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Autores e Obras

26/11/2011

 

CÉSAR GUERRA-PEIXE (Petrópolis, 1914-Rio de Janeiro, 1993)
Sugestões de Coral e Dança
Embora fosse fluminense, muitos pensam que Guerra-Peixe era nordestino, tão grande foi seu envolvimento com a música pernambucana, a ponto de o sociólogo Gilberto Freyre dar-lhe a alcunha de “sulista nordestinizado”. Em 1947 foi para Pernambuco realizar um levantamento sobre material folclórico e apesar de ali ter permanecido por apenas três anos, suas pesquisas resultaram em diversas composições e estudos importantes como Maracatus do Recife e Os caboclinhos do Recife.
Iniciou seus estudos musicais em Petrópolis e posteriormente na cidade do Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar em orquestras de salão e a realizar arranjos de música popular. Em 1944, após concluir seus estudos no Conservatório, ligou-se ao músico alemão Hans Joachin Koëllreutter (1915-2005), que introduziu a música dodecafônica no Brasil e foi defensor de uma composição de caráter universal, não nacionalista.
 
Entretanto, a música brasileira foi mais forte e Guerra-Peixe tentou, em um primeiro momento, conciliá-la com o dodecafonismo, até que em 1949 rejeitou esta corrente, assumindo o nacionalismo musical, que defendeu até o fim de sua carreira. Além da produção erudita, compôs trilhas para diversos filmes como Terra é sempre terra e O canto do mar, sendo premiado em 1953 como melhor compositor de música de cinema. Trabalhou intensamente como arranjador para músicos como Chico Buarque, Luiz Gonzaga e Tom Jobim.
 
A composição Sugestões de Coral e Dança pertence à fase nacionalista do compositor e foi apresentada em setembro de 1972. Foi dedicada a um grupo amador, a Orquestra Sinfônica da Guanabara, que na época deveria contar com um bom efetivo, já que a orquestração prevê flauta, oboé, fagote, quatro trompas, três, trompetes, três trombones, tímpanos, percussão e cordas. 
 
 
WOLFGANG AMADEUS MOZART (Salzburgo, 1756-Viena, 1791)
Concerto para fagote em Si bemol Maior, KV191/186e
Apesar de estar presente na orquestra desde aproximadamente 1620, o fagote nunca foi muito explorado como solista pelos compositores até o século XVIII, quando peças como sonatas, trio-sonatas e concertos começaram a aparecer. Johann Sebastian Bach deu bastante importância a este instrumento em suas cantatas e reservou para ele partes destacadas em suas suítes, em especial na segunda Bourée da Suite n° 4 e no Quonian da Missa em Si menor.
 
No período clássico, entre os anos de 1750 a 1815 (alguns o estendem até 1830), muitos compositores, entre eles Haydn e Beethoven, utilizaram o potencial do instrumento em passagens humorísticas. Posteriormente, já no século XX, o fagote foi explorado por Igor Stravinsky na abertura de A Sagração da Primavera e por Sergei Prokofiev em Pedro e Lobo, na qual o fagote representa o rude avô do protagonista.
 
O concerto de Mozart para fagote foi escrito em 1774 na sua cidade natal, Salzburgo, em um período anterior às longas viagens de estudos e experimentos que realizou pela Europa. O que para a maioria dos compositores seria uma peça de juventude, quase amadorística, para Mozart, que ainda na infância começou a compor sinfonias, essa lógica não conta. Neste concerto podem ser encontradas as mesmas qualidades associadas à sua escrita mais madura como a invenção melódica, a fluidez rítmica, a elaboração de uma textura orquestral densa, apesar do pequeno efetivo orquestral (cordas, pares de oboés e trompas) e o perfeito equilíbrio entre virtuosidade e dramaticidade.
 
Esta foi seu primeiro concerto para instrumento de sopro e acredita-se que tenha escrito outros três para fagote, mas estes nunca foram localizados. Foi dedicado ao Barão Thaddaeus von Duernitz,
músico amador de Munique, para quem também escreveu posteriormente a sonata em Ré Maior, K284 (1775), os outros três concertos desaparecidos para fagote e uma sonata para o mesmo instrumento.
O Concerto para Fagote e Orquestra segue a estrutura tradicional em três movimentos, rápido-lento-rápido. O primeiro (Allegro) inicia-se com uma introdução orquestral, na qual são expostos os principais temas do movimento, que, ao serem apropriados pelo fagote, são desenvolvidos de forma luminosa. Ao final, há a tradicional cadenza, momento no qual a orquestra silencia para que o solista possa se apresentar sozinho e exibir seus dotes.
 
O segundo movimento tem uma indicação contraditória Andante ma adagio, já que Andante seria um andamento mais movido que Adagio. Tem um caráter meditativo e sua estrutura é similar a uma aria vocal, o fagote toca uma melodia sobre um delicado acompanhamento das cordas. Aqui Mozart introduz um tema que reutilizaria anos depois na aria Porgi amor, cantada pela condessa no segundo ato da ópera As bodas de Fígaro. Ao final, há espaço reservado para uma pequena cadenza.
O terceiro movimento (Rondo: tempo di menuetto) é, como o nome indica, um rondó, ou seja, há um tema que sempre retorna. Tem a forma de um minueto, uma dança palaciana, o que lhe dá um caráter bastante elegante. Apesar de o fagote apresentar uma série de variações bastante elaboradas nas quais são amplamente exploradas as suas qualidades, o movimento decorre em um clima bem humorado e ao final deixa um clima bastante agradável.
 
ANTONÍN DVORÁK (Nelahozeves, 1841-Praga, 1904)
Sinfonia n° 8
O mais destacado dos compositores tchecos, Dvorák foi aprendiz de açougueiro até os dezenove anos. Recebeu apoio de um tio e foi tentar a sorte em Praga, onde começou a estudar órgão e viola, chegando a violista da Orquestra do Teatro Provisório, e iniciou sua carreira de compositor. Admirador fervoroso de Johannes Brahms, depois de muito hesitar, apresentou a ele algumas de suas composições. Estas agradaram tanto o compositor alemão que, além de indicar Dvorák ao seu editor de música, Simrock, insistiu para que ele participasse de um concurso de composição em Viena, do qual saiu vencedor. Após esse evento, Dvorák abandonou tudo para dedicar-se definitivamente somente à composição.
 
A Sinfonia nº 8 é um trabalho intermediário entre o desespero da Sétima (1885), composta à sombra da morte de sua mãe, um período que o próprio Dvorák descreveu como “de dúvida e obstinação, tristeza silenciosa e resignação”, e a ambivalência emocional da Nona Sinfonia (Do Novo Mundo, 1893), na qual alterna sentimentos de encantamento com a América do Norte, onde vivia na época, e de nostalgia por seu país distante.
 
Dvorák começou a escrever sua oitava sinfonia em agosto de 1889, mas devido a uma série de encomendas teve que trabalhar em várias obras simultaneamente, chegando a comentar que tinha tantas ideias musicais estourando na cabeça que não conseguia escrever nada rapidamente. Talvez por isso tenha evitado algumas complexidades instrumentais de uma sinfonia tradicional. Ele mesmo afirmou que era uma obra diferente, na qual procurou trabalhar pensamentos individuais de um modo novo. Para o biógrafo de Dvorák, Kretschmar, a Sinfonia n° 8 é um poema lírico que canta a beleza de seu país, mais importante pelo seu espírito do que pela sua forma.
 
Estreou em Praga no dia dois de fevereiro de 1890, mas desagradou o editor Simrock que, por achar que tinha trechos muito longos (leia-se pouco vendáveis), ofereceu uma soma irrisória pela obra. Indignado, Dvorák procurou o editor inglês Novello, que a publicou em 1892. Devido a este incidente, a Sinfonia n° 8 ficou conhecida como Inglesa, embora tenha sido dedicada à Academia Boêmia de Praga.
                                                                                                    
Lenita W. M. Nogueira

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