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Concerto Oficial 21 e 22 de outubro

10/07/2006

Roberto Tibiriçá e Arthur Moreira Lima são destaques no próximo Concerto Oficial

Tibiriçá é um dos mais respeitados e experientes regentes do país, e Moreira Lima representa um dos maiores talentos da música brasileira de sua geração, que além de acumular apresentações e prêmios em vários países, tornou-se um ícone da nossa música. Roberto Tibiriçá, novo regente titular da Orquestra Sinfônica de Campinas e o pianista, Arthur Moreira Lima são os grandes destaques dos concertos da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, que acontecem no dia 21, às 20h e no dia às 17 horas, no Centro de Convivência Cultural de Campinas.

A programação dos concertos que marcam a estréia oficial de Tibiriçá como novo Regente Titular da OSMC é voltada exclusivamente às obras de Piotr Ilych Tchaikovisky, um dos grandes nomes da musica que iniciou sua trajetória tocando piano. Desta forma, Valsa do Balé "Bela Adormecida", considerada uma das melhores obras do compositor russo abrem os concertos.

Em seguida, a orquestra campineira interpreta a clássica "Concerto nº 1 para Piano e Orquestra", obra que contará com a apresentação solo de Moreira Lima. Por fim, "Concerto para Orquestra" encerra as apresentações da Sinfônica. Os ingressos  custam R$ 50,00 podem ser obtidos com antecedência a partir da quarta-feira, dia 18. Estudantes e aposentados pagam meia-entrada. Informações: telefone (19) 3227.2730.  

Coquetel na Sala Carlos Gomes

 

 

O Regente | O Solista 

As Obras

PIOTR ILYICH TCHAIKOVSKY (Votkinsky, 1840-São Petersburgo, 1893)
Valsa do Balé A Bela Adormecida

Foi o diretor do Teatro Imperial em São Petersburgo, Ivan Vsevolozhky, quem sugeriu a Tchaikovsky em 1888 um balé baseado no conto de Charles Perrault, La belle au bois dormant. O coreógrafo Marius Petipa, chefe do balé daquele teatro, deu ao compositor instruções detalhadas de como deveria ser a música. Tchaikovsky seguiu rigidamente essas determinações e compôs o balé entre 1888 e 1889.
A première ocorreu no Teatro Mariinsky em São Petersburgo em janeiro de 1890 e sua recepção foi bem mais calorosa que seu balé anterior, O Lago dos Cisnes de 1877. Mas Tchaikovsky nunca iria saber o imenso sucesso que A bela adormecida alcançaria também fora da Rússia, uma vez que morreu em 1893.

Como um bom conto de fadas, o balé está baseado na luta do bem contra o mal. Este é representado pela fada má Carabosse, que não tendo sido convidada para a comemoração do nascimento da princesa Aurora, amaldiçoa a criança: ela morreria ao picar o dedo com um espinho envenenado. Mas a Fada Lilás, a força do bem, consegue mudar a maldição e a princesa, ao invés de morrer, fica adormecida até que, cem anos depois, o príncipe encantado, após superar os mais difíceis obstáculos a desperta com um beijo e ambos vivem felizes para sempre. O balé é dividido em um prólogo, onde acontece a maldição, e três atos, sendo que a Valsa aparece no início do primeiro, alegrando a festa pela celebração dos dezoito anos da princesa.

Concerto nº 1 para Piano e Orquestra em Si Bemol menor, op. 23
“Sem valor, impossível de tocar, os temas já foram usados antes… Há somente duas ou três páginas que podem ser salvas e o resto deve ser jogado fora!”

Tchaikovsky ficou bastante aborrecido quando seu mentor, mestre e amigo, o pianista Nikolai Rubinstein, disse essas palavras na véspera do natal de 1874, como “Zeus atirando raios”. Tratava-se de uma das mais respeitadas personalidades do mundo musical russo, criador do Conservatório de Moscou e um dos mais importantes pianistas e regentes de seu tempo. Rubinstein sugeriu uma série de modificações que tornasse o concerto menos “intocável”. Mas Tchaikovsky, bastante contrariado, disse que “não mudaria uma nota sequer”.

Dois meses depois chegou a Moscou o pianista e regente alemão Hans von Büllow que, ao contrário de Rubinstein, ficou entusiasmado com o concerto e acabou por receber a dedicatória antes reservada ao pianista russo. O concerto estreou com grande sucesso em Boston durante uma tournée de Büllow aos Estados Unidos em 1875. Rubinstein percebeu que havia sido excessivamente rígido com o compositor e incluiu a peça no seu repertório. Entretanto, o tempo viria a demonstrar que suas críticas não eram infundadas, pois anos depois Tchaikovsky acabou por realizar as modificações sugeridas.

A abertura da obra é grandiosa, construída sobre um tema majestoso que curiosamente, após chamadas de trompas e uma ascensão por acordes, desaparece da peça para não mais retornar. O motivo deste tema foi descrito por Tchaikovsky como uma melodia “cantada por cada mendigo cego na Pequena Rússia”, referindo-se à Ucrânia, onde costumava passar longas temporadas na casa da irmã. Dois temas são introduzidos em dupla exposição, sendo o primeiro o mais vigoroso e que reaparece para interromper o segundo, mais contido. O movimento termina com grande veemência tanto da orquestra como do solista.
O segundo movimento dá um descanso à grandiloqüência do anterior. Aqui flauta, oboé e viola apresentam solos em diálogo com ao piano em uma estrutura mais transparente. Há um pequeno Scherzo, cuja melodia é da canção francesa Il faut s’amuser, danser et rire (Devemos nos alegrar, dançar e rir). No final o tema do início é reapresentado com algumas modificações.

O primeiro tema do Allegro final é também baseado em uma melodia ucraniana “Viydi, viydi Ivanku” (Venha, venha Ivanku). Um segundo tema mais lírico é trabalhado em cima de uma linha virtuosística do piano. Os dois temas são trabalhados e encaminham para o vigoroso Finale de bravura.


Sinfonia n.4, op. 36, em Fá menor
No ano da composição dessa sinfonia, 1877, Tchaikovsky recebeu uma carta de amor de uma aluna, Antonina Ivanovna Milyukova, que dizia estar apaixonada e desejava desposá-lo. O casamento aconteceu precipitadamente e foi um dos maiores erros da vida do compositor. Um mês depois havia chegado ao desespero e resolveu tentar o suicídio entrando em um rio gelado e permanecendo ao relento com as roupas molhadas durante horas, numa tentativa frustrada de contrair pneumonia. A doença não veio e ele foi para a Ucrânia passar uns tempos na casa da irmã. Pediu o divórcio, que nunca foi concedido, embora nunca mais voltasse a morar com a esposa, que terminou seus dias em um hospício.
Mas 1877 foi também o ano em que Nadezhda von Meck tornou-se sua patronesse, além de amiga e confidente, com a condição de que nunca se encontrassem pessoalmente. É a ela que

Tchaikovsky revelava sentimentos e angústias e a quem dedicou a Sinfonia nº 4, a qual chamava de “a nossa sinfonia”. Isso porque acreditava que von Meck “poderia encontrar nela um eco de seus pensamentos e emoções mais íntimos.”
Segundo John Warrack, biógrafo de Tchaikovsky, o compositor teve a má sorte de se envolver com Antonina numa época em que desejava ardentemente se casar, por acreditar que casamento era parte destino de um homem. E Destino é a palavra chave desta Sinfonia nº 4.

A introdução é a semente de toda a sinfonia e nela está o chamado do Destino, “a força fatal que impede o impulso em direção à felicidade (...) envenenando a alma e que nunca pode ser superada”, conforme escreveu a von Meck. Esta sugeriu ao compositor que providenciasse um programa para a sinfonia, uma tentativa de explicar os estados emocionais expressados nela, o que foi feito após a conclusão da obra. Embora esse programa fosse fruto de uma conversa reservada, sem intenção de ser levado ao público, tornou-se uma espécie de “nota de programa oficial”, a explicação do próprio compositor.
Em linhas gerais, o texto diz que o primeiro som de metais que se ouve é a chamada do Destino. Esse “tema” aparece várias vezes no primeiro movimento e reaparece perto do fim do último.

O Destino é “o poder inexorável que embaraça nossa procura pela felicidade...” O tema principal do Allegro descreve sentimentos de depressão e desesperança. “Não seria melhor abandonar a realidade e perder-se em sonhos?... Um doce e tenro sonho me envolve, uma presença serena e radiante me conduz, até que tudo fica escuro e a tristeza é esquecida... Mas não, são apenas sonhos. O destino retorna para nos acordar, e nós vemos que a vida é uma alternância de amarga realidade e sonhos fugidios de alegria.”

Já no segundo movimento um belíssimo solo de oboé evoca o “sentimento de melancolia que cai sobre nós quando sentamos exaustos e sozinhos à noite em casa... O livro que pegamos escapa de nossos dedos e uma procissão de memórias passa em revista. Relembramos tempos felizes da juventude, bem como momentos de aflição. Lamentamos o que é passado, mas não temos nunca a coragem nem o desejo de começar uma nova vida... Há um conforto doce-amargo em perder-se no passado...”

O agitado pizzicato do terceiro não tem um sentimento específico, são “caprichosos arabescos de imagens elusivas que vêm à mente de alguém que bebeu um pouco de vinho... Seu espírito não é nem alegre nem triste.” É feito de “imagens completamente separadas que trazem o passado na sua mente quando você adormece”.
Sobre o quarto movimento Tchaikovsky escreveu: “se dentro de você não há razões para alegria, olhe em torno. Vá para o meio das pessoas. Observe como elas podem se alegrar, rendendo-se sinceramente a sentimentos de alegria. Mas dificilmente teremos um momento para aproveitar quando o Destino cruel e incansável faz sua presença notada... Não diga que tudo nesse mundo é triste. Existem alegrias simples, mas grandes. Alegre-se na alegria dos outros. Viver é sempre possível!”

Lenita W. M. Nogueira


DICIONÁRIO MUSICAL
Hans von Büllow (Dresden, 1830-Cairo, 1894). Regente e pianista alemão. Regeu a estréia de Tristão e Isolda (1865) e Os mestres cantores de Nurenberg (1868) de Richard Wagner. Era casado com Cosima, filha de Liszt, até que essa o abandonou para casar-se com Wagner.

Nadezhda von Meck (Znamenskoe [Rússia], 1831-Nice, 1894). Milionária conhecida em Moscou como patrona das artes. De 1877 a 1890 financia Tchaikovsky com depósitos mensais de 500 rublos, com a condição de que jamais se encontrassem. Durante certo período também patrocinou Claude Debussy.

Nikolai Rubinstein (Moscou, 1835-Paris, 1881). Pianista e professor russo, irmão do também pianista Anton Rubinstein. Foi um dos fundadores do Conservatório de Moscou, onde Tchaikovsky foi professor durante algum tempo.

Valsa. Dança de salão em compasso ternário, com acento no primeiro tempo, muito popular durante o século XIX.

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