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Autores e Obras

10/05/2013

 
WOLFGANG AMADEUS MOZART (Salzburgo, 1756-Viena, 1791)

Sinfonia Nº. 38 em Ré Maior – Praga, KV 504

Cansado da vida provinciana de Salzburgo e com parcas possibilidades de prosperar ali, Mozart, acompanhado pela mãe, resolveu deixar sua cidade natal. Passou algum tempo em Augsburg, terra natal de seu pai, depois foi para Mannhein, onde permaneceu alguns meses acompanhando a famosa orquestra local, a qual, dirigida por Carl Stamitz, estabeleceu padrões para a execução de música sinfônica, até então inexistentes. Na sequência Mozart seguiu para Paris, onde sofreu um grande baque, sua mãe veio a falecer ali, causando-lhe grande consternação, além de um enorme sentimento de culpa por tê-la levado em tal aventura.

Abatido, retornou para Salzburgo e ali entrou em conflito com o poderoso arcebispo Hieronymus Von Colloredo, já que este insistia em determinar como ele deveria compor. Descontente com essa situação resolve abandonar definitivamente sua cidade natal, apesar de ter sido indicado para o disputado posto de mestre-de-capela em Salzburgo. Instalou-se em Viena para tentar a sorte como artista independente, numa época em que os músicos só conseguiam sobreviver se estivessem vinculados ou à aristocracia ou à igreja. A figura do artista independente só iria se firmar algum tempo depois com Beethoven (1770-1827), já que Mozart, um dos primeiros a tentar isso, faleceu bastante jovem.

Pouco tempo depois de sua chegada a Viena, Mozart se casou com Contanze Weber, com quem compartilhou momentos de penúria até a estreia da ópera As bodas de Fígaro, que foi recebida com entusiasmo. Foi convidado para reger sua ópera em Praga, onde já estivera com grande sucesso. Acompanhado por alguns cantores, seguiu para aquela cidade em janeiro de 1778. Dois dias após dirigir uma montagem da ópera, apresentou-se em um concerto no Teatro Nacional de Praga no dia 19 de janeiro. Nesta ocasião apresentou a Sinfonia n° 38, que havia completado em dezembro do ano anterior em Viena e que mais tarde receberia o subtítulo de Sinfonia Praga. Também constavam do programa três fantasias e variações sobre a ária Non più andrai de As bodas de Fígaro executadas ao piano pelo próprio compositor.

Historicamente a Sinfonia Praga está situada entre duas óperas: As bodas de Fígaro e Don Giovanni e está impregnada deste gênero. Foi escrita em apenas três movimentos e, ao contrário do padrão, não apresenta um Minueto e Trio. Inicia-se com uma introdução lenta, Adagio, que termina em um Allegro, criando uma estrutura que se aproxima de suas óperas, no sentido em que drama e comédia se misturam. No segundo movimento, Andante, no qual são omitidos trompetes e percussão, há um delicado e cantante diálogo entre instrumentos de cordas e de sopros. No último movimento, Finale: Presto, trechos ágeis e brilhantes são justapostos à música de grande profundidade.


 

HEITOR VILLA-LOBOS (Rio de Janeiro, 1887-1959)

Sinfonieta n° 1

Costuma-se dividir a obra de Villa-Lobos em quatro fases, sem uma indicação precisa de datas. A primeira, que vai até 1919, seria uma fase de consolidação de sua formação musical, na qual mescla elementos de música popular carioca com música erudita. A Sinfonieta n° 1 é desta fase e foi escrita em 1916. A estreia ocorreu somente seis anos depois no Teatro Municipal de São Paulo em abril de 1922, com a orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos, sob a regência do compositor. Dois meses antes Villa-Lobos havia participado da turbulenta Semana de 1922, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, e várias de suas obras foram apresentadas pela primeira vez ao público paulista, que, um tanto conservador, em alguns momentos não lhe poupou sonoras vaias.

A Sinfonieta n° 1 foi dedicada à memória de Mozart, exaltando um músico que transitava entre dois mundos antagônicos, o da aristocracia com suas regras e etiquetas, que considerava o músico mais como um produtor de entretenimento. Do outro lado, estava o mundo íntimo do artista, que clamava por independência para sua criatividade inesgotável.

A peça de Villa-Lobos, dividida em três movimentos, Allegro giusto, Andante non troppo e Andantino, é baseada em dois temas, o primeiro deles, que se conclui com uma súbita revolta, reflete a aristocracia europeia à qual Mozart servia, e o segundo, de caráter ao mesmo tempo violento, grave e misterioso, se transforma em um hino melancólico e apaixonado. Os dois temas vão se alternando e no decorrer da peça há predominância ora de um, ora de outro.


 

JOSEPH HAYDN (Rohrau, 1732-Viena, 1809)

Sinfonia n° 45 - A Despedida

Considerado o criador da estrutura sinfônica e do quarteto de cordas tal como os conhecemos hoje, a produção de Haydn inclui cento e quatro sinfonias, peças vocais profanas e religiosas, quartetos de cordas, divertimentos, aberturas, sonatas e concertos para as mais variadas formações, incluindo trinta e duas peças para relógio mecânico.

Em 1761 assumiu o cargo de Kapellmeister em Esterháza, o grande palácio na região de Fertöd, Hungria, construído pelo príncipe Nikolaus Esterházy, o novo patrão de Haydn. Este trabalhou ali por mais de trinta anos como responsável pela música da corte e, apesar do isolamento geográfico, tinha ampla liberdade para compor. Assim pôde desenvolver seu trabalho de maneira bastante livre, explorando e desenvolvendo diversas técnicas de composição. Após a morte de Esterházy em 1790, Haydn deixa o serviço no palácio, mas desde a década de 1780 já havia adquirido enorme prestígio e era cortejado por empresários de Londres e Paris e por estudantes de música que acorriam de todas as partes da Europa para tomar aulas com o mestre.

A Sinfonia n° 45, conhecida como A Despedida, foi escrita em 1772 para a formação que Haydn dispunha na orquestra de Esterházy, dois oboés, duas trompas, fagote e cordas. Os componentes da orquestra do palácio recebiam bons salários, mas não tinham autorização para levar suas famílias, com exceção do spala da orquestra e de Haydn, que era o regente da orquestra. Somente na época de inverno, quando o príncipe deixava o castelo para passar uma temporada em Eisenstadt, os músicos podiam sair de Esterháza para passar uma temporada com suas famílias.

Entretanto, naquele ano de 1772, o príncipe não dava sinais de sua partida para a jornada de inverno e, segundo o biógrafo de Haydn, Griesinger, os músicos, apreensivos com este estado de coisas, pediram a intervenção de Haydn. Ao invés de ter uma conversa com seu patrão, que certamente seria constrangedora, Haydn decide compor uma sinfonia na qual ficasse claro o sentimento dos músicos. O recurso utilizado aparece no inusitado final da Sinfonia n° 45 e consiste na saída gradual dos músicos, que vão deixando a cena um por um. Ficou combinado que, assim que terminassem suas respectivas partes, cada um deveria guardar seu instrumento, apagar as velas que iluminavam as partituras e abandonar a orquestra. Desta forma, sem qualquer palavra, ao ouvir a sinfonia, depois batizada de A Despedida, o príncipe se deu conta do objetivo desta encenação e já na manhã seguinte partiu com sua corte para a temporada em Eisenstadt.

O primeiro movimento (Allegro assai) se abre com o tema principal formado por arpejos descendentes pelos primeiros violinos contra acordes sustentados pelas madeiras e síncopes dos segundos violinos. O segundo movimento (Adagio) apresenta violinos com surdina anunciando o tema principal, com pouco destaque para as madeiras. Segue-se um Minueto (Allegro), com um Trio (que é como se chama a parte central de um Minueto), no qual predominam as trompas, conduzindo ao Finale que tem dois momentos, um trecho em andamento rápido (Presto) e outro que apresenta a conclusão lenta e inesperada (Adagio), na qual os músicos, inclusive o maestro, vão deixando a cena, até que restam somente dois violinos que concluem a peça.



Lenita W. M. Nogueira

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