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Autores e Obras

26/04/2013
CARLOS GOMES (Campinas, 1836-Belém do Pará, 1896)
Se sa minga – Prelúdio

Em 1857 Carlos Gomes passou uma temporada em São Paulo, onde conviveu com os estudantes de Direito da Faculdade do Largo São Francisco. É desta época a sua peça mais conhecida Quem sabe?... Deveria voltar a Campinas, mas não o fez. Contra a vontade do pai, a quem ajudava nos serviços musicais da igreja, decidiu ir direto para o Rio de Janeiro. Ao chegar escreveu uma longa carta se desculpando pelo ato e colocando a culpa no próprio pai, que incutira nele o gosto pela música. Conseguiu ingressar no Imperial Conservatório de Música e começou sua trajetória musical com duas óperas em português: A Noite do Castelo em 1861 e Joanna de Flandres em 1863. Graças a essa última e por ter sido o aluno mais destacado neste ano recebeu uma bolsa de estudos do Conservatório e escolheu Milão, a capital mundial da ópera.

Após concluir seus estudos nesta cidade foi convidado por Antonio Scalvini para escrever música para duas revistas, um tipo de teatro musical composto por vários quadros que fazem referências a fatos ou personalidades da época. A primeira delas, Se sa minga (Nada se sabe, em dialeto milanês), estreou em 1866 no Teatro Fossati em Milão com imenso sucesso e aclamações da crítica especializada. A partir daí Gomes tornou-se conhecido no meio musical de Milão e, na esteira desse sucesso escreveu a música para uma segunda revista musical, Nella luna.

Esses sucessos o incentivaram a propor a encenação de Il Guarany ao Teatro alla Scala de Milão, o mais destacado da época. Esta ópera estreou em 1870 dando início à sua brilhante careira como compositor de óperas na Europa.

 

ANTONIN DVORÁK (Nelahozeves, 1841-Praga, 1904)
Concerto para Violoncelo e Orquestra em Si menor, op.104, B.191

Dvorák escreveu dois concertos para violoncelo, um dos quais este, em Si Menor, considerado uma das obras primas do gênero. Ao primeiro, obra de juventude, ele não deu muita importância, sequer preparou a partitura para publicação, posteriormente realizada por outros.

Apesar da distância entre os dois concertos, ambos têm em comum a relação com a cunhada de Dvorák, Josefina Cermakova. O primeiro concerto foi inspirado por ela, provavelmente um amor de juventude; o Segundo, obra da maturidade, foi composto entre 1894 e 1895 durante uma temporada nos Estados Unidos: ao saber que a cunhada estava gravemente enferma inseriu no concerto referências a ela, como a sua canção predileta, Lasst mich allein (Deixe-me só), que aparece no segundo movimento. Após a morte de Josefina, já de volta a seu país, fez revisões no movimento final e fez dele um tributo sentimental a ela.

O violoncelista Hanu Wihan há tempos insistia com Dvorák para que escrevesse um concerto para violoncelo, mas este preferia a música sinfônica. Começou a composição em novembro de 1894 e ao terminar escreveu na partitura: “Graças a Deus! Completado em Nova Iorque, 9 de fevereiro de 1895 no aniversário de nosso pequeno Otto.”

Nessa época já estava em sua segunda temporada na América do Norte e sentia muita saudade de sua terra natal, sentimento agravado após saber da doença de Josefina. Por isso neste concerto, como na sua Sinfonia n° 9, pode ser sentido o contraste entre o “Novo Mundo” e a nostalgia pela sua terra natal.

Wihan sugeriu a introdução de uma longa cadência do solista no último movimento, mas Dvorák rejeitou, alegando que seria supérfluo: as cadências seriam breves, meditativas e geralmente compartilhadas com outros instrumentos. Precavido, escreveu ao editor dizendo que só entregaria o trabalho para publicação se não houvesse qualquer mudança, e isso incluía a cadência que Wihan tinha adicionado. Além disso, o Finale, com reminiscências do primeiro e segundo movimentos, deveria terminar em gradual diminuendo, “como um suspiro”, o solo em pianissimo, após o que a orquestra fecharia a obra vigorosamente. Josefina Cermakova não poderia ter recebido homenagem mais bela.


LUDWIG VAN BEETHOVEN (Bonn, 1770-Viena, 1827)
Sinfonia n° 5 em Dó menor, op. 67

“Pode-se falar do ‘divino Rossini’. Também se pode falar do ‘divino Mozart’. Mas não se pode falar do ‘divino Beethoven’. Não soa bem. Pode-se dizer ‘o humano Beethoven’. Neste ponto ele é o maior... Com Beethoven a humanidade entrou na música pela primeira vez como o argumento principal no lugar da interação de figuras.”

As palavras do compositor e pensador Ferrucio Busoni (1866-1924) não poderiam expressar melhor o espírito que move a Sinfonia n° 5 de Beethoven. Sobre as quatro notas iniciais, tan-tan-tan-taaam (sol-sol-sol-mi bemol), um dos ícones da música sinfônica de todos os tempos, o compositor teria afirmado que seria “o destino batendo à porta”. Este, em 1808 não lhe era muito favorável: o compositor se debatia com o aprofundamento de sua surdez, com paixões infelizes e crises familiares.

Outra fala que merece nossa atenção no sentido de percebermos a profundidade desta obra é do maestro Leonard Bernstein (1918-1990): “O homem rejeitou, reescreveu, apagou, arrancou e por vezes alterou uma passagem mais de vinte vezes. O manuscrito de Beethoven se assemelha a um testemunho sangrento de uma tremenda batalha interior.”

A composição desta sinfonia se estendeu por cinco anos, e para completar a agonia, a estreia em Viena no dia 22 de dezembro de 1808 não foi das melhores. Segundo um músico que participou do evento, a orquestra tocou “em um frio devastador de seis e meia até dez e meia da noite.“ Ou seja, sob o frio em uma sala sem aquecimento, o concerto durou cerca de quatro horas! Além da Quinta, incluía também a Sinfonia n° 6, o Concerto para Piano em Sol (tendo Beethoven como solista), dois movimentos da Missa em Dó, a ária Ah, Perfido, com improvisação do compositor e a Fantasia Coral, além de outras peças vocais.

A solista contratada sofria de fobia de palco e a execução da Fantasia Coral desandou e teve que ser reiniciada. Críticas ao concerto informam que foi um desastre. Somente um ano e meio depois o escritor e compositor E.T.A. Hoffmam colocou a obra em seu devido lugar, enaltecendo-a como um marco definitivo na história da música.

O primeiro movimento (Allegro com brio) gira em torno do tema inicial de quatro notas e aqui Beethoven demonstra magistral capacidade ao explorar um tema tão simples e curto até a exaustão. Resquícios deste tema vão reaparecer nos movimentos seguintes. O caráter dramático do movimento é ampliado pelo contraste entre momentos cheios de energia com outros mais suaves e reflexivos, como o segundo tema. A recapitulação aparece modificada por um contratema; sua propulsão é suspensa momentaneamente por uma cadência de oboé.

No segundo movimento (Andante con moto), uma série de variações baseadas em dois temas, é como um alívio à densidade do movimento anterior. O tema, apresentado por violas e violoncelo, era originalmente um minueto. No terceiro movimento (Allegro), que formalmente deveria ser um movimento de dança, Beethoven insere um Scherzo, de constituição bem mais livre, cujo misterioso tema de abertura contrasta com o Trio (parte central de um scherzo), que tem um tema mais vivo e contrapontístico. O tema inicial da sinfonia ressoa diversas vezes com textura bastante modificada. O quarto movimento (Allegro presto) se inicia marcial e aqui Beethoven introduz piccolo, trombones e contrafagote, instrumentos até então não utilizados na orquestra. Eles ampliam o espectro sinfônico, tornando a obra ainda mais enérgica. A coda (trecho final) é, retardada e se estende por diversos compassos, talvez para ressaltar a dificuldade da vitória e enfatizar o grandioso final.


Lenita W. M. Nogueira

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