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Autores e Obras

05/04/2013

 

FRANCISCO BRAGA (Rio de Janeiro, 1868-1945)
Paysage – Prelúdio Sinfônico
 
Braga foi criado no Asilo dos Meninos Desvalidos no Rio de Janeiro, mas conseguiu ingressar no Conservatório de Música, onde se formou em 1886. Tornou-se regente da banda do asilo e iniciou seu trabalho de compositor escrevendo peças para banda e música de câmara. Em 1887 compôs sua primeira obra sinfônica, Abertura Fantasia, e em 1889 participou de um concurso para a escolha do Hino da República. Embora não tenha sido o vencedor, foi contemplado com uma viagem a Paris, onde estudou com Jules Massenet (1842-1912), o compositor da ópera Manon, que o tinha entre seus melhores alunos, chegando a solicitar ao governo brasileiro a prorrogação da pensão para que Braga pudesse continuar seus estudos em Paris.
 
O Prelúdio Sinfônico Paysage foi composto em 1894 Paris e pode-se notar nela um estilo afrancesado, ligado à estética de seu professor Massenet. Em 1896 Braga se radicou em Dresden na Alemanha, onde foi fortemente influenciado pela obra de Richard Wagner, cujos elementos aparecem fortemente em sua obra posterior.
 
Paysage foi apresentada em 1895 na Salle d'Harcourt e em 1896 na Galerie des Champs Elysées em Paris, em 1897 no Gewerbehaus Theatre em Dresden. No Brasil estreou em 1895 no Teatro Pedro d’Alcântara no Rio de Janeiro, sob a regência de Vincenzo Cernichiaro, autor de um dos primeiros livros sobre a música no Brasil. O mesmo a regeria novamente em um concerto no Salão do Club Sinfônico, com a orquestra da Companhia Mancinelli.
 
GUSTAV MAHLER (Kaliste, 1860-Viena, 1911)
Canções de Um Viandante (Lieder eines fahrenden Gesellen)
 
Esta peça, formada por um ciclo de quatro canções, foi escrita para voz e piano em 1884, enquanto o compositor trabalhava como regente coral no Teatro Real de Kassel. Nesta época, um amor frustrado pela cantora Johanna Richter o inspirou a escrever seis poemas, protagonizados por “um viandante que, unido à adversidade, sai para o mundo vagando em solidão”, conforme relatou ao amigo Fritz Löhr no ano seguinte. Quando resolveu musicar os poemas para canto e piano omitiu dois deles e o ciclo foi nomeado “Rapsódia em quatro poemas”. Dois anos depois, em 1896, completaria a versão para orquestral, que estreou neste mesmo ano com a Orquestra Filarmônica de Berlim, tendo como solista o barítono Anton Sistermans (1865-1926) e o próprio compositor como regente.
O contraste entre a beleza da natureza e o desespero amoroso era um tema bastante caro aos românticos em geral e o principal representante foi Franz Schubert. Seu ciclo de canções Winterreise (Jornada de Inverno), no qual o protagonista realiza uma jornada que o leva da promessa de felicidade no amor ao desespero e à morte, ecoa de forma bastante óbvia nas Canções de um Viandante de Mahler.
 
Este ciclo se inicia com a canção Wenn mein Schatz Hochzeit macht (No dia em que minha amada se casou), na qual o viajante reflete sobre sua tristeza com o casamento da amada, buscando consolo na natureza. Na segunda canção, Ging heut morgen übers Feld (Nesta manhã caminhei pelos campos), o protagonista expressa seu prazer em caminhar pelos campos em uma bela manhã, mas conclui tristemente que esta alegria não se repetirá. A terceira canção, Ich hab ein glühend Messer (Eu tenho uma faca brilhante) descreve os impulsos suicidas do poeta e traz uma súbita explosão de violência, na qual a orquestra trabalha de forma veemente. Mas o final da canção contrasta com esses sentimentos, bem como a canção final, Die zwei blauen Augen von meinem Schatz (Os dois olhos azuis de minha amada) que é mais contida e remete ao Winterreise de Schubert, no qual o poeta é também obcecado com os olhos de sua amada, a única diferença é que são verdes. Mahler escreveu este último lied na forma de uma marcha fúnebre, já que o viajante encontra paz ao morrer sob uma árvore. Aqui a imagética de Schubert também ecoa, já que a peça Der Lindenbaum de Winterreise evoca os mesmos sentimentos.
A composição de Mahler é contrastante, já que, ao mesmo tempo em que a parte vocal é simples, embora exija um grande trabalho de interpretação, sua contrapartida orquestral é extremamente sofisticada, com insistentes indicações precisas de dinâmicas e expressões em toda a partitura. Alguns temas destas canções foram reaproveitados por Mahler em sua Sinfonia n° 1, conhecida como Titã, em especial no terceiro movimento, uma marcha fúnebre, na qual aparece canção popular Frère Jacques em tom menor.
 
Inovando ao utilizar um formato até então pouco explorado, a canção com orquestra, quando o usual era a canção com piano, a partir desta obra Mahler passa a ser considerado como um “sinfonista da canção”, como foi chamado posteriormente. Aclamado com um dos maiores regentes de seu tempo, Mahler não conseguiu o reconhecimento como compositor em vida, mas atualmente é considerado como um dos grandes ícones do período conhecido como romantismo tardio.
 
FRANZ SCHUBERT (Viena, 1797-1828)
Sinfonia N° 9 – A Grande, D 944
 
Protótipo do artista romântico desajustado e isolado, a vida de Schubert beirava a miséria e constantemente precisava recorrer aos amigos para sua sobrevivência. Como muitos jovens artistas de sua geração, vivia cheio de conflitos no que considerava uma “realidade miserável” que ameaçava sua existência pessoal e artística. Muitas vezes passava suas noites em tabernas, onde esboçava composições em guardanapos, rodeado por diversas canecas de cerveja. Vivia atormentado pela presença dominante de Beethoven em Viena e acreditava que, com uma sombra deste porte, ninguém poderia ser compositor naquela cidade. Entretanto, após a morte de Beethoven em 1827, quando Schubert poderia se firmar no cenário vienense, foi ceifado pela morte no ano seguinte.
 
A Sinfonia n° 9 foi concluída no verão de 1826 com dedicatória à Gesellschaft der Musikfreun (Sociedade Filarmônica de Viena), já que Schubert confiava que entraria na programação desta orquestra no ano seguinte. Recebeu um pagamento por ela, começaram os ensaios, mas a sinfonia, considerada muito longa e complexa, foi sendo postergada, até que o compositor faleceu, aos 31 anos, em 1828.
 
O compositor Robert Schumann (1810-1856) afirmou: “No fundo desta sinfonia existe muito mais que uma mera canção, mais que mera alegria e tristeza, como expressadas musicalmente em centenas de circunstâncias. Ela nos transporta para um mundo no qual não podemos nunca dizer que estivemos antes.” Em 1838 Schumann havia se radicado em Viena e ali conheceu Ferdinand Schubert, que lhe mostrou uma série de composições inéditas do seu falecido irmão Franz. Entre elas estava o manuscrito desta sinfonia e Schumann, encantado com a obra, enviou-a para a Orquestra da Gewandhaus de Leipzig, da qual Felix Mendelssohn era o regente. Embora não tenha sido apresentada na íntegra, a Nona Sinfonia de Schubert estreou nesta cidade em março de 1839 com grande sucesso e desde então passou a integrar de forma definitiva o repertório sinfônico.
 
A sinfonia tem uma introdução Andante, na qual as trompas apresentam o tema solene, depois tomado pelos instrumentos de madeira e elaborado pelas cordas. É contrastada com um Allegro ma non troppo, no qual Schubert nos demonstra sua grande habilidade para a invenção melódica. O segundo movimento, Andante com moto, é aberto com simplicidade pelas cordas com a melodia sugerida primeiramente pelos violoncelos e contrabaixos, antes da entrada do oboé, posteriormente dobrado pela clarineta. O oboé retorna e a orquestra começa vai se agitando de forma bastante nervosa. Na seção central do movimento há uma mudança de caráter quando é apresentada uma nova melodia. Após grande agitação, uma pausa introduz os violoncelos que apresentam o tema em forma de canção, levando a uma reapresentação do segundo tema, após um chamado das trompas. O movimento se fecha com um retorno ao clima do início.
O terceiro movimento é um Scherzo: Allegro vivace com um tema vivo e começa pelas cordas em uníssono, complementada pelas trompas e madeiras. Esta abertura marcada é contraposta a um tema mais lírico. Trompas, trombones e clarinetas introduzem o Trio, como é chamada a parte central de um Scherzo, onde se destaca uma melodia pelas madeiras com acompanhamento das cordas. O retorno do trecho inicial conclui este movimento, no qual Schubert explora a densidade orquestral de forma brilhante.
 
O movimento final, Allegro vivace, com seu tema energético ruidosamente proclamado pela orquestra é considerado um dos marcos da escrita sinfônica. Aqui existem conexões com o primeiro movimento da sinfonia, tanto nos ritmos, nas formas das melodias e nos contrastes. A coda final, longa e estrondosa, trabalha com temas, harmonias e ritmos utilizados durante a sinfonia que, nas palavras de Schumann, foi escrita “para beneficio e alegria de toda a humanidade.”
 
Lenita W. M. Nogueira

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