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EIKO SENDA INTERPRETA "ISOLDA", da ópera de Wagner

22/05/2006

A soprano Eiko Senda

 

RICHARD WAGNER (Leipzig, 1813-Veneza, 1883)
Prelúdio e Morte de Amor (Liebestod) da ópera Tristão e Isolda
Compositor, regente, teórico musical e ensaísta, Wagner transformou o pensamento musical com a idéia da Gesamtkunstwerk, ou obra de arte total, na qual a música não é o elemento mais importante para o desenvolvimento do drama, mas associa-se à outras artes em benefício da expressão dramática.


Costuma-se dividir a obra de Wagner em três períodos: no primeiro compõe obras como Rienzi, ainda dentro dos padrões tradicionais; no segundo período escreve óperas mais arrojadas como Lohengrin e Tannhäuser, e o terceiro, mais ousado, se inicia com Tristão e Isolda, obra notável pela sua textura contrapontística, cromatismo exacerbado, harmonias e orquestração inovadoras, além do uso intenso de leitmotivs, um tema musical que é associado a personagens, objetos, emoções, idéias ou elementos do drama. Wagner não utilizava o termo “ópera”, já que o julgava impróprio para expressar a amplitude de seu trabalho, que preferia chamar de “drama musical”.


Tristão e Isolda é, portanto, um drama musical dividido em três atos; seu libreto foi escrito pelo próprio compositor, baseado em um romance do século XIII escrito por Gottfried Von Strassburg, que conta a lenda do cavaleiro Tristão, que é enviado pelo rei Mark para buscar sua noiva Isolda do outro lado do mar. Ambos se apaixonam perdidamente e graças a essa paixão podemos ouvir hoje essa obra prima, composta entre 1857 e 1859. A primeira apresentação aconteceu em Munique no ano de 1865, com grande polêmica, já que muitos críticos consideraram a obra incompreensível. A regência foi do maestro Hans Von Bülow, cuja esposa, Cosima, filha de Liszt, o abandonaria em breve para viver com Wagner, causando escândalo na sociedade.


O dois trechos que ouviremos neste concerto, Prelúdio e Morte de Amor, correspondem ao início e ao final da obra. O Prelúdio dá o clima do drama que se desenrolará, através da apresentação de leitmotivs, como o da “Declaração de Amor”, o do “Desejo, e assim vai percorrendo a obra até o tema da “Libertação pela Morte”, que vai ser explorado ao limite no final do drama, no trecho conhecido como Morte de Amor (Liebestod), na qual Isolda tem uma visão de Tristão, então já morto, que a chama de outra dimensão. Após atingir o êxtase, a música termina docemente, como a própria Isolda, para que, através da morte, os dois amantes possam se reencontrar.


Quando escrevia Tristão, Wagner escreveu a Franz Liszt: “Como nunca antes em minha vida experimentei o verdadeiro prazer do amor, estou planejando um monumento à esse sonho, o mais belo de todos os sonhos”. Nessa frase romântica, Wagner demonstra como sua personalidade era controvertida. Ao mesmo tempo em que estava na vanguarda de seu tempo e abalava as estruturas da música ocidental ao implantar inovações que iriam repercutir de forma expressiva na música e na arte do século XX, assumia posições polêmicas e reacionárias, tanto na vida pessoal como no campo das idéias, como aquela expressa no ensaio “Os judeus na música”, no qual ataca veementemente os compositores Felix Mendelssohn e Giacomo Meyerbeer, somente porque ambos eram de origem judaica.

ANTON BRUCKNER (Ansfelden, 1824 - Viena, 1896)
Sinfonia nº 7 (Lírica)
Diz-se que Anton Bruckner, de caráter tímido e inseguro, sempre duvidava do valor de suas composições. Esta sensação provavelmente era amplificada pelo ambiente de Viena, onde imperavam, por um lado as alegres valsas e operetas de Johann Strauss Filho, e por outro a música austera de Johannes Brahms.
Apesar de ser assumido o importante cargo de professor do Conservatório de Viena, nunca deixou de ser o homem humilde de origem camponesa, que, imbuído de profunda devoção religiosa, permaneceu durante anos morando em um convento, onde se dedicou ao estudo do órgão. Quando tinha por volta de quarenta anos, entrou em contato com obras de Wagner, primeiramente Tannhäuser e depois Tristão e Isolda, e com isso seu horizonte musical se ampliou de tal maneira que passa a ser um adepto incondicional das técnicas wagnerianas de composição, surgindo daí obras densas como as missas em Ré Menor e em Fá menor e a Sinfonia nº 1.


Das nove sinfonias que escreveu (dez, se contarmos a chamada Sinfonia nº 0), a Sétima, escrita entre 1881-1883, é a mais conhecida e foi dedicada ao rei da Baviera, Ludwig II, o patrono de Wagner. Esta sinfonia é por vezes intitulada “Lírica”, título que não foi dado pelo compositor e nem sempre é utilizado.  A estréia em 1884 representou o maior triunfo da carreira de Bruckner.
Quando começou a escrevê-la, Bruckner sabia que a morte de Wagner era iminente e dedicou a ele o segundo movimento, Adágio. Referências a este compositor são evidentes nesta sinfonia, como a inclusão de quatro tubas wagnerianas e a utilização de diversas técnicas desse compositor. Bruckner teria escrito um estrondo de címbalo no exato momento do passamento de Wagner, mas decidiu retirar esse artifício, que foi incluído na Sinfonia nº 8. Apesar disso, a Sétima é freqüentemente executada com o címbalo.


A possibilidade de duas interpretações da mesma obra deve-se ao fato de que Bruckner fazia revisões de suas partituras sempre que havia críticas desfavoráveis, colocando problemas para a sua execução futura. Como fator complicador, sabe-se que nem todas essas alterações eram produzidas diretamente por ele, embora se acredite que muitas delas foram realizadas por recomendação sua.
O único manuscrito sobrevivente da Sinfonia nº 7 é autógrafo, mas há inúmeras revisões na partitura; partes do original de 1883 foram apagadas e sobre eles foram colados papéis com passagens diferentes. O autógrafo tem ainda muitos acréscimos realizados por terceiros, talvez a pedido do próprio compositor, especialmente no primeiro e quarto movimentos. Dentro desse panorama, está claro que a forma exata da primeira versão foi praticamente perdida. Atualmente existem duas versões, uma de Robert Haas e outra de Leopold Nowak, ambas com diferenças marcantes entre si.


As palavras abaixo, retiradas de uma carta que Bruckner enviou a um amigo, revelam que sua relação com a música extrapolava o ato da composição musical em si. Referindo-se aos que criticavam sua obra, escreveu: “Eles querem que eu escreva diferentemente. Certamente eu poderia fazer isso, mas não devo. Deus me escolheu entre milhares e deu-me, entre todas as pessoas, este talento. É a Ele que eu tenho que dar conta. Como então poderia eu me colocar à frente de Deus Todo-poderoso, e seguir e seguir a outros que não Ele?”

Lenita W. M. Nogueira


DICIONÁRIO MUSICAL
Tuba wagneriana: instrumento pouco utilizado que combina elementos da trompa e da tuba. Foi originalmente criada por Richard Wagner para o ciclo O anel dos Nibelungos. Desde então alguns compositores tem escrito obras que a incluem, como Bruckner, Richard Strauss, Igor Stravinsky, Béla Bartók, Arnold Schoenberg e Edgard Varèse.

Meyerbeer, Giacomo [Jakob Liebmann], (Vogelsdorf, 1791-Paris, 1864). Compositor alemão de origem judaica que, a partir de 1825, passa a viver em Paris conquistando fama semelhante à de Gioacchino Rossini. Entre suas óperas mais conhecidas destacam-se Robert le diable (1831) e Les Huguenots (1836), Le Prophete (1849) e L’Africaine, que foi apresentada postumamente em 1865.

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