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Autores e Obras

07/05/2011

 

WOLFGANG AMADEUS MOZART (Salzburgo, 1756-Viena, 1791)
A Flauta Mágica – Abertura KV 620
A morte precoce de Mozart aos 35 anos nunca foi esclarecida, mas várias hipóteses foram levantadas, desde envenenamento pelo rival Salieri (hoje descartada) até febre reumática. Entretanto, pesquisas recentes atribuem sua morte a uma doença decorrente de um surto epidêmico que ocorreu em Viena.
Se aquele ano de 1791 não acabou para ele, que faleceu no dia cinco de dezembro, sua produção musical foi brilhante: compôs várias obras, entre as quais as óperas La clemenza di Tito (para a coroação de Leopold II como rei da Boêmia) e A flauta mágica (um singspiel, gênero de ópera germânica que envolve fala e canto) e parte do Requiem, que deixou incompleto.
 
Acredita-se que o empresário e ator Emanuel Schikaneder tenha apresentado a Mozart, por volta de 1789, um libreto que estava adaptando a partir do conto Lulu oder Die Zauberflöte. Devido às dificuldades financeiras em que vivia, Mozart assumiu o projeto, embora já tivesse recebido a encomenda para escrever La clemenza di Tito. A composição, que começou em julho de 1791, foi interrompida para que o compositor terminasse e participasse dos ensaios da Clemenza, mas mesmo assim concluiu rapidamente A Flauta Mágica, que estreou no dia 30 de setembro, apenas dois dias após a conclusão da abertura.
 
Afirma-se que com A Flauta Mágica Mozart teria prestado um tributo à maçonaria, à qual tanto ele como Schikaneder eram ligados. De fato, símbolos maçônicos são recorrentes na obra e se manifestam já nas primeiras notas da abertura. As personagens também seriam alegorias maçônicas.
A abertura tem uma introdução lenta com acordes que atuam como uma espécie de convocação. No fim da exposição, já em movimento mais rápido, madeiras e metais tocam três acordes fortíssimos na ordem breve-longo-breve. Estes vão reaparecer no segundo ato da ópera entoado pelos sacerdotes e é a única referência que se faz aos temas da ópera na abertura. O primeiro motivo em Allegro, um fugato, foi emprestado de uma sonata para piano de Muzio Clementi (1752-1832).
 
FRANZ PETER SCHUBERT (Viena, 1797 – 1828)
Sinfonia n° 8 em si menor - Inacabada, D. 759
Protótipo do artista romântico desajustado e isolado, a vida de Schubert beirava a miséria e sempre recorria ao apoio financeiro de alguns amigos. Como muitos jovens artistas de sua geração, vivia cheio de conflitos no que considerava uma “realidade miserável” que ameaçava sua existência pessoal e artística. Muitas vezes passava suas noites em tabernas, onde esboçava composições em guardanapos, rodeado por diversas canecas de cerveja.
 
Em 1822, quando compôs a Sinfonia n° 8, contava 25 anos e estava no âmago desta grande crise existencial. Apesar da juventude, já havia escrito uma quantidade de obras superior àquela que muitos compositores levariam toda uma vida, mas praticamente nenhuma delas havia chegado ao público.
Há diversas especulações e nenhuma conclusão sobre a razão de esta sinfonia ser “inacabada”, ou seja, ter apenas dois movimentos e não quatro como era o padrão. Certamente não se deve à morte do compositor que ainda viveria seis anos, nem a um desejo de criar um novo tipo de sinfonia ou falta de inspiração, já que sua produtividade era intensa.
 
Em 1822 Schubert recebeu uma homenagem da Sociedade Musical de Graz e sentiu-se obrigado a escrever uma peça para a ocasião. O manuscrito de dois movimentos da sua oitava sinfonia foi entregue a um membro desta sociedade, Anselm Hüettenbrenner, que o reteve até 1865, quando mostrou ao maestro Johann Herbeck. Este ficou entusiasmado e apresentou a obra em Viena naquele mesmo ano, agregando a ela os dois movimentos finais da Sinfonia n° 3 de Schubert. O compositor Johannes Brahms ficou encantado com a obra: “Minha admiração por Schubert é muito séria, provavelmente porque não é fantasia passageira. (...) Para mim ele é como um filho dos deuses, que brinca com os raios de Júpiter, embora ocasionalmente os manipule de forma estranha. (...) Eu espero que agora estejamos aptos a falar sobre este eleito dos deuses.”
 
A hipótese de que posteriormente teria entregue a Hüettenbrenner os outros dois movimentos parece improvável. Talvez a resposta seja simples: a preocupação com outros trabalhos desviou sua atenção. O que existe efetivamente são dois movimentos completos e o esboço não orquestrado de um scherzo, que seria o terceiro movimento. Não há resquício de um possível quarto movimento. Alguns estudiosos supõem que este movimento poderia ter sido escrito e em uma emergência aproveitado em Rosamunda, peça que tem a mesma tonalidade e a mesma orquestração.
Seja qual for o caso, trata-se de uma obra única no repertório sinfônico, na qual o compositor expõe a intensidade de suas emoções e conflitos, os quais ele mesmo explicou quando escreveu: "Quando quero cantar amor, torna-se dor. E novamente, quando quero cantar a dor, ela torna-se amor. Assim amor e a dor me dividem”.
 
WOLFGANG AMADEUS MOZART (Salzburgo, 1756-Viena, 1791)
Sinfonia Nº. 38 em Ré Maior – Praga, KV 504
Cansado da vida provinciana de Salzburgo e com parcas possibilidades de prosperar ali, Mozart foi com a mãe para Paris. Passou algum tempo em Augsburg, terra natal de seu pai, e em Mannhein ficou alguns meses acompanhando a famosa orquestra local, que havia estabelecido padrões para a execução de música sinfônica. Seguiu para Paris, mas sua mãe veio a falecer ali, causando-lhe grande consternação, além de um enorme sentimento de culpa.
Retornou para Salzburgo e entrou em conflito com o poderoso arcebispo Hieronymus Von Colloredo. Descontente com essa situação, resolve abandonar definitivamente sua cidade natal, apesar de ter sido indicado para o disputado posto de mestre-de-capela em Salzburgo. Instalou-se em Viena para tentar a sorte como artista independente.
 
Pouco tempo depois se casou Contanze Weber, com quem compartilhou momentos de penúria até a estreia da ópera As bodas de Fígaro, que foi recebida com entusiasmo. Foi convidado a ir a Praga, onde já estivera com grande sucesso, para reger sua ópera. Acompanhado de alguns cantores, seguiu para lá em janeiro de 1778. Dois dias após dirigir uma apresentação da ópera, apresentou-se em um concerto no Teatro Nacional de Praga no dia 19 de janeiro. Nesta ocasião apresentou a Sinfonia n° 38, que havia completado em dezembro do ano anterior em Viena e que mais tarde seria batizada como Sinfonia Praga, além de tocar ao piano três fantasias e variações sobre a ária Non più andrai de As bodas de Fígaro.
 
Historicamente a Sinfonia Praga está situada entre duas óperas: As bodas de Fígaro e Don Giovanni e está impregnada deste gênero. Foi escrita em apenas três movimentos e, ao contrário do padrão, não apresenta um Minueto e Trio. Inicia-se com uma introdução lenta, Adagio, que termina em um Allegro, criando uma estrutura que se aproxima de suas óperas, no sentido em que drama e comédia se misturam. No segundo movimento, Andante, no qual são omitidos trompetes e percussão, há um delicado e cantante diálogo entre instrumentos de cordas e de sopros. No último movimento, Finale: Presto, trechos ágeis e brilhantes são é justapostos à música de grande profundidade. 
 
 
Lenita W. M. Nogueira
 

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