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Autores e Obras

09/04/2012

 

 
Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém do Pará, 1896)
Il Guarany – Abertura
Aos vinte e quatro anos Carlos Gomes desafiou a vontade paterna e saiu de Campinas para estudar música no Rio de Janeiro. Ali ingressou no Imperial Conservatório de Música, a escola fundada por Francisco Manuel da Silva, iniciando sua trajetória artística com duas óperas em português: em 1860 apresentou A Noite do Castelo e três anos depois, Joanna de Flandres. Graças a essa última e por ter sido o aluno mais destacado daquele ano de 1863 ganhou uma bolsa de estudos do Conservatório e partiu para Milão, então a capital mundial da ópera. Nesta empreitada teve como supervisor no Brasil o maestro Francisco Manuel da Silva, então diretor do Conservatório. 
 
Em Milão, após completar seus estudos, compôs música para duas revistas (Se sa minga e Nella luna). Ambas tiveram grande sucesso e assim Gomes se tornou conhecido no meio musical milanês. Deu o passo mais importante de sua vida ao apresentar aos responsáveis pelas temporadas do Teatro alla Scala sua nova ópera Il Guarany, baseada no livro de José de Alencar. Após muitas dificuldades, a ópera subiu à cena na temporada de 1870, despertando grande curiosidade no público italiano, em parte por sua temática exótica, em parte pela utilização de melodias e orquestrações pouco comuns, mas de excelente feitura. A ópera foi muito bem recebida, mas dela ainda não fazia parte a Abertura, também conhecida como Protofonia. Esta foi agregada posteriormente e nela são apresentados os diversos temas que aparecem na ópera.
 
ROBERT SCHUMANN (Zwickau, 1810-Bonn, 1856)
Sinfonia n° 4 em Ré Menor, op. 120
Até seu casamento com Clara Wieck em 1840 Schumann dedicava-se apenas à composição de peças para piano, mas com o apoio da esposa, também compositora e pianista, começou a se aventurar pelo campo da composição sinfônica. A Sinfonia n° 1 estreou em janeiro de 1841 em Leipzig, sob a regência de Felix Mendelssohn, com grande aclamação. Entretanto a segunda (que seria oficialmente a Sinfonia n° 4), também de 1841, foi programada em um concerto do qual faziam parte obras de Franz Liszt, executadas pelo próprio. Este era um dos mais famosos virtuoses da época e a recepção à peça de Schumann foi pífia, já que destoava do estilo de Liszt. 
Deprimido, Schumann deixou a sinfonia de lado por dez anos. Neste meio tempo escreveu outras duas sinfonias, que foram indicadas como a segunda e a terceira. Em 1851 resolveu retomar a obra, fez várias revisões e em março de 1853 apresentou-a ao público com o título Sinfonia nº 4 em Ré menor, Introdução, Allegro, Romanza, Scherzo e Finale numa só peça. Este extenso nome indica que os movimentos devem ser executados sem intervalo entre eles, o que foi uma inovação na forma sinfônica da época. Outro destaque é a unificação da obra através de uso recorrente dos mesmos temas durante toda a peça. O tema introdutório, apresentado por cordas e fagotes, reaparece no segundo movimento. Já o tema principal do primeiro movimento é importante na construção do finale e o solo de violino da Romanza aparece reformado no Trio que integra o Scherzo.
 
PIOTR ILYICH TCHAIKOVSKY (Votkinsk, 1840-São Petersburgo, 1893)
Sinfonia n.4, op. 36, em Fá menor
No ano da composição dessa sinfonia, 1877, Tchaikovsky recebeu uma carta de amor de uma aluna, Antonina Ivanovna Milyukova, que dizia estar apaixonada e desejava esposá-lo. O casamento aconteceu precipitadamente, mas em um mês o compositor chegou ao desespero e resolveu suicidar-se entrando em um rio gelado, numa tentativa frustrada de contrair pneumonia. O divórcio nunca se concretizou e a esposa terminou seus dias em um hospício.
Mas foi neste mesmo ano que Madame Nadezhda Von Meck tornou-se sua patronesse, além de amiga e confidente. Tchaikovsky dedicou a ela a Sinfonia nº 4, que chamava “a nossa sinfonia”, na qual “poderia encontrar um eco de seus pensamentos e emoções mais íntimos.”
A introdução da peça está baseada no “chamado do Destino, a força fatal que impede o impulso em direção à felicidade (...) envenenando a alma e que nunca pode ser superada”, conforme o compositor escreveu a Von Meck. Esta sugeriu que fosse elaborado um programa para a sinfonia, a fim de explicar os estados emocionais expressos nela. Isto foi feito após a conclusão da obra e esse roteiro, apesar de informal, tornou-se uma espécie de “nota de programa oficial”.
Em linhas gerais, o texto diz que o primeiro som de metais que se ouve é a chamada do Destino, que aparece várias vezes no primeiro movimento e perto do fim do último. O Destino é “o poder inexorável que embaraça nossa procura pela felicidade...” O tema principal do Allegro descreve sentimentos de depressão e desesperança: “Não seria melhor abandonar a realidade e perder-se em sonhos?... Um doce e tenro sonho me envolve, uma presença serena e radiante me conduz, até que tudo fica escuro e a tristeza é esquecida... Mas não, são apenas sonhos. O destino retorna para nos acordar, e nós vemos que a vida é uma alternância de amarga realidade e sonhos fugidios de alegria.”
 
No segundo movimento um belíssimo solo de oboé evoca o “sentimento de melancolia que cai sobre nós quando sentamos exaustos e sozinhos à noite em casa... O livro que pegamos escapa de nossos dedos e uma procissão de memórias passa em revista. Relembramos tempos felizes da juventude, bem como momentos de aflição. Lamentamos o que é passado, mas não temos nunca a coragem nem o desejo de começar uma nova vida... Há um conforto doce-amargo em perder-se no passado...”
 
O agitado pizzicato do terceiro não tem um sentimento específico, são “caprichosos arabescos de imagens elusivas que vêm à mente de alguém que bebeu um pouco de vinho... Seu espírito não é nem alegre nem triste.” É feito de “imagens completamente separadas que trazem o passado na sua mente quando você adormece”.
 
Sobre o quarto movimento escreveu: “se dentro de você não há razões para alegria, olhe em torno. Vá para o meio das pessoas. Observe como elas podem se alegrar, rendendo-se sinceramente a sentimentos de alegria. Mas dificilmente teremos um momento para aproveitar quando o Destino cruel e incansável se faz notar... Não diga que tudo nesse mundo é triste. Existem alegrias simples, mas grandes. Alegre-se na alegria dos outros. Viver é sempre possível!”
 
Lenita W. M. Nogueira

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