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Entrevista com o Maestro Parcival Módolo

28/04/2008

UM MAESTRO NO COMANDO DO ESPETÁCULO - ENTREVISTA

“Quero atingir todos os públicos e abrir os horizontes da platéia para novas possibilidades”  Parcival Módolo

Desde dezembro de 2007 a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC) está sob nova regência; o Maestro Parcival Módolo assumiu definitivamente a casa com novas propostas e muito trabalho pela frente. Entre seus objetivos: estabelecer uma identidade sonora para a orquestra e atrair a atenção dos mais diversos tipos de público.

Paulista de Americana, Parcival aprendeu música inicialmente com a família, em um processo de aprendizado tão natural que foi absorvido aos poucos por ele; acabou se transformando em um profissional renomado, com um extenso currículo e atuações consagradas como Regente Titular e como convidado em orquestras de todo o Brasil e do exterior. Obteve mestrado com especialização em música barroca (séculos XVII e XVIII), em Westfälische Landeskirchenmusikschule, Alemanha, onde regeu várias orquestras como maestro convidado e tornou-se titular da Orquestra de Sunden, Westfalia. Também lecionou na University of San Diego, Califórnia, local em que recebeu bolsa de estudos para o seu doutorado na University of Southern California, em Los Angeles.

Atualmente, além de Regente Titular e Diretor Artístico da OSMC é coordenador Geral da Divisão de Arte e Cultura do Instituto Mackenzie, em São Paulo, membro da ACDA (American Choral Directors Association), consultor oficial do Festival Internacional de Música de Cusco e coordenador do Bacharelado em Música Sacra do JMC, onde também leciona Regência, Harmonia, Contraponto, Baixo-Cifrado e História da Música.

Em Campinas, Módolo atuou como regente convidado em inúmeras apresentações e agora, no comando do espetáculo, prepara sua equipe em ensaios diários para atingir suas metas. Moderno e inovador, criou um canal para abordar e se aproximar do público, conversando com ele; lançou no website da orquestra um espaço chamado Fale com o Maestro, onde os internautas fazem seus questionamentos e interagem cada vez mais com a orquestra, com o maestro e sua atuação. Em entrevista especial para o Boletim Informativo Notas Musicais, Parcival fala mais sobre sua carreira e sua atuação na OSMC; acompanhe a seguir.

Notas Musicais - A partir de que idade começou a se interessar por música? Como aconteceu esse processo? Conte-nos sobre o início de sua carreira.

Parcival Módolo – Em minha família a música é algo muito presente. É como se fosse uma linguagem familiar. E, com o passar dos anos, fui absorvendo o que me era passado. Não é muito claro o início desse aprendizado, mas sei que foi muito cedo. Aprendi música meio que por inércia. Primeiro o piano com uns cinco ou seis anos, depois a teoria musical e assim, fui passando de fase.

Antes mesmo de completar 15 anos já comecei a reger coros; mais tarde, lá pelos 17 anos, passei a conduzir uma pequena orquestra. Nessa época, em que regia alguns grupos improvisados, entrei na Faculdade de Música de São Paulo e antes de terminar a faculdade ganhei uma bolsa para estudar na Alemanha. Lá comecei a trabalhar com grupos mais expressivos e experientes. Foi nesse período que decidi que não faria outra coisa da vida.

Notas Musicais - Qual seu compositor favorito?

Parcival Módolo - É muito difícil dizer, escolher, apontar um favorito. Digo sempre que meu favorito é aquele que estou ensaiando no momento. Mas gosto muito de música barroca, que inclusive, foi o tema da minha especialização.

Notas Musicais - Que obra da música erudita é a sua favorita? Por quê?

Parcival Módolo - Existem obras belíssimas, compositores magníficos... Mas com toda certeza minha obra preferida é sempre a que estou ensaiando para o próximo concerto!

Notas Musicais - Quais suas atuais atividades, na OSMC e fora dela? Planeja como Diretor e Regente Titular da OSMC desenvolver algum tipo de trabalho social relacionado à música?

Parcival Módolo - Desde que assumi a titularidade da OSMC cabe-me reger cerca de metade dos concertos previstos – 40 peças para 2008, organizar a vida musical da orquestra, decidir o repertório que será adotado durante o ano e, também para os próximos anos, escolher os maestros que serão convidados, além de participar de compromissos externos, encontros, reuniões, projetos, e dos processos administrativos que cercam todo o trabalho.

Outro ponto que gostaria de salientar é a atuação da Orquestra junto à comunidade. Somos convidados a nos apresentar fora dos palcos do teatro, em escolas, praças e eventos especiais. Também oferecemos o projeto Concertos Didáticos – que traz crianças das escolas públicas da Região para assistir a apresentações especialmente desenvolvidas para elas.

Por conta desses compromissos tenho ficado ficar quase todo o tempo aqui na Sinfônica.

Notas Musicais - Quais seus objetivos à frente da orquestra para 2008? Como pretende alcançar esses resultados?

Parcival Módolo - Assumi a titularidade da orquestra em dezembro de 2007. Portanto, 2008 será um ano transitório. As atividades de uma Orquestra Sinfônica devem ser planejadas com muita antecedência e muitas das quais já estamos desenvolvendo foram delineadas bem antes da minha chegada. Entretanto, algumas ações foram reestruturadas e adequadas à nova regência. Para 2009, a direção artística da Orquestra Sinfônica já começa a propor mais e novos projetos, com novos repertórios e programas que agradem a orquestra, mas também ao público para os quais as apresentações são direcionadas. Será preciso mesclar as coisas para atingir a todos os públicos.

Notas Musicais - O que o senhor espera do “Fale com o Maestro” – Sua iniciativa de disponibilizar um espaço no website da Orquestra para que os internautas tenham um relacionamento mais próximo com o seu trabalho?

Parcival Módolo - Tive essa idéia para provocar o público a conversar comigo. Quero trazê-los a mim falando, expondo e quebrando definitivamente a barreira de arrogância que muitas vezes a música erudita sugere. E para isso tenho proposto algumas mudanças. Essa foi uma delas.

A outra foi trazer uma réplica dos concertos apresentados aos sábados à noite para os domingos pela manhã. O mesmo repertório, mas com uma descontração maior – percebi que essa é uma grande necessidade no Brasil.

Quero fazer uma ponte entre o público e a obra erudita e levar a ele uma nova forma de apreciar arte. Quero aproximar as pessoas da música erudita e ampliar seus horizontes. Mostrar ao público que ela é mais uma forma de arte e que o ser humano ideal é amplo, é completo e consegue absorver e apreciar diversas formas culturais.

O fato de alguém gostar de música popular, por exemplo, não exclui a possibilidade dele também apreciar a música erudita. Ou não! Ele pode até não gostar de música erudita, mas para definir isso é preciso que primeiro se abra a novas possibilidades e ouça a orquestra tocar para depois definir se gosta ou não.

Notas Musicais - O que pensa sobre a execução da Música Popular Brasileira no âmbito da orquestra?

Parcival Módolo - A execução de obras populares é possível e talvez façamos apresentações nesse sentido. Entretanto, em minha opinião não vejo essa ação como uma maneira de popularizar a atuação da orquestra, mas sim de sofisticar a execução da MPB. O público deve gostar da orquestra pelo que ela é, e pelo que ela apresenta em seus programas. Devemos levar sua programação aos mais diferentes públicos e apresenta-las de forma que atinja a platéia e se popularize. Vamos tocar MPB, mas não com essa finalidade.

Notas Musicais - De que maneira, em sua avaliação, o público campineiro tem se manifestado em suas apresentações? Como tem sido a receptividade/interação do público ao novo Regente Titular da Sinfônica?

Parcival Módolo - Campinas tem um público apreciador de música, que acompanha a vida da Orquestra e se orgulha dela. O concerto de lançamento da temporada 2008 teve casa cheia; dezenas de pessoas ficaram do lado de fora. Não conseguiram entrar para ouvir a orquestra. Fui muito bem recebido por todos: Prefeitura Municipal, Administração da Orquestra, pelos músicos e também pelo público campineiro.

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