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Autores e Obras

11/05/2012

 

CAMARGO GUARNIERI(Tietê, SP, 1907 - São Paulo, 1993)
Abertura Concertante
 
 “Por Deus, esse menino é um predestinado!” Assim escreveu Mário de Andrade (São Paulo, 1893-id., 1945) em 1928 sobre o então jovem compositor Camargo Guarnieri, que por esta época já havia retirado o original “Mozart” de seu nome artístico, “para não ofender o mestre”, dizia. A convivência entre Andrade e Guarnieri foi das mais profícuas, já que o escritor de Macunaíma tornou-se o mentor artístico do compositor e assumiu a tarefa de orientar o rapaz sem recursos que tocava piano no Cine-Teatro Recreio em São Paulo para poder estudar música. Guarnieri recordava com saudade as reuniões de intelectuais na casa de Mário, onde “discutia-se literatura, sociologia, filosofia, arte, o diabo! Aquilo para mim era o mesmo que estar assistindo aulas numa universidade.” Foi por influência de Mário que aderiu com fervor aos ideais da música nacionalista, o que determinou toda a sua produção musical. Apesar de trabalhar com elementos do folclore e os ritmos fortes da música popular, a obra de Guarnieri não pode ser considerada fácil, mesmo porque ele dava muita atenção aos detalhes da composição, à forma musical e à lógica interior de suas obras.
Em 1942 o compositor foi convidado, entre outros músicos latino-americanos, para apresentar uma obra sinfônica nos Estados Unidos. A seleção foi feita pelo compositor Aaron Copland, em nome do Departamento de Estado norte-americano (era época da política da boa vizinhança). Copland havia conhecido a obra de Guarnieri durante uma viagem ao Rio de Janeiro e havia ficado bastante impressionado, chegando a afirmar: “O que atrai na música de Guarnieri é o seu calor e a imaginação que vibra com uma sensibilidade profundamente brasileira. É, na sua expressão mais apurada, a música de um continente “novo”, cheia de sabor e de frescura.”
Para este concerto nos Estados Unidos, Guarnieri compôs a Abertura Concertante, que foi apresentada em 1943 pela Boston Symphony Orchestra sob a regência do próprio compositor. Foi dedicada à Copland e com a excelente repercussão do concerto em Boston, Guarnieri tornou-se um dos músicos brasileiros mais considerados no exterior, apesar do caráter nacionalista de seu trabalho, conforme apontou Mário de Andrade ao comentar que nesta obra Guarnieri havia encontrado a solução para o que chamou “alegro brasileiro”, ou seja, uma perfeita adaptação de características nacionais a uma música de âmbito internacional.
 
 
JOHANN NEPOMUCK HUMMEL (Bratislava, 1778-Weimar, 1837)
Concerto para trompete em Mi bemol
 
Hummel foi criança-prodígio e um dos maiores pianistas de seu tempo. Viveu na transição do período clássico para o romântico e foi aluno de Mozart, sucessor de Haydn na corte de Esterhazy, amigo (ou talvez rival) de Beethoven e professor de vários músicos destacados, entre eles Felix Mendelssohn. Gozava de prestígio similar ao de Mozart e Beethoven e segundo o compositor Spohr era o maior improvisador de seu tempo. Vários músicos foram influenciados por ele, inclusive Chopin. Entre seus admiradores encontram-se figuras notáveis como Berlioz, Liszt, que o sucedeu em Weimar, e Goethe, de quem foi grande amigo.
Seu pai, diretor da Escola Imperial de Música Militar e regente de orquestra, levou a família para Viena, onde Mozart, impressionado com o talento do jovem pianista, ofereceu-se para dar-lhe aulas. Hummel instalou-se na casa de Mozart, onde permaneceu por dois anos, e ali pôde desenvolver suas potencialidades, apesar da formação irregular que Mozart lhe oferecia.
Com o sucesso do filho, o pai de Hummel o levou para uma turnê pela Europa que terminou em Londres, onde o rapaz teve aulas com outro ícone do piano, Muzio Clementi. Ficou nesta cidade até os catorze anos, tendo apresentado ali um quarteto com piano. Retornou a Viena, onde passou a se dedicar mais intensamente à composição, estudando com Albrechtsberger e Salieri. Aos vinte e seis anos tornou-se mestre-de-capela na corte Esterhazy, posto que havia sido ocupado durante mais de trinta anos por Joseph Haydn. Em 1811 mudou-se para Weimar, onde se tornou grande amigo de Goethe.
O Concerto para Trompete em Mi bemol foi composto em Viena em 1803 e, sendo uma composição de um período de transição, seu estilo oscila entre Mozart e Beethoven. Dividido em três movimentos, sendo o primeiro um Allegro con spirito, de caráter vivo. O segundo movimento, Andante, traz elementos do romantismo, com o cantábiledo trompete acompanhado por uma orquestra discreta, similar a uma aria de ópera. Este clima contrasta com o movimento final, um Rondo (indicando que há um tema que sempre retorna), já que o movimento é brilhante, exigindo grande empenho do solista.
A apresentação ocorreu em 1804, quando Hummel tinha acabado de assumir o posto de mestre-de-capela em Esterhazy, sendo este seu primeiro concerto naquele local. Nesta ocasião foi utilizado um novo trompete de chaves, apresentado pessoalmente por seu criador, Anton Weindinger. O novo instrumento permitiu a Hummel explorar as notas graves do trompete, o que antes não era possível. Mas o trompete de chaves teve vida breve, logo foi substituído pelo instrumento de válvulas que permitia a utilização de todas as notas da escala cromática.
 
 
WOLFGANG AMADEUS MOZART (Salzburgo, 1756 - Viena, 1791)
Sinfonia Nº. 38 em Ré Maior – Praga, KV 504
 
Cansado da vida provinciana de Salzburgo e com parcas possibilidades de prosperar ali, Mozart foi com a mãe para Paris. Passou algum tempo em Augsburg, terra natal de seu pai e, em Mannhein, ficou alguns meses acompanhando a famosa orquestra local, que havia estabelecido padrões para a execução de música sinfônica. Seguiu para Paris, mas sua mãe veio a falecer ali, causando-lhe grande consternação, além de um enorme sentimento de culpa.
Retornou para Salzburgo e entrou em conflito com o poderoso arcebispo Hieronymus Von Colloredo. Descontente com essa situação, resolve abandonar definitivamente sua cidade natal, apesar de ter sido indicado para o disputado posto de mestre-de-capela em Salzburgo. Instalou-se em Viena para tentar a sorte como artista independente.
Pouco tempo depois se casou Constanze Weber, com quem compartilhou momentos de penúria até a estreia da ópera As bodas de Fígaro, que foi recebida com entusiasmo. Foi convidado a ir a Praga, onde já estivera com grande sucesso, para reger sua ópera. Acompanhado de alguns cantores, seguiu para lá em janeiro de 1778. Dois dias após dirigir uma apresentação da ópera, apresentou-se em um concerto no Teatro Nacional de Praga no dia 19 de janeiro. Nesta ocasião apresentou a Sinfonia n° 38, que havia completado em dezembro do ano anterior em Viena e que mais tarde receberia o subtítulo de Sinfonia Praga. Também constavam do programa três fantasias e variações sobre a ária Non piùandrai de As bodas de Fígaro executadas ao piano pelo próprio compositor.
Historicamente a Sinfonia Praga está situada entre duas óperas: As bodas de Fígaro e Don Giovanni e está impregnada deste gênero. Foi escrita em apenas três movimentos e, ao contrário do padrão, não apresenta um Minueto e Trio. Inicia-se com uma introdução lenta, Adagio, que termina em um Allegro, criando uma estrutura que se aproxima de suas óperas, no sentido em que drama e comédia se misturam. No segundo movimento, Andante, no qual são omitidos trompetes e percussão, há um delicado e cantante diálogo entre instrumentos de cordas e de sopros. No último movimento, Finale: Presto, trechos ágeis e brilhantes são justapostos à música de grande profundidade. 
 
Lenita W. M. Nogueira
 
 
 

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