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Solistas Vocais e Coral se apresentam no Concerto Oficial de 13 e 14 de maio

09/05/2006

  


Conheça os solistas vocais e coral:

 

WOLFGANG AMADEUS MOZART (SALZBURGO, 1756-VIENA, 1791)

 Abertura da ópera La clemenza di Tito, K. 621

Escrita para celebrar a coroação do imperador Leopoldo II como rei da Boêmia, esta foi a última ópera de Mozart. Ao receber a encomenda estava quase concluindo A Flauta Mágica, mas a deixou de lado para dedicar-se à La clemenza di Tito, que estreou em setembro de 1791 no Teatro Estates de Praga. Mozart, que vivia tempos difíceis, adoentado e com as finanças abaladas, recebeu essa encomenda de bom grado, mas o tempo para entregá-la era escasso e teve que escrever a ópera em apenas dezoito dias. Foi somente quando já se realizavam os ensaios que escreveu a abertura.

La clemenza di Tito é baseada em um libreto de Metastasio, que relata fatos da vida de Titus Flavius Sabinus Vespasianus, filho e sucessor do imperador Vespasiano. Ao sufocar uma revolta em Jerusalém, Tito se apaixonou pela princesa judia Berenice, mas os romanos não aceitaram essa relação, pois temiam que ela pudesse ser uma nova Cleópatra. Tito cedeu e enviou Berenice de volta a Jerusalém, mas a ciumenta Vitelia, que desejava esposá-lo, havia convencido Sesto, o melhor amigo de Tito e que a amava, a organizar uma revolta para derrubar o imperador. O levante é sufocado e a ópera enfatiza a magnanimidade de Tito, que perdoou os insurretos.

La clemenza di Tito logo se tornou popular, mas provavelmente devido à sua adesão aos moldes da chamada ópera séria italiana, passou a ser considerada uma obra menor. Foi revisitada no século XX e atualmente é considerada mais uma obra-prima de Mozart.

Após a apresentação em Praga, Mozart retornou a Viena para preparar a estréia de A Flauta Mágica, que ocorreu em setembro de 1791. Escreveu à esposa (que estava em uma casa de repouso em Baden) que ficara surpreso com o sucesso simultâneo das duas óperas, o que poderia proporcionar um novo alento à sua vida. Mas essa vida extinguiu-se apenas dois meses depois.

Sinfonia nº 40 em Sol menor, K. 550

Durante o verão de 1788 Mozart escreveu aquelas que seriam as suas últimas sinfonias, as de número 39, 40 e 41 (Júpiter).  Imaginando que escreveria muitas outras quando sua situação melhorasse, não produziu sinfonias entre 1788 e 1791. Esta trilogia configura, portanto, a síntese de sua realização sinfônica. Especulações a respeito da razão desta produção em massa são várias: teria sido sua intenção fazer concertos por subscrição para arrecadar algum dinheiro, ou pretendia realizar uma tournée fora de Viena, ou mesmo publicá-las como um grupo? A Sinfonia nº 40 foi originalmente escrita sem clarinetes, mas Mozart fez uma revisão e acrescentou este instrumento, um indício de que teria uma performance em vista.

Essa teria sido a única das três sinfonias executada enquanto Mozart estava vivo. Ela figura em um programa dado duas vezes em abril de 1791, no Burgtheater em Viena sob a regência de Antonio Salieri. Se para muitos o nome de Salieri causa arrepios devido à suspeita de que tivesse envenenado Mozart, hoje sabe-se que isso não passa de um mito criado no século XIX, amplificado no século XX pelo sucesso da peça (e depois filme) de Peter Schaeffer, Amadeus.

A Sinfonia nº 40, considerada como a obra mais pessoal de Mozart, foi escrita em um momento crítico de sua vida, no qual se debatia com problemas financeiros, com o descaso do público, que não se interessava mais pelo ex-menino compositor-pianista prodígio, além de viver em permanente tensão com a esposa doentia. Em carta enviada a um amigo, na qual pedia um empréstimo, desabafou: “Pensamentos obscuros freqüentemente vêm a mim, pensamentos que eu afasto com tremendo esforço”. Alguns críticos acreditam que tais “pensamentos obscuros” teriam sido expressos na Sinfonia nº 40, uma das únicas duas que escreveu em modo menor (a outra é a nº 25, também em Sol menor). Seja isso correto ou não, o fato é que esta sinfonia é austera e não deixa espaços para amabilidades. Muito mozartianamente, é emocionalmente carregada, mas nunca chega a ser atormentada.

Escrita sem trompetes e percussão, inicia-se sem uma introdução formal, as violas preparam a base para os violinos, que rapidamente apresentam o tema, deixando uma sensação de que chegamos atrasados, de que aconteceu alguma coisa antes. Dentro de uma estrutura clássica, Mozart trabalha com harmonias ousadas e cromatismos que parecem prefigurar expressões musicais que se consolidariam somente no século seguinte.

Ao final, temos que fazer coro com uma especialista que resumiu tudo numa frase: as palavras falham quando se tenta explicar a grandeza dessa obra.

 

Missa em Dó Maior, Da Coroação, K. 317

Existem duas versões para a criação dessa obra. A primeira está relacionada a um incêndio que destruiu a igreja de Regem na Bávaria, deixando intacta a imagem de Nossa Senhora que estava em seu interior. Transformada em objeto de peregrinação, a imagem foi transferida para Salzburgo e colocada em uma capela na montanha de Plain por volta de 1657; dali foi transferida para o Santuário de Maria Plain, onde recebeu, em 1751, uma coroa de prata abençoada pelo Papa. Desde então, essa data é celebrada no quinto domingo depois de Pentecostes. A “Missa da Coroação” de Mozart teria sido composta para o vigésimo oitavo ano dessa comemoração, em 1779.

A segunda versão vai na direção contrária: analisando as datas, estudiosos perceberam que o quinto domingo depois de Pentecostes acontece em junho ou julho, e naquele ano de 1779 caiu no dia 27 de julho. Mozart concluiu a obra no dia 23 de março e levando-se em consideração que sempre concluía seus trabalhos na última hora, acredita-se que ele a tenha escrito para a celebração do Domingo de Páscoa na Catedral de Salzburgo, que aconteceu doze dias depois que terminou a composição. Neste caso, a relação da obra com uma coroação seria posterior, já que missas de Mozart foram executadas nas coroações de Leopoldo II como rei da Boêmia em 1791 e de Francisco II como rei da Hungria em 1792.

O Kyrie inicia solenemente a missa, com sopros e tímpanos pontuando o texto do coro, recortados por ritmos pontuados nos violinos. Mas logo este caráter é alterado e o coro dá espaço aos solistas, soprano e tenor, que se alternam. A frase inicial do soprano foi reutilizada ano depois na aria “Come scoglio”, cantada por Fiordiligi na ópera Cosi fan tutte. O coro volta ao tempo inicial para concluir o Kyrie, sempre em blocos homofônicos, já que as partes contrapontísticas são reservadas aos solistas.

O Gloria reflete de forma excepcional as constantes mudanças no texto, que vai do exuberante Laudamus te, passando pelo angustiado Qui tollis peccata mundi até o sereno coral Jesu Christe.

O Credo mantém o clima glorioso e aqui Mozart trabalha com um motto perpetuo dos violinos em semicolcheias, que só arrefece na seção central, quando o quarteto canta Et incarnatus est e o coro entoa Crucifixus. As semicolcheias retornam no exultante Et resurrexit, permanecendo até o Amen final.

Seguem-se o Sanctus, cuja solenidade é quebrada pelas chamadas de gloria do Osanna in excelsis, e o Benedictus, onde a orquestra é reduzida e o quarteto solista canta em delicado contraponto, interrompido pela reiteração do Osanna pelo coro.

A peça se conclui com um solo de soprano que recorda a ária Dove sono, o lamento da Condessa Almaviva na ópera Le nozze di Figaro de 1786. O soprano reitera a música apresentada no Kyrie, no que é seguida pelos demais solistas. O coro se apropria da obra em um andamento mais movido para levá-la a um glorioso final clamando Dona nobis pacem (Dai-nos a paz). 

 

Comentário: Lenita W. M. Nogueira

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