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Cortina Lírica - Condor

28/08/2008

Carlos Gomes (Campinas, 1836 - Belém do Pará, 1896)

A ópera Condor apresenta duas peculiaridades frente ao resto da produção de Carlos Gomes. Em primeiro lugar, esta foi sua última ópera. Depois dela, a única composição de vulto de Carlos Gomes foi Colombo, que não é uma ópera e sim um poema vocal-sinfônico. A segunda peculiaridade que destaca essa obra é que ela foi a única encomenda que Carlos Gomes recebeu durante toda a sua carreira. Por volta de 1890, Carlos Gomes, além de já sentir os sintomas da doença que o mataria em poucos anos, vivia um péssimo momento financeiro. Após uma série de percalços, sua ópera anterior, Lo Schiavo, foi representada no Rio de Janeiro em 1889, mas, por problemas judiciais, nunca conseguiu que ela fosse encenada na Itália. Assim, o convite dos empresários Cesare e Enrico Corti, que representavam a editora Sonzogno na temporada 1890-91 do Teatro alla Scala de Milão, trouxe, além dos ganhos financeiros, um novo alento, já que era uma oportunidade única de retornar àquele teatro, então a casa de ópera mais importante da Europa e onde havia estreado Il Guarany em 1870.

Acredita-se que Gomes tenha recebido o libreto pronto e não pôde interferir na sua escolha. O autor é um certo Mario Canti, cujas origens são até hoje desconhecidas. Vários pesquisadores procuraram em vão descobrir quem seria essa pessoa e chegou-se a especular que seria um codinome do próprio Gomes, o que é improvável, pois ele não dominava tão bem o italiano a ponto de escrever um texto poético.

Após a encomenda, Gomes não teve mais que cinco meses para compor a ópera, que estreou no Teatro alla Scala no dia 21 de fevereiro de 1891. O enredo se desenvolve no século XVII em Samarcanda, uma das cidades mais antigas do mundo, situada na atual região do Uzbequistão, próxima à fronteira com o Afeganistão. Devido à sua beleza era conhecida como a Roma do Leste ou a Perola do Oriente. Governada pela rainha Odaléa, via-se acossada por um grupo de bandoleiros conhecido como Horda Negra, liderados pelo rebelde Condor. Este se apaixona perdidamente pela rainha, que também se apaixona por ele e este amor, condenado pelas leis de Samarcanda, acaba por levar Condor ao suicídio.

A ópera, em três atos, se inicia com um Prelúdio, no qual vários elementos constitutivos da ópera são apresentados. O primeiro ato acontece nos jardins reservados de Odaléa e na primeira cena aparece Adin, o pagem da rainha, que embora seja um rapaz, é cantado por um soprano. Esta personagem atua na ópera como um comentador dos acontecimentos. Neste primeiro ato, Condor invade o castelo da rainha para declarar o seu amor, causando a ira do povo e do astrólogo da corte, Almazor. Entretanto, Odaléa, para espanto de todos, não o condena à morte, como seria usual.

Já o segundo ato se passa em frente à Mesquita de Omar, onde o povo demonstra sua ira contra as atitudes da rainha. Na cena II surge Zuleida, a mãe de Condor, que tenta chamar o filho à razão contra este insensato amor. Na seqüência, a comitiva de Odaléa é atacada por bandoleiros, mas é salva por um corajoso e incógnito cavaleiro. Ao fim do ato, este se revela ser Condor e a rainha o promove a emir da corte, o que aumenta ainda mais o furor dos sacerdotes e do povo. O terceiro e último ato, inicia-se com o Noturno, um dos trechos mais conhecidos desta ópera. A ação se passa no quiosque real, diante de um lago iluminado pela luz da lua e ao longe se vê a cidade. A primeira peça é o conhecido Monólogo de Odaléa, uma ária, na qual ela reflete sobre seu amor impossível por Condor. Em seguida ele surge e Odalea, não mais resistindo, revela o intenso amor que lhe devota. Condor fica extasiado por, finalmente, ser correspondido e sugere à Odaléa que fujam. Mas é tarde, a rainha mostra a cidade, onde a rebelião se instalou, em chamas. Em pouco tempo chegam os revoltosos para vingar o sacrilégio de Condor. Este, compreendendo que só a sua morte poderia salvar sua amada rainha, suicida-se com um golpe de punhal. O povo recua apavorado enquanto Odaléa mostra o corpo exânime de Condor e diz: agora, Bárbaros, despedacem também meu coração!

Lenita W. M. Nogueira

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