Nascida para tocar

Não teve jeito: mesmo pulando a janela da sala, só para não ter aulas de violoncelo com um professor italiano que tomava umas e outras antes de lecionar, Lara Ziggiatti Monteiro nunca abafou a paixão pelo instrumento. “Meu pavor era com o professor. Além de ir arrastada para a aula, trancavam a porta só para eu não fugir”, lembra. Hoje, o violoncelo é seu grande confidente. Sabe de boa parte de sua vida: o nascimento numa família de pessoas engajadas na arte (é filha de Léa Ziggiatti, que está ligada ao Conservatório Carlos Gomes há mais de 40 anos), o começo nos acordes com uma flauta doce, a escolha pelo piano clássico e, por falta de um, a primeira participação numa orquestra que era desprovida de um violoncelista. "Minha mãe me fez estudar só para tocar nas apresentações". A primeira canção que entoou no instrumento de cordas, que faz questão de cantarolar a quem pergunta, foi Berceuse, de Schubert.

Na juventude, às vésperas de se formar em piano clássico pela Unicamp, incentivada pelo professor Fred Barreto, abandonou o teclado em busca das cordas. Retomou os estudos e foi convidada a participar da Orquestra Sinfônica da Unicamp, da qual é integrante até hoje. Adorou trocar a solidão como pianista pela integração proporcionada pelo violoncelo com outros instrumentos nas orquestras . "Gostei da bagunça", reconhece. Ao lado de colegas da música, fundou um quarteto, o Darcos, que percorreu vários Estados do Brasil, bem como países, entre eles Estados Unidos, México e Argentina, levando música de câmara ao espectador. "Fomos o primeiro quarteto a gravar Burrico de Pau, de Carlos Gomes", diz. Em 2002, após um concurso, entrou para a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. Dois anos depois, passou a atuar como primeiro violoncelo. Se já pensou em abandonar os trilhos da artes, responde com convicção: "Desde que nasci vivo da música. Não saberia fazer outra coisa".