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A Criação

20/09/2007

JOSEPH HAYDN (Rohrau-sur-la-Leitha, 1732- Viena, 1809) A Criação (Die Schöpfung)

A história de "A Criação" começou por volta de 1795, quando Haydn estava terminando sua estadia na Inglaterra e recebeu das mãos de Salomon um poema intitulado A Criação do Mundo. Este texto teria sido entregue a Salomon por Thonas Linley (por vezes chamado Lidley ou Liddel), que por muito tempo foi considerado o seu autor. Atualmente esta autoria é negada e o autor do texto é dado como anônimo. O que se sabe é que o mesmo texto havia sido oferecido a Haendel muitos anos antes, que, entretanto, nunca o colocou em música.

Quando Haydn escreveu esta obra, entre 1796 e 1798, o gênero oratório, após ter sido bastante explorado no período histórico anterior, o barroco, estava em declínio, mas Haydn já trabalhara de forma magnífica com este gênero, produzindo oratórios como Stabat Mater (1767), Il ritorno di Tobia (1775) e As sete últimas palavras de Cristo (c. 1796). No final da vida Haydn adota um padrão mais grandioso e supera estas obras com A Criação em 1798 e com As estações de 1801, duas peças onde o papel dos coros é consideravelmente ampliado e nas quais as cenas descritivas extrapolam o sentido da pura narração.

A obra estreou em um concerto privado no dia 29 de abril de 1798 no salão do Palácio do Principe Schwarzenberg em Viena.

A obra foi executada cerca de quarenta vezes nesta cidade durante a vida de Haydn e em vários outros países da Europa. Na Inglaterra apareceu em Londres, no Convent Garden, no ano seguinte, em uma "retradução" para o inglês.

No dia 27 de março de 1808, um ano antes de sua morte, Haydn, envelhecido e doente, compareceu à uma audição da A Criação, que seria a última para ele. Nesta ocasião foi levado para a platéia do teatro carregado em uma poltrona, já que não podia mais caminhar. Ao vê-lo, o público explodiu em grande ovação e conta-se que Haydn, com um gesto humilde apontando para cima disse: "Não vem de mim, tudo vem do alto".

A harmonia audaciosa que o compositor utiliza na Representação do Caos no início de A Criação é apontada por alguns especialistas como precursora das revoluções musicais do século XIX e segundo Robbins Landon, somente na ópera Tristão e Isolda de Richard Wagner (1813-1883), que chega aos limites da tonalidade, a música encontrará tais harmonias e sonoridades.

Haydn procurou imprimir nesta peça um som bem mais grandioso que o padrão da época, tendo inclusive, logo após a estréia para os nobres em 1799, adicionado novos instrumentos e quando A Criação foi apresentada ao público comum, os músicos chegavam a 120 e o coro tinha 60 vozes.

A Criação, como o nome indica, descreve e celebra a criação do mundo e seu libreto foi baseado em três fontes: o Gênesis, o Livro dos Salmos e no épico Paraíso Perdido de John Milton (1608-1674). Três solistas vocais representam os anjos Gabriel (soprano), Uriel (tenor) e Rafael (baixo), que narram e comentam os seis dias da criação. O coro é empregado de forma monumental, muitos deles celebrando o fim de um dia particular da criação. A orquestra, grande para os padrões do período clássico, freqüentemente toca sozinha, principalmente em episódios que exigem cor tonal: o aparecimento do sol, a criação de várias bestas, e acima de tudo na abertura, a famosa descrição do Caos antes da criação.

A peça é escrita em três partes e, como era tradição nos oratórios, números musicais amplos (arias e coros) são geralmente prefaciados com um breve recitativo. Geralmente o recitativo apresenta as palavras do Gênesis, enquanto o número seguinte, trabalha sobre a narrativa bíblica.

Dividida em três partes, a primeira celebra a criação da luz primal, da Terra, dos corpos celestes, dos corpos aquáticos, da atmosfera e o nascimento das plantas, concluindo-se no final do quarto dia da criação. A segunda parte comemora a criação das criaturas do mar, pássaros, animais, e por último, o homem. Na terceira parte o cenário é o Jardim de Éden, onde Adão e Eva passeiam felizes antes do pecado original. A obra se conclui com uma fuga dupla baseada no texto Des Herren Ruhm, er bleibt in Ewigkeit (A obra do senhor durará para sempre), com passagens para os solistas e uma seção final homofônica e grandiosa.

Lenita W. M. Nogueira

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