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Radamés Gnattali é homenageado no Concerto Oficial deste final de semana

31/07/2006

CONCERTO OFICIAL - 05 e 06 de agosto

Radamés Gnattali  [Biografia e Discografia]

 

“Radamés é o pai musical de muita gente.” Assim Tom Jobim referiu-se a Radamés Gnatalli (Porto Alegre, 1906-Rio de Janeiro, 1988), um músico que transitou com desenvoltura entre a música erudita e a popular. Sua produção em ambos os campos é bastante vasta e calcula-se que tenha escrito cerca de 6.000 arranjos, entre eles alguns memoráveis como o de Aquarela do Brasil de Ary Barroso, canção que é até mais conhecida pela sua introdução, e Carinhoso de Pixinguinha. Também escreveu música para mais de cinqüenta filmes, entre eles alguns clássicos da cinema brasileiro como Ganga Bruta de Humberto Mauro (1933), Rio 40 graus de Nelson Pereira dos Santos (1955),  A falecida (1965) e Eles não usam black-tie (1981, direção musical), ambos de Leon Hirszman. A música de Radamés também embalou a infância de muita gente, já que ele era responsável pela orquestração da série “Disquinho”, que durante muitos anos apresentou gravações de histórias clássicas, como Branca de Neve e os sete anões, Chapeuzinho Vermelho, A formiguinha e a neve, História da Baratinha, Festa no céu ou A cigarra e a formiga.

Durante treze anos trabalhou no programa da Rádio Nacional intitulado “Um milhão de melodias", para o qual chegava a fazer nove arranjos por semana. A orquestra dessa emissora, criada por ele nessa ocasião, propiciou enormes avanços para a música brasileira, já que estabeleceu um novo padrão de orquestração ao privilegiar as características da música brasileira em vez de utilizar a formação americana de base jazzística que se usava na época.
Trabalhou também como maestro e arranjador na TV Excelsior de 1963 a 1967 e a partir daí até 1986 na TV Globo, quando criou, entre outras, a música incidental da novela Roque Santeiro.

Apesar da produção primorosa e caudalosa na música popular, Radamés afirmou: “amo a música popular, mas se pudesse trabalharia somente sobre a música erudita”. Neste campo deixou também uma grande quantidade de obras memoráveis como a série Brasilianas,  sinfonias, concertos e peças instrumentais para as formações mais diversas, para instrumentos solistas e canções. Entretanto, apesar de sua adesão incondicional à música brasileira, nunca abriu mão de seu estilo pessoal no qual se observam influências de Debussy e do jazz.
É interessante notar duas características de sua obra: a primeira é que gostava de compor para formações insólitas, aliando instrumentos mais afetos à música popular às orquestras tradicionais; a segunda é que, como disse certa vez, sempre escrevia música para os amigos. Dessa conjunção de fatores surgiram obras memoráveis como Concertos para Harmônica de Boca e Orquestra, dedicado a Edu da Gaita, para Acordeom e Orquestra, dedicado a Chiquinho do Acordeom, para Violão e Orquestra, dedicado a Aníbal Sardinha (Garoto) e a suíte Retratos para Bandolim e Orquestra, dedicada a Jacob do Bandolim, entre outras.

Divertimento para Marimba e Cordas
O “Divertimento para Marimbafone e Orquestra de Cordas”, também conhecido como “Concerto para Marimba e Orquestra de Cordas”, foi a primeira composição erudita para este instrumento escrita no Brasil. A première ocorreu no Rio de Janeiro em 1977 tendo como solista o percussionista Luiz D’Anunciação, colega de trabalho de Radamés na TV Globo, a quem a peça foi dedicada.
Em sua tese de mestrado, o percussionista Fernando Hashimoto relata que, pela falta de repertório para seu instrumento, D’Anunciação estava fazendo a transcrição do Moto Contínuo de Radamés para marimba, quando o compositor revelou que gostaria de compor uma peça para este instrumento, mas não o conhecia muito bem. Anunciação sugeriu a ele que pensasse na marimba como um piano tocado com quatro dedos. Assim foi feito e este Divertimento, estruturado em um movimento contínuo dividido em três seções, seguindo o padrão rápido-lento-rápido, tem uma escrita algo pianística. É uma composição de grande exigência técnica do solista e tem algumas passagens virtuosísticas, incluindo a cadenza escrita por D’Anunciação, que serve de ligação entre a primeira e a segunda seções.

Concerto para Viola e Cordas
Esta peça foi composta em 1967 e dedicada ao violista húngaro radicado no Brasil Perez Dworecki, que inclusive a executou na única gravação disponível até hoje. A estréia ocorreu no Rio de Janeiro no programa da Rádio MEC transmitido pela TV Globo, Concertos para a Juventude, tendo como solista o próprio Dworecki, sob a regência de Radamés.
Considerado um dos mais importantes concertos para viola do repertório brasileiro, é estruturado em três movimentos e tem características neoclásssicas, isto é, busca inspiração nas formas do passado. No primeiro movimento dois temas principais são trabalhados em imitações, o segundo traz a indicação “Saudoso” e inicia-se com um solo de viola de atmosfera melancólica e o terceiro, o mais difícil tecnicamente, é uma espécie de Scherzo de ritmo bastante agitado.
 
Suíte para quinteto de sopros
Esta peça foi composta especialmente para o Quinteto Villa-Lobos, que a estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 19 de novembro de 1973. Naquela época o quinteto, formado por Carlos Ratto, flauta, Brás Limoge, oboé, Gonzaga Carneiro, clarineta, Carlos Gomes, trompa, e Aílton Barbosa, fagote, realizou uma tournée pela América Latina patrocinada pelo Itamaraty, sendo esta peça o carro-chefe do repertório. Seguindo a regra de que uma suíte é uma série de peças autônomas, após um pequeno Prelúdio, Radamés introduz gêneros característicos da música popular brasileira: Valsa, Modinha, Choro, seguidos por um Final.

Sonatina a 6
Radamés iniciou sua carreira musical como pianista e seu desejo, quando jovem, era tornar-se concertista. Talvez por isso nota-se nessa peça uma certa predominância do piano, que por vezes atua como um instrumento concertante. Dividida em três movimentos , Allegro Moderato, Saudoso e Ritmado, esta Sonatina, embora tenha no geral um estilo neoclássico, introduz, em seu último movimento, o universo musical do nordeste brasileiro.

Divertimento para quinteto de sopros, piano e cordas
Na capa da partitura autógrafa desta peça Radamés anotou “Divertimento para fl, oboé, cl, fg, trompa e piano com orq. de cordas”; mais abaixo encontramos a data e o local: Rio de Janeiro, 1974. Já internamente o compositor reforçou a idéia inicial, havia escrito no título “Concerto p. 6to e orq. de cordas”, mas a palavra “concerto” foi riscada e substituída por “Divertimento”, dando um caráter menos formal à sua composição. Analisando a partitura, ressalta a caligrafia musical algo relaxada, mas de uma fluência que demonstra com que facilidade a música brotava da mente do compositor.
Evidenciando que não se trata mesmo de um concerto, a peça tem apenas um movimento contínuo, que incorpora algumas mudanças de andamento. Com poucas características nacionalistas, este Divertimento está mais próximo à linguagem do jazz, tanto no que se refere à harmonia como ao ritmo.

Lenita W. M. Nogueira

Dicionário musical:

Divertimento: Forma musical de caráter mais leve para pequenos grupos instrumentais, proeminente no período clássico, muito utilizada por Mozart e Haydn. No século XX, o gênero foi revisitado por compositores como Bela Bartók, Ferrucio Busoni e Igor Stravinsky.
Sonatina: Uma sonata breve; floresceu na era clássica tardia, tendo sido revivida no século XX por Ravel, Busoni e outros.
Suíte: Conjunto de peças instrumentais dispostas ordenadamente e destinadas a serem executadas numa audição ininterrupta.

Homenagem

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