1 | 2 | 3 | 4

Autores e Obras

20/04/2012

 

LUDWIG VAN BEETHOVEN (Bonn, 1770-Viena, 1827)
Leonore Overture, No. 3, op. 72b
A ópera é um dos poucos gêneros musicais aos quais Beethoven se arriscou pouco. A única foi Fidélio, cuja composição foi iniciada após a Sinfonia n° 3 (obra revolucionária e considerada a ponte entre o classicismo de suas primeiras obras, como as Sinfonias n° 1 e 2, e o romantismo que dava seus primeiros passos).
A composição teve como inspiração uma peça teatral de Pierre Gaveaux, escrita em 1798 com o nome Léonore ou L'amour conjugal, cujo enredo se passa na época da França revolucionária. Leonora era esposa de Florestan, um prisioneiro político. Para salvá-lo ela se traveste em homem, nomeia-se Fidélio, e consegue resgatar o marido da prisão.
Beethoven revisou a obra após a invasão de Viena pelos franceses em 1805, mas só obteve sucesso após uma terceira revisão em 1814. Neste processo foram escritas quatro aberturas para a ópera, todas com o nome Leonora. O tema do sofrimento imerecido e o final heroico estavam em voga neste período, mas a ópera ficou mais conhecida por essas aberturas, sendo a primeira delas, que esteve desaparecida por muitos anos, a menos executada atualmente. Para a primeira apresentação da ópera em 1805, Beethoven providenciou uma nova abertura, a Leonora n° 2. Nesta época Viena estava sob domínio francês e poucas pessoas compareceram às três recitas da ópera.
Quando a ópera foi reapresentada em 1806, ela havia sido reestruturada e uma nova abertura foi integrada a ela, a Leonora n° 3. Esta é a mais popular de todas mas, considerada muito longa e densa, quase um poema sinfônico, foi retrabalhada para uma nova montagem em 1814, surgindo então a Leonora n° 3b. As duas versões de número 3 adquiriram vida própria e tornaram-se peças frequentes em concertos sinfônicos.
A abertura se inicia com um curto e sonoro acorde, seguido por escalas descendentes em pianíssimo, que fazem alusões à descida de Florestam ao calabouço. Na sequência aparecem elementos da ária de Florestan, In des Lebens Frühlingstagen, na qual recorda os momentos de felicidade junto à esposa. Um Allegro bem ao estilo heroico de Beethoven, que inclui uma chamada de trompete fora do palco,  anuncia a libertação do prisioneiro pela sua valorosa esposa.
 
JEAN-BAPTISTE LULLY (Florença, 1632-Paris, 1687)
FELIX MOTTL (Unter-Sankt-Veit, 1856-Munique, 1911)
Ballet Suite
De origem italiana, Lully brilhou na corte francesa de Luís XIV. Foi levado para Paris aos quatorze anos pelo Duque de Guise e iniciou sua atividade profissional como cozinheiro da Grande Demoiselle (Anne Marie Louise d'Orléans, neta de Henrique IV e prima-irmã do Rei Luís XIV). Mas não ficou muito tempo nesta função, devido às suas qualidades como bailarino e violinista. Entrou na orquestra de sua patroa, mas caiu em desgraça ao satirizar musicalmente a filha da aristocrata.
Aproximou-se do rei e continuou sua ascensão na carreira musical, chegando a servi-lo, a partir de 1661, como “compositor instrumental do rei”, “superintendente da música” e “mestre de música da família real”. Chegou a ter tal destaque, que Luís XIV, o rei-sol, concedeu-lhe exclusividade sobre a composição de óperas no reino francês.
Lully teve um importante papel na história da música ao criar ou estabelecer gêneros diversos como a Comédie-Ballet, a Tragédie Lyrique (em colaboração com Quinault), a Abertura Francesa, recriada por diversos compositores, bem como suas suítes instrumentais. Escreveu ainda balés, ópera, música instrumental e música religiosa.
No final século XIX a obra de Lully foi revisitada por Felix Mottl, um dos mais destacados regentes de seu tempo. Além da intensa atividade como regente, em especial na interpretação das obras de Richard Wagner, atuou também como compositor, com destaque para três óperas, um quarteto de cordas, um ciclo de canções e um considerável número de canções para canto e piano. Entretanto, ficou mais conhecido pelas orquestrações de obras para piano e pelos arranjos orquestrais de peças diversas, como é o caso de Ballet-Suite.
Cerca de duzentos anos depois da morte do compositor da corte de Luís XIV, Mottl escolheu algumas peças para balé deste compositor, arranjou-as para uma orquestra do século XIX e agrupou-as em uma suíte, daí o nome Ballet Suite. Trata-se, portanto, de uma releitura feita no século XIX de obras compostas no século XVII. A peça é dividida em quatro partes: Introdução: Allegro; Noturno, Minueto e Prelúdio: Les vents – Marche.
                Mottl faleceu em 1911 após um ataque cardíaco sofrido enquanto regia a centésima apresentação de Tristão e Isolda de Wagner em Munique.
 
ROBERT SCHUMANN (Zwickau, 1810-Endenich, 1856)
Sinfonia nº 1 em Si Bemol, Op. 38 – Primavera
A Primeira Sinfonia de Schumann foi escrita empoucos dias em 1841 e estreou nesse mesmo ano em Leipzig, sob a regência de Felix Mendelssohn. O subtítulo Primavera é do compositor, talvez influenciado pelo momento feliz que vivia após seu casamento no ano anterior. Até então só havia escrito peças para piano e com o apoio da esposa escreveu sua primeira sinfonia, cujo sucesso encorajou-o a continuar com outros projetos orquestrais.
Em carta escrita a Wilhem Tauber, regente da primeira apresentação dessa sinfonia em Berlim, Schumann indica como deveria ser a interpretação: “Você poderia infundir na sua orquestra uma espécie de aspiração pela primavera? A primeira entrada dos trompetes, eu gostaria que soasse como que vinda do alto, como uma chamada para o despertar; depois eu gostaria de ler nas entrelinhas, no resto da introdução, como em toda parte começa a crescer o verde, que as borboletas levantam voo e, no Allegro, como pouco a pouco todas as pequenas coisas como essa pertencem à Primavera. Na verdade, estes fantásticos pensamentos só vieram a mim após a conclusão do trabalho; sobre o Finale, eu lhe digo que imaginei como um adeus à primavera.”
A sinfonia começa com a chamada do trompete “vinda do alto”, que é respondida pela orquestra, um tema recorrente durante a obra. No trecho seguinte, Allegro, ele aparece transformado. Tudo se move com energia, uma alusão à vida que floresce. No final há uma canção ritmada e alegre, um hino de graças pela nova vida que brota da terra.
O segundo movimento, Larghetto, é quase uma fantasia para aquietar a energia do primeiro movimento, um “nenúfar flutuando na superfície do acompanhamento orquestral”, nas palavras de um crítico. De orquestração mais leve, deixa uma frase no ar, mais uma interrogação que uma conclusão.
A resposta vem, após uma pequena pausa, no vigoroso Scherzo, que Schumann estende além das proporções costumeiras. Aqui existem dois trios: o primeiro é um tema original e o segundo revela uma ligação com a antiga forma do Minueto. No final, o tema do primeiro trio reaparece e o andamento termina com um diminuendo.
O último movimento apresenta uma passagem em escalas que perpassa todo o trecho. Aqui a música ora se apressa, ora fica mais lenta até que no final há uma espécie de fanfarra e os instrumentos, sobre uma trama apressada nas cordas, sinalizam o final da primavera.
 
Lenita W. M. Nogueira

OSMC - Paço Municipal
Av. Anchieta, 200 - 19º andar
13 015 904 | Campinas - SP
+55 19 2116 0951