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Sinfônica volta a se apresentar no Centro de Convivência neste final de semana

05/10/2006

                                         

 

 

CONCERTO OFICIAL 07 out - sáb e 08 out - dom

 

 

As Obras 

  

Wolfgang Amadeus Mozart (Salzburgo, 1756-Viena, 1791)

Divertimento nº 1 em Ré maior, K. 136

Não se sabe exatamente em que circunstância essa obra foi escrita, mas isso aconteceu nos primeiros meses de 1772, quando Mozart estava de volta à cidade natal, Salzburgo, após sua segunda viagem à Itália. Este foi um período de grande fertilidade, quando Mozart, então com dezesseis anos, escreveu também os Divertimentos K.137 e 138. Embora tenha composto essas peças para quarteto de cordas, sua textura se presta com perfeição para execução por orquestra  de cordas.

Durante o período clássico, no qual Mozart está historicamente inserido, Divertimento implicava em uma obra de caráter leve e para entretenimento, com diversos movimentos e que deveria incluir ao menos um minueto. Mas neste Divertimento K. 136 Mozart, talvez influenciado por sua estadia na Itália, fugiu desse padrão e a obra assemelha-se a uma sinfonia de estilo italiano, estruturada em três movimentos, rápido-lento-rápido.

O primeiro movimento, Allegro, tem uma movimentação rítmica envolvente e um considerável diálogo entre os violinos, exigindo bastante virtuosidade dos músicos. O Andante é sereno e reflexivo e a melodia continua a manter a luminosidade do movimento anterior. O terceiro, Presto, é cheio de humor e nele são trabalhados temas já expostos nos movimentos anteriores, mas elaborados de forma contrapontística, contrastando temas em staccato e legato, este relembrando o tema principal do primeiro movimento.

 

BÉla BartÓk (Nagyszentmiklós, Transilvânia,  1881-Nova York, 1945)

Divertimento para cordas

Se Divertimento é definido como uma peça de caráter leve e para entretenimento, então este Divertimento para Orquestra de Cordas de Bartók é na verdade uma farsa, um jogo de máscaras que busca disfarçar a profunda angústia que dominava o compositor às vésperas da II Guerra Mundial.

Ao criar uma música de aparência serena quando seu desejo era gritar, lembra bem o estilo de Mozart, que enchia suas composições de temas leves e delicados, disfarçando as agruras de sua vida. Nesta peça Bartók se volta em direção ao passado, fazendo talvez uma derradeira homenagem à velha Europa que conhecera, cujo rico folclore tanto o encantara e que via, impotente, esboroar-se a seus pés.

O ano era 1939, a eclosão da guerra era iminente e Bartók sabia que, uma vez iniciado o conflito, o exíli0 fatalmente seria o seu destino. Retardou sua partida devido à doença da mãe, a quem adorava. Tudo lhe parecia perdido, seus trabalhos, pesquisas e mesmo sua fé na Europa, quando recebeu um convite do regente Paul Sacher para que se hospedasse em uma propriedade nas montanhas nos arredores de Berna.

Recolhido naquele refúgio de paz durante quinze dias, compôs, por encomenda de Sacher, o Divertimento para Cordas, no qual seguiu à sua maneira a tendência neoclássica de retorno ao passado, mas evitou a repetição de antigas fórmulas, compondo uma música mais livre, onde a impressão é de improvisação, um parêntese idílico ao horror que se aproximava. Ou como disse o compositor “ainda um minuto de felicidade!”

A peça estreou em 11 de julho de 194o, com Sacher à frente da Orquestra de Câmara da Basiléia, a quem a obra é dedicada. Nela Bartók misturou diversas fontes, desde a música barroca até as canções folclóricas que nunca mais ouviria. Tem três movimentos, sendo o primeiro deles, Allegro non troppo, de inspiração magiar e utiliza escala pentatônica. Seu caráter é bastante dinâmico devido à utilização de ritmos quebrados, síncopes apoiadas e mudanças de tempo.

No segundo movimento, Adagio, Bartók parece falar da dor dos tempos com simplicidade que confunde o ouvinte, utilizando um tema breve tratado cromaticamente, retratando um mundo sem saída ou um grito de desespero.

O último movimento, um Allegro em forma de rondó, é frenético e colorido e, apesar da elevação súbita de angústia, é uma corrida, não para o abismo, mas para a vida. O primeiro tema é uma bourrée que Bartók tomou emprestado de seu Mikrokosmos e se desenvolve em um fugato alegremente animado. Já o segundo tema é de caráter mais grave, até mesmo elegíaco e apresenta uma cadência virtuosística para violino à maneira cigana. O ímpeto da vida surge novamente numa espécie de turbilhão cheio de fantasias e alguns compassos em pizzicato precedem o final Vivacissimo.

Após terminar essa composição, Bartók se deixa tomar pelo desespero do Sexto Quarteto para Cordas. Fica na Hungria até terminar essa obra sufocante e parte para o exílio definitivo nos Estados Unidos, não sem antes comentar: “Esta despedida é dura, infinitamente dura”.

 

PIOTR IlYich TchaikoVsky (Kamsko-Votkinsky, 1840-São Petersburgo, 1893)

Serenata em Dó, op. 48, para cordas

“Minha musa tem sido tão bondosa que em pouco tempo eu tenho duas obras: uma grande ouverture festival e uma serenata para cordas em quatro movimentos. Estou ocupado escrevendo ambas.” Tchaikovsky escreveu assim em carta enviada à sua mecenas, Nadezhda von Meck (cuja condição para patrociná-lo era que jamais se encontrassem) em 1880. A primeira peça a que se refere é a Abertura 1812 e escreveu: “será muito exibida e barulhenta, mas eu não tenho mérito artístico porque a escrevi sem calor e sem amor. Mas a Serenata, ao contrário, eu escrevi com uma compulsão íntima. Esta é uma peça do coração (...) Eu estou violentamente apaixonado!”

A Serenata para Cordas estreou em São Petersburgo em 1811, uma época feliz na vida de Tchaikovsky, pois com a ajuda de von Meck mais o que recebia por suas obras, podia se dar ao luxo de dedicar-se exclusivamente à composição. A peça foi escrita em quatro movimentos relacionados entre si através de conexões motívicas baseadas em escalas ascendentes e descendentes.

No primeiro movimento, Peça em forma de sonatina: Andante non troppo-Allegro Moderato, o compositor faz uma homenagem a Mozart,  a quem se referia como “o Cristo da música”, abrindo e fechando o movimento com um tema denso, que contrasta com o Allegro moderato, onde um tema simples é desenvolvido numa passagem em escalas.

Como um dos maiores compositores de valsas de seu tempo, Tchaikovsky apresenta no segundo movimento Valsa: Moderato, uma das mais  encantadoras e memoráveis, com uma escrita muito próxima à de seus balés, talvez um paralelo oitocentista aos minuetos das serenatas de Mozart. A valsa termina em um delicado pianíssimo conduzindo a Elegia: Larghetto elegiaco, construída, como os movimentos anteriores, em passagens de escalas. Uma melodia  folclórica é sustentada pela cordas graves e embora Elegia tenha por definição uma conotação de lamento, esta é mais reflexiva que sombria.

Já o movimento final, Tema Russo: Andante-Allegro com spirito, contrapõe duas canções folclóricas recolhidas pelo compositor Mily Balakirev: a primeira, A kak po lugu, uma canção lenta do rio Volga, serve de introdução à Pod yablonyu zelyonoyu, canção bastante animada do distrito de Kolomna, uma espécie de balalaica com apoio em pizzicato. Com a reaparição do tema da abertura, a peça se conclui de forma vigorosa.

Embora o resultado sonoro da obra não esteja próximo da música de Mozart, Tchaikovsky quis dar um caráter clássico em forma e espírito, especialmente na afirmação do tema do primeiro movimento, que é retomado no final. Mas essa era sua homenagem à Mozart e segundo Tchaikovsky “deve ser entendida como uma imitação de seu estilo e eu posso me deliciar se pensar que por algum meio me aproximei de meu modelo.”

Lenita W. M. Nogueira

 

Dicionário

Bourrée. Dança francesa em compasso binário rápido, popular nos séculos XVII e XVIII.

Legato. Indica que as notas devem ser ligadas, sem interrupção perceptível.

Mykrokosmos. Coletânea para piano em seis volumes, onde Bartók, de maneira progressiva, introduz diversos procedimentos da música contemporânea.

Pentatônica. Escala de cinco notas.

Pizzicato. Indica que as notas de um instrumento de corda devem ser beliscadas com a ponta dos dedos.

Rondó. Forma musical em que o primeiro tema retorna entre as demais seções.   

Serenata. Composição vocal ou instrumental, dedicada a obsequiar uma pessoa.

Staccato. Indica que as notas devem soar separadamente, sem afetar o ritmo.

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