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17 e 18 de março: Sinfônica abre Temporada 2007 dando destaque às obras de Beethoven

02/03/2007

A Temporada 2007 da Orquestra Sinfônica de Campinas começa em grande estilo. No dia 17 de Março, às 20 horas e no dia 18 de Março, às 17 horas, em seu primeiro concerto do ano, a OSMC sob a regência de Carlos Fiorini, apresenta no Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes um repertório baseado na obras de um dos maiores ícones da música erudita de todos os tempos: o alemão Ludwig van Beethoven.

A Sinfônica inicia suas apresentações com a abertura da obra "As Criaturas de Prometheus", música de balé baseada em um dos mais famosos contos da mitologia grega. A apresentação segue com o "Concerto para violino, op.61, em Ré Maior", única obra do compositor romântico voltada para o solo do violino e que contará com a participação especial do solista Alessandro Borgomanero. A "Sinfonia n.8, em Fá Maior" também conhecida como "Épico de Humor", encerra o programa.

Os ingressos podem ser encontrados na bilheteria do Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes a partir do dia 14, quarta-feira e custam R$ 15,00. Estudantes e aposentados têm direito a meia-entrada.

 

-  Serviço -

 

As Obras

O Solista

Ludwig van Beethoven (Bonn, 1770-Viena, 1827)

As criaturas de Prometheus, op. 43 – Abertura

Segundo Hesíodo em sua Teogonia, Prometeu era um titã e teria criado a humanidade ao dar vida a duas estátuas, um homem e uma mulher, modeladas por ele em argila. Por ter proporcionado aos homens o conhecimento e o controle do fogo, foi amarrado por Zeus no cume de um rochedo e diariamente uma águia devorava seu fígado, que se regenerava durante a noite; ao amanhecer a tortura recomeçava. Libertado por Héracles (Hércules para os romanos), o mito de Prometeu é uma metáfora da entrega da luz e conhecimento à humanidade e por isso o titã era considerado entre os gregos como um espírito sublime.

As criaturas de Prometheus, o único balé composto por Beethoven, foi uma homenagem à imperatriz Maria Teresa, segunda esposa de Francisco da Áustria. Escrito no período entre a primeira e a segunda sinfonias, foi concebido para ser coreografado pelo mestre de balé italiano Salvatore Viganò, que o estreou no Hofburgtheather a 28 de março de 1801. Na época foi anunciado como "Die Geschöpfe des Prometheus [As criações de Prometheus], bailado heróico e alegórico em dois atos".

Como a partitura pertence ao primeiro dos três períodos composicionais de Beethoven, ela guarda algumas características do período clássico, em especial com a obra de Mozart. Segundo o musicólogo Marc Vignal, o mito de Prometeu sofre "um tratamento racionalizado no sentido do Iluminismo", em referência à obra de Goethe que serviu de inspiração para este balé. Além da abertura, o balé é composto por uma introdução e dezesseis quadros, mas somente a abertura é regularmente apresentada nas salas de concerto.

Concerto para violino, em Ré Maior, op.61

Este concerto, dedicado ao amigo violinista Stephan von Breuning, estreou no dia 23 de dezembro de 1806 em Viena, sob a regência do próprio compositor e o solista foi Franz Clement, um dos maiores virtuoses da época.

Quando escreveu esse concerto Beethoven já tinha bastante experiência na escrita para violino, instrumento que havia estudado em sua juventude: já tinha composto as Romanças para violino e orquestra, além de nove das suas dez sonatas para violino e piano. Apesar disso o concerto não foi bem sucedido e Beethoven resolveu transformá-lo em um concerto para piano, que dedicou à esposa de von Breuning.

O concerto para violino só reapareceu em 1844 quando Felix Mendelssohn, à frente da Sociedade Filarmônica de Londres, programou a sua execução. O solista foi Joseph Joachin, então com doze anos de idade, e que seria o mais famoso violinista de seu tempo. Entretanto, o concerto executado por este virtuose não era o mesmo da estréia de Viena. Segundo Carl Czerny, o Concerto para violino em Ré Maior foi escrito rapidamente e o compositor só conseguiu terminá-lo dois dias antes da estréia para desespero do solista. Devido à pressa, alguns trechos da parte solista estavam apenas esboçados e Beethoven promoveu posteriormente uma extensa revisão, tanto na parte solista como na orquestral.

Se por ocasião da estréia Beethoven não escreveu as cadenzas, deixando-as a cargo do solista, ele o fez quando resolveu transformá-lo em concerto para piano no ano seguinte. Alguns violinistas se apropriaram destas cadenzas, enquanto outros criaram suas próprias, como o próprio Joseph Joachin e Fritz Kreisler.

O primeiro movimento, Allegro ma non troppo, começa de forma peculiar: quatro golpes de tímpano em pianíssimo (o quinto coincide com a entrada das madeiras), um motivo que persistirá durante todo o movimento. Segundo alguns analistas, trata-se de uma "falsa exposição" e somente com a entrada do violino, após a longa introdução, é que acontece a exposição dos temas.

O Larghetto tem movimento harmônico reduzido e é construído sobre um tema único, bastante simples, apresentado pelas cordas em surdina. Sobre ele são elaboradas variações, sendo que em alguns momentis o solista apenas realiza ornamentações, não apresentando o tema.

O último movimento é um Rondó bastante alegre, no qual Beethoven insere uma entrada notável para a orquestra. Também há lugar para uma cadenza, e a coda final, que recorda ainda o tema original do refrão, é longa e culmina num final brilhante, calculado para a virtuosidade de Franz Clement, seu primeiro intérprete.

Sinfonia n.8 em Fá Maior, op.93

Beethoven escreveu a sétima e a oitava sinfonias no mesmo ano, 1812, mas as duas tomaram sentidos opostos. Enquanto a sétima é expansiva e segue a tendência das sinfonias anteriores, a oitava, mais compacta e concentrada, soa como um retorno ao estilo clássico do início de sua carreia.

Levando-se em consideração o período conturbado pelo qual passava o compositor, a oitava sinfonia surpreende pelo bom humor. Além da crescente dificuldade de audição, da saúde debilitada e do rompimento com o irmão, este teria sido o ano da partida da misteriosa "amada imortal", figura cuja identidade é motivo de intensas discussões. Apesar de toda contrariedade, concluiu a Sinfonia nº 7 em abril e a nº 8 em outubro daquele ano de 1812.

A estréia da Sinfonia nº 8, que não recebeu qualquer dedicatória, ocorreu em fevereiro de 1814, num concerto do qual faziam parte a Sinfonia nº 7 e A vitória de Wellington, obras que haviam estreado pouco tempo antes, em dezembro de 1813. Colocada frente a frente com a anterior, a Sinfonia nº 8 teve uma recepção morna e ficou conhecida como "a pequena sinfonia", denominação aceita pelo próprio compositor, e que faz referência às suas dimensões mais contidas.

Beethoven tinha apreço por esta sinfonia e certa vez, quando o pianista Carl Czerny, então seu aluno, comentou que ela era menos popular que a anterior, respondeu com veemência: "Isto é porque ela é muito melhor!"

O primeiro movimento, Allegro vivace con brio, é breve, mas cheio de eventos nos quais melodias curtas seguem-se rapidamente umas às outras. Aqui, ao contrário de outras obras de Beethoven, o clímax acontece na recapitulação, não durante a seção de desenvolvimento.

O segundo movimento, Allegretto scherzando, é uma descontraída referência a Johann Maelzel e à sua recente criação, o metrônomo. As madeiras iniciam em um ostinato, uma batida regular que atravessa quase todo o movimento e que equivale ao movimento do metrônomo. O segundo tema, um motivo ainda mais rápido sugere que o metrônomo vai perdendo a exatidão. Conta-se que ao ouvir esse movimento, o filósofo pessimista Arthur Schopenhauer teria dito que ouvi-lo bastava para fazer qualquer um esquecer que o mundo era somente miséria.

Devido ao terceiro movimento, Tempo di Menuetto, esta sinfonia foi associada a um retorno ao estilo clássico do primeiro período composicional de Beethoven, lembrando que esta sinfonia pertence ao final do segundo. Como em obras anteriores, aqui caberia um scherzo e não um minueto, forma que já havia caído em desuso. Na seção central do movimento destaca-se um dueto de trompa e clarineta.

Já o longo movimento final, Allegro vivace, tem um tempo bastante rápido e foi escrito na forma de Rondó. A parte final, a coda, é uma das mais longas e elaboradas em toda a obra de Beethoven e leva a uma conclusão na qual momentos de alegria e leveza contrastam com a imagem severa que temos do compositor.

Lenita W. M. Nogueira

DICIONÁRIO MUSICAL

Cadenza. Passagem ornamentada, por vezes improvisada, que ocorre geralmente pouco antes do final de uma peça ou seção, na qual a orquestra silencia e o solista demonstra sua virtuosidade.

Carl Czerny (Viena, 1791-1857). Pianista, compositor e professor. Atualmente é mais lembrado por sua enorme produção de peças didáticas para piano, ainda hoje muito utilizadas em conservatórios e escolas de música.

Pianíssimo. Dinâmica assinalada na partitura como pp e que indica que a nota ou grupo de notas deve ser tocado com baixa intensidade.

Rondó. Forma musical que envolve o uso de um tema que reaparece entre uma série de episódios, freqüentemente utilizado em movimentos finais de ritmo rápido.

Variações. Forma que envolve a repetição de um tema em diferentes versões; é possível variar a melodia, o ritmo, a harmonia e outros elementos do tema.

 

 

 

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