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24 e 25 de março: OSMC faz primeira audição mundial da peça "Trópicos - Variações Concertantes"

21/03/2007

 

As Obras

FRANZ PETER SCHUBERT (Viena, 1797-1828)

Abertura em Ré Maior, D12

Enquanto Beethoven foi o primeiro compositor a viver como músico independente da aristocracia do século XVIII, Schubert, nascido uma geração depois, foi um dos primeiros músicos boêmios, abrindo as portas para o romantismo. Filho de um modesto professor levou uma vida modesta, sempre amparado financeiramente por amigos. Durante sua curta existência foi pouco conhecido, já que Viena vivia à sombra do grande Beethoven. Este faleceu em 1827, e Schubert, então com trinta anos, tinha tudo para tornar-se um dos músicos mais importantes de seu tempo, mas a vida boêmia e as privações ceifaram sua vida já no ano seguinte.

Schubert compôs a sua primeira peça para orquestra por volta de 1811. Tratava-se da Abertura em Ré Maior, op. 4, escrita como preâmbulo para a comédia Der Teufel als Hydrolicus (O diabo como bombeiro hidráulico) de J. F. E. Albrecht. Esta obra inaugurou uma série de obras similares, destinadas à cena ou para concertos. Neste último aspecto encontramos a Abertura em Ré Maior, D12, escrita entre 1811 e 1812. Obra de juventude (se bem que Schubert nunca chegaria à maturidade), já revela a qualidade da sua obra posterior, cuja existência foi fundamental para o desenvolvimento da música do período romântico, em especial para o lied (canção).

A indicação que aparece após o nome da obra, no caso "D12", refere-se Otto Erich Deutsch, que elaborou uma catalogação cronológica das obras de Schubert.

 

JÔNATAS MANZOLLI (1961)

Trópicos - Variações concertantes para três percussionistas e orquestra

Segundo o compositor, nesta obra são relacionados matizes orquestrais e percussão, visando criar um novo espaço timbrístico. A orquestração valoriza os diversos timbres da percussão, que é tratada de forma bastante ampla. O processo de composição, minucioso, resulta na criação de relações rítmicas inusitadas e na superposição de camadas sonoras, que ampliam o conteúdo espectral da orquestra. A obra destaca a ação dos solistas de três instrumentos de percussão de teclado (vibrafone, xilofone e a marimba de cinco oitavas) e o uso intensivo de outros instrumentos de percussão da própria orquestra.

A forma musical, variações concertantes, implica em um diálogo entre os solistas e a orquestra, no qual a diversidade das sonoridades resultantes desses encontros é explorada. Os solistas geram material novo em passagens virtuosísticas e a orquestra as ilumina com cores instrumentais e pontuações rítmicas e harmônicas. Manzolli utiliza-se de técnicas inspiradas na composição eletroacústica para criar pedais e ressonâncias entre os naipes da orquestra.

A exploração de matizes é submetida a nove variações: Prólogo, Ártico, Trópico de Câncer, Paralelo 37, Equador, Trópico de Capricórnio, Paralelo 73, Antártico, Epílogo. Um outro aspecto inovador dessa obra é a utilização de luzes que visam suscitar no ouvinte uma ampliação dos sentidos, através da navegação em uma paisagem sonora criada pela sonoridade original dos instrumentos de percussão.

Manzolli lembra que a relação entre os sentidos já foi explorada por compositores como Scriabin, já foi alvo de discussão entre pintores como Kandinsky e músicos como Stravinsky e bastante explorada por Olivier Messiaen, que utiliza cantos de pássaros para criar um vínculo entre cor instrumental e orquestração. Em Trópicos o timbre é uma metáfora da evolução de ritmos e dinâmicas que se interpolam sugerindo o calor e a temperatura que emergem das sensações sonoras.

 

LUDWIG van BEETHOVEN (Bonn, 1770-Viena, 1827)

Sinfonia nº 2 em Ré Maior, op.36

"Foi a Arte, ela só, que me reteve. Ah! Parecia-me impossível deixar este mundo sem ter realizado tudo o de que me sentia incumbido. E assim eu prolongava esta vida miserável, um corpo tão irritadiço que a mais pequena mudança pode lançar-me do melhor ao pior estado. — Paciência! Assim me falam. . . É ela que devo agora escolher para guia. Tenho-a. Durável, eu o espero, deve ser minha resolução de resistir até que às Parcas inexoráveis apraza cortar-me o fio da existência. Isto irá talvez para melhor, talvez não: estou preparado."

Desde 1799 a audição de Beethoven já dava sinais dos problemas que o deixariam surdo. Em 1802 seu estado se agravara e o médico sugeriu uma estada no campo para "poupar os ouvidos". Estabeleceu-se em uma aldeia próxima à Viena, Heiligenstadt. Ali, em desespero suicida, escreveu um pungente testamento endereçado a seus irmãos, do qual transcrevemos o texto acima.

Localizado vinte e cinco anos após a sua morte, apesar de nunca ter sido enviado , o Testamento de Heigenstadt revela quão próximo o compositor passou de por termo à sua vida, o que teria privado a humanidade de algumas das obras primas do gênero humano.

O contraste entre o estado de espírito do compositor e as obras produzidas neste período, entre as quais estão o Concerto para Piano nº 3 e Orquestra e a Sinfonia nº 2, é admirável. O caminho que encontrou para sobrepujar a depressão foi compor sem trégua, conforme escreveu a um amigo: "eu vivo somente nas minhas notas e assim que um trabalho termina, o outro já está iniciado; freqüentemente me encontro trabalhando em três, quatro coisas ao mesmo tempo."

A Sinfonia nº 2, apresentada no Theater der Wien em 5 de abril de 1803, ao ultrapassar as fronteiras clássicas, desconcertou os críticos. Aqui Beethoven ingressa numa esfera de expressão dramática, na qual fortes contrastes ocorrem com proximidade inesperada. Quebras na textura, na continuidade, ritmos enérgicos que cessam subitamente e retornam com uma violência jamais ouvida em composição sinfônica são algumas das inovações.

Começa com uma introdução lenta, um trecho de grande abrangência harmônica, como nunca havia sido escrito até então. O tema aparece nas cordas e em contraste as madeiras apresentam um segundo tema em ritmo de marcha. O desenvolvimento é tempestuoso e a coda, o trecho que antecede o final, é bastante estendida para os padrões da época.

O contraste de tempo entre a introdução e a seção principal, Allegro com brio, é um exemplo do uso de contrastes inusitados até então. A exposição surpreende ao apresentar o primeiro tema não como uma melodia completa num registro mais agudo, mas como um tema parcial nas cordas graves, cujo desenvolvimento explora as unidades motívicas através de uma enérgica riqueza de contrastes.

O idílico segundo movimento, Larghetto, foi definido pelo compositor francês Hector Berlioz como a "descrição de uma inocente felicidade, ligeiramente obscurecida por uns poucos acentos melancólicos". Numa graciosa seqüência de temas ao estilo de landlers, Beethoven, explorando as cores orquestrais com maestria, antecipa efeitos orquestrais que seriam utilizados no período romântico.

No terceiro movimento Beethoven utiliza pela primeira vez o termo Scherzo. De proporções contidas, há um grande contraste entre a diversidade das dinâmicas e grupos instrumentais através da passagem de uma figura simples através da orquestra. O Trio, parte central do scherzo, apresenta uma melodia nas madeiras, que logo retoma à reprise do Scherzo.

O frenético Finale se encaminha para a conclusão sinfônica mais alentada até então. Se a coda do primeiro movimento foi considerada extensa em seus cinqüenta e seis compassos, o que dizer desta que chega a cento e sessenta? Frente a esta extensão inédita, um crítico da época comparou esta sinfonia a "um monstro desafiador, escondido, como um dragão ferido que recusa a morrer e que, mesmo sangrando no final, furiosamente continua mantendo a cauda erguida".

Embora inovadora a Sinfonia nº 2 mantém as relações com a tradição, em especial no que diz respeito à forma. Além de uma ornamentação clássica, alguns ecos da Sinfonia nº 38 de Mozart, Praga, podem ser localizados.

"—Adeus e não vos esqueçais inteiramente de mim, quando eu morrer. Eu mereço que penseis em mim, pois freqüentemente, em vida, pensei em vós, para fazer-vos felizes. E sede felizes."

DICIONÁRIO MUSICAL

Espectral. Refere-se aos componentes fundamentais do som ou parciais. Ampliar o conteúdo espectral da orquestra significa aumentar a sua gama de sonoridades. A interação de instrumentos predominantemente harmônicos com os de natureza inarmônica da percussão, amplia o número de parciais da orquestra. O timbre sinfônico fica mais rico.

Hector Berlioz. (1803-1869). Compositor francês do período romântico, muito influenciado pela literatura. Escreveu obras como Sinfonia Fantástica, A danação de Fausto e o ciclo de canções Nuit d’été. É considerado um dos mestres da orquestração e sua obra Instrumentação Moderna e Orquestração é até hoje utilizada como referência didática. Promoveu a obra de Beethoven na França e a apresentação que realizou da Terceira Sinfonia (Eroica) parece ter causado uma virada na sua obra.

Landler. Trata-se de uma dança campestre em 3/4 ou 3/8, muito popular no fim do século XVIII na região da Áustria, sul da Alemanha e Suíça.

 

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