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Autores e Obras

08/03/2013

FELIX MENDELSSOHN (Hamburgo, 1809-Leipzig, 1847)

Abertura A Gruta de Fingal, op. 26

Após um cruzeiro tormentoso de dois dias na região das ilhas Hébridas, na costa escocesa, Mendelssohn conheceu a Gruta de Fingal, na ilha de Staffa. Impressionado com a grandiosidade do lugar, ali mesmo fez um esboço do tema de uma futura composição e o enviou à sua irmã Fanny com a explicação: “Para que entendas até que ponto me afetaram as ilhas Hébridas, envio o seguinte, que veio à minha cabeça naquele lugar.”

A gruta de Fingal tem vinte metros de largura e aproximadamente sessenta metros de profundidade e enormes pilares de basalto colorido. Em dias tempestuosos, o som das ondas golpeando as pedras ecoa através da ilha, e foram estes sons que Mendelssohn tentou capturar a partir da frase inicial de vinte compassos que unifica toda a obra.

A abertura foi concluída em dezembro de 1830, mas tinha o título de Die einsame Insel (A ilha solitária). Dois anos depois Mendelssohn fez uma extensa revisão na partitura e mudou o nome para Die Hebriden (As Hébridas). O título A Gruta de Fingal também apareceu nesta revisão. A estreia aconteceu em Londres em maio de 1832, em um concerto no qual também foi executada Sonho de uma noite de verão.

Embora receba o nome de abertura, é uma peça independente e não tem uma narrativa, seu intento é descrever os sons, o ambiente e a paisagem local. As mudanças de caráter da peça refletem a imprevisibilidade do mar e para expressar isso a obra foi estruturada com dois temas principais. O primeiro, executado pelas violas, violoncelos e contrabaixo, é mais calmo e lírico e ao sugerir a beleza da caverna, inspira sentimentos de solidão. Já o segundo movimento enfatiza o movimento do mar e das ondas através de passagens agitadas, construindo um cenário de tempestade enquanto o vento e as ondas trovejam em volta da caverna. Mendelssohn escreveu uma peça alternadamente calma e violenta, como o próprio oceano. É interessante notar que esta foi uma das primeiras composições no gênero, o que seria desenvolvido por diversos compositores posteriores, inclusive Claude Debussy.


 

ROBERT SCHUMANN (Zwickau, 1810-Endenich, 1856)

Concerto para Piano e Orquestra em Lá menor, op. 54

Após seu casamento com a renomada pianista Clara Wieck em 1840, Schumann, que até então se dedicara quase que exclusivamente ao piano e às pequenas formas, decide enfrentar desafios mais amplos e compor para formações instrumentais mais encorpadas. Embora este ano seja considerado como seu “ano da canção”, devido ao grande número de lieds que escreveu, também compôs sua primeira sinfonia e Overture, Scherzo e Finale, peça que posteriormente chamou de “sinfonieta”. Completou ainda a Fantasia em Lá menor para piano e Orquestra, executada por Clara, que recentemente tinha dado à luz o primeiro filho do casal, com a Orquestra da Gewandhaus de Leipzig. A peça não foi bem recebida e por volta de 1845 Schumann adicionou um Intermezzo e Finale e daí nasceu o Concerto para Piano e Orquestra em Lá menor, que estreou no final daquele ano, com Orquestra da Gewandhaus tendo Clara como solista.

O concerto inicia-se com um floreio pelo pianista, seguindo-se a apresentação do tema principal pela orquestra, seguida pelo piano. O movimento inicia-se de forma discreta, mas vai se encorpando aos poucos. Alguns estudiosos afirmam que o padrão de quatro notas utilizado no tema inicial, que é recorrente em várias obras de Schumann, seria a representação da própria esposa. Esta declarou que neste movimento o piano se entrelaça com a orquestra de forma tão orgânica, que é impossível pensar em um sem o outro. Este primeiro movimento, que tem a indicação Allegro affetuoso, está escrito na tradicional forma sonata (tema, desenvolvimento, reapresentação), mas Schumann o trabalha de forma bastante livre, especialmente na parte central. No segundo movimento, Intermezzo: Andantino grazioso, o compositor trabalha com recursos utilizados em suas peças anteriores para piano, há um clima é de uma amena conversação entre solista e orquestra, como que preparando o ouvinte para o clima exuberante do terceiro e último movimento, Allegro Vivace, que é introduzido sem a tradicional interrupção entre movimentos. Escrito em forma de Rondó, com um tema que sempre retorna, pode-se notar uma estreita relação com o primeiro movimento.

Posteriormente Schumann passaria a sofrer de problemas mentais, chegando a tentar o suicídio por afogamento no Rio Reno. Ao falecer em 1856, esposa e os sete filhos passaram por grandes dificuldades, mas Clara retomou sua carreira de pianista e manteve viva a obra do marido. Incorporou o Concerto para Piano e Orquestra ao seu repertório e consta que o executou dezoito vezes em 1864 e 1879.


 

JEAN SIBELIUS (Hämeenlinna (Finlândia),1865-Järvenpää(Finlândia),1957)

Pelléas e Mélisande, suíte, op.46

O mais famoso compositor finlandês, Sibelius é bastante reconhecido por suas obras para formações orquestrais mais amplas, como as suas sinfonias e os poemas sinfônicos Kullervo, Finlândia, O Cisne de Tuonela, entre outras obras. Já a sua produção para o teatro não é tão executada, mas entre elas podem ser encontradas peças de valor, como é o caso de Pelléas e Mélisande.

A peça homônima do escritor simbolista belga Maurice Maeterlink, escrita em 1892, chamou a atenção de vários compositores, sendo os mais destacados, além de Sibelius, Claude Debussy, que escreveu uma ópera homônima apresentada em Paris (1902), e Arnold Schoenberg, com um poema sinfônico apresentado em 1903. Anos antes, em 1898, o compositor francês Gabriel Fauré havia composto música de cena para acompanhar a peça original.

A composição mais tardia deste conjunto é a de Sibelius, apresentada em 1905 no Teatro Sueco de Helsink. Na mesma linha da obra de Fauré, foi concebida como música incidental para o drama de Maeterlink. Este está ambientado no período medieval e tem um clima onírico. Em linhas gerais narra a história de Golaud, que, tendo se perdido durante uma caçada, encontra no meio da floresta a misteriosa Mélissande. Ambos acabam por se casar e Golaud leva a esposa ao castelo de seu avô Arkel. Ali encontra seu meio-irmão Pelléas, que também se apaixona por Mélissande, sendo correspondido. No final, Golaud, após descobrir o romance, mata Pelléas e fere Mélissande, que morre após dar à luz uma filha.

A obra tem oito partes, iniciando-se com o prelúdio denominado Nos portões do Castelo. O trecho seguinte é Mélisande, na qual o corne inglês é encarregado de representar o caráter da heroína, seguindo-se Na praia, um breve intermezzo, por vezes omitido. Uma fonte no parque é o prelúdio do segundo ato da peça. O corne inglês reaparece como solista no trecho As três irmãs cegas, que já pertence ao terceiro ato, bem como Pastoral, com destaque para instrumentos de sopro e cordas, e Melisande tecendo na roca, que apresenta um caráter mais dramático. Como introdução ao quarto ato há um Entreato. A morte de Mélisande, prelúdio da segunda cena deste ato, é o trecho mais longo do conjunto e fecha a peça com grande dramaticidade.

Lenita W. M. Nogueira

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