, com revisões entre 1901 e 1910. O último movimento é anterior, originalmente uma canção para canto e piano de 1892.


Desde a estréia em Munique, sob a regência do compositor, a sinfonia recebeu severas críticas; dizia-se que ali havia somente “coisas grotescas e cômicas” ou “dissonâncias e brincadeiras instrumentais”. Em Paris, o compositor Vincent D’Indy afirmou que se tratava de música para “Alhambras ou Moulins-Rouges, não para salas de concerto”. Para os massivos padrões mahlerianos, a orquestra é pequena e dispensa trombones. Traz uma ambigüidade de sentimentos, pois embora gire em torno da infância, a idéia da morte está sempre presente.
Em um antigo rascunho da Quarta Sinfonia, Mahler descreveu o primeiro movimento como “o mundo no eterno presente”. Embora esta idéia tenha sido omitida da partitura final, está  impregnada em todo o movimento. Este se inicia com uma introdução pelas flautas e sinos, o que dá a impressão de um caminhar ritmado; há também intervenções do clarinete. Esse motivo é recorrente durante toda a sinfonia. O tema é introduzido pelos violinos e tem um caráter deliberadamente clássico, o que não surpreende, já, segundo o compositor, a simplicidade é a chave para toda a obra. Há um segundo tema de caráter pastoral e o retorno do tema dos sinos e do primeiro tema. Após um desenvolvimento e o reaparecimento dos temas, o movimento termina alegremente.


O segundo movimento é um Scherzo onde Freund Hein, obscura personagem de uma lenda folclórica, que se assemelha à Morte, é representada por um violino afinado um tom acima do tradicional, propiciando um som mais agressivo e brilhante. Ao final, Freund Hein  (vale dizer, a morte) dá a última palavra.
O terceiro movimento é decisivo para a compreensão da obra, o seu eixo psicológico. Escrito em forma de intrincadas variações, traduz em música a idéia de silêncio e serenidade, evocando, numa passagem tranqüila e consoladora,  a imagem de uma criança em seu sono derradeiro. Há um estado suspensão, um limbo, que faz desse momento uma transição entre o primeiro movimento, onde é representado o mundo da vida eterna, e o último, quando a criança adentra o paraíso. Ao final a orquestra irrompe em uma gloriosa melodia, indicando que foi aberto o caminho para a vida celeste.


E ela chega no último movimento, na voz de um soprano que canta Das himmlische leben (A vida celeste), que mostra o paraíso na visão da criança. O texto é da coleção de poemas folclóricos Des Knaben Wunderhorn (A trompa mágica do menino), que Mahler havia musicado anos antes e também utilizou na segunda e terceira sinfonias. Escrito antes dos demais, este movimento foi concebido para ser o sétimo e último movimento da terceira sinfonia.
Mahler disse que este trecho deveria ter um tom infantil, mas sem uso de paródia. Desejava que os ouvintes percebessem que os três primeiros movimentos anteriores só seriam resolvidos no final. A idéia musical do início reaparece, conduzindo a um paraíso onde tudo é uma festa permanente, todos dançam e cantam embalados pela música de Santa Cecília e por vozes angelicais em júbilo. São Pedro vela por todos com olhar indulgente, enquanto anjos amassam o pão, Santa Marta prepara pratos requintados e há comida e vinho à vontade. “Nenhuma música na terra pode ser comparada à nossa!”, diz a criança. E a sinfonia termina serenamente, já que a paz foi atingida.


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DICIONÁRIO MUSICAL


Blues: música popular afro-americana que surgiu nos Estados Unidos no início do século XX. A palavra pode indicar tanto um estado de espírito melancólico como uma composição na qual são utilizadas progressões harmônicas características deste gênero.


Cadenza: passagem virtuosística perto do final de um movimento de concerto em que a orquestra silencia e o solista demonstra a sua virtuosidade; pode ser escrita pelo compositor ou improvisada pelo solista, conforme a determinação da partitura,


Glissando: escorregar de uma nota para outra em vez de atacar cada uma delas. No piano é executado arrastando os dedos, ou somente o polegar, sobre as teclas.
Poema Sinfônico: Forma orquestral em um movimento na qual material extra-musical, como poemas, novelas ou pinturas, fornece uma base narrativa ou ilustrativa.


Scherzo: nome dado a uma peça de música ou a um movimento de uma obra longa como uma sinfonia; em geral rápido e ágil; a palavra vem do italiano e significa brincadeira.
Surdina: Dispositivo para abafar a sonoridade dos instrumentos.

Lenita W. M. Nogueira

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