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31 de março e 01 de abril: Em seu terceiro concerto oficial da temporada 2007, a OSMC dá destaque especial à sonoridade de dois instrumentos de corda

26/03/2007

Os Solistas  | Serviço

30/03/2007, 09:42
Autor: Regina Rocha Pitta

Em seu terceiro concerto oficial da temporada 2007, a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC) dá destaque especial à sonoridade de dois instrumentos de corda: o violino e a viola, com os solistas Esdras Rodrigues e Emerson De Biaggi, respectivamente, que interpretarão obras de três grandes ícones da música clássica, sob a regência do maestro Karl Martin. As apresentações serão no sábado, dia 31, às 20 horas, e no domingo, 1º de abril, às 17 horas, no Teatro Luís Otávio Burnier, no Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes.

A abertura das apresentações será com a obra Abertura, op. 84 - Egmont, do alemão Ludwig van Beethoven, que foi escrita para a peça homônima em 1788. A seguir, será interpretado Sinfonia Concertante, em Mi bemol Maior, K.364, do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, com os solistas Esdras Rodrigues e Emerson De Biaggi. Para finalizar a apresentação, os músicos interpretarão Sinfonia nº 82, em Dó Maior, O Urso, composta pelo também austríaco Franz Joseph Haydn.

 

 

 

As Obras

Ludwig van Beethoven (Bonn, 1770-Viena, 1827)

Egmont – Abertura, op.84

Ao receber a encomenda para escrever música incidental para Egmont, peça teatral de Goethe, Beethoven ficou bastante entusiasmado, pois além de ser grande admirador do escritor, teria uma oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Escreveu cartas a Goethe, a quem se dirigia com uma humildade que lhe era pouco característica: "O senhor receberá em breve minha música para Egmont – este maravilhoso Egmont que eu li e senti e escrevi a música pensando calorosamente no senhor. (...) Mesmo a censura será benéfica para mim e para minha arte, e será muito bem-vinda como uma honra infindável." Goethe respondeu dizendo que o compositor havia expressado suas intenções com "um gênio marcante" e demonstrava uma determinada passagem da partitura.

Baseada em fatos reais, a peça trata de temas caros a Beethoven, a luta contra a tirania e a exaltação heróica da resistência à opressão. O drama ocorre no século XVI durante a rebelião dos flamengos contra o domínio espanhol. O Conde Egmont tenta negociar com os espanhóis um tratamento menos tirânico, mas acaba condenado à morte, o que incita ainda mais o povo flamengo, que acaba por vencer a batalha.

Ideais de liberdade política estão presentes em diversas composições de Beethoven, como em Fidelio, sua única ópera, cuja trama tem um certo paralelo com Egmont, embora o primeiro tenha sido salvo da morte por Leonora, sua leal e corajosa esposa, o que não é a realidade de Egmont. Entretanto, o que prevalece nas duas obras é a idéia do sacrifício que conduz ao bem maior.

Além da abertura, Egmont tem mais nove trechos e estreou no dia 15 de junho de 1810. A abertura é freqüente nas salas de concertos, o que não ocorre com as outras nove partes da composição.

A abertura é poderosa e expressiva e, ao introduzir as personagens principais, prepara a audiência para os temas da peça: a força de caráter de Egmont, o amor de Klärchen por ele e a vitória sobre os espanhóis.

A introdução lenta retrata o sofrimento da população flamenga sob o jugo espanhol e o final festivo a celebra a vitória contra a opressão. Este tema reaparece no final do nono quadro da peça com o título Siegessinfonie — ou Sinfonia da Vitória.

Wolfgang Amadeus Mozart (Salzburgo, 1756 - Viena, 1791)

Sinfonia Concertante para Violino e Viola, em Mi bemol Maior, K.364

O final do século XVIII marca o advento dos concertos públicos, a música deixava de ser exclusiva dos salões da nobreza e passava a ser apresentada em salas de concerto. Esta mudança propiciou o surgimento de formas menos extensas, que contemplavam os anseios desse novo público. Seguindo esta tendência a Sinfonia Concertante, uma estrutura sinfônica com elementos de concerto, é uma criação desse período e tornou-se rapidamente popular ao apresentar combinações variadas de instrumentos e instrumentistas.

Em 1778 Mozart realizou uma viagem a Paris e ali esboçou duas sinfonias concertantes. Mas a estadia nessa cidade foi atribulada, os tempos de menino-prodígio haviam passado e a sobrevivência era uma batalha diária. Além disso, sua mãe faleceu em Salzburgo e ele retornou a contragosto para sua cidade natal em janeiro de 1779. Ali retomou as duas sinfonias concertantes de Paris, mas logo abandonou uma delas e concluiu esta para violino e viola. Alfred Einsten a considera como a "coroação das realizações de Mozart no campo do concerto para violino" e a coloca num patamar acima dos concertos para cordas escritos anteriormente.

Como Mozart estava na sua cidade natal e não tinha que prestar contas a ninguém, não há referências a esta peça, nem em sua correspondência, nem em documentos da época. Assim, não se sabe nada sobre a estréia, sobre a orquestra e solistas, embora se acredite que o próprio Mozart teria sido o violista.

Do manuscrito autógrafo restaram apenas algumas anotações do primeiro movimento e das cadenzas. Estas têm valor inestimável, já que são as únicas autênticas entre todos os concertos de Mozart para cordas.

Mozart escreveu a parte da viola em scordatura para a tonalidade de Ré Maior, meio tom abaixo do Mi bemol original, e instruiu o violista a afinar seu instrumento meio tom acima do normal, de forma o som resultasse mais brilhante devido ao uso mais freqüente de cordas soltas. Atualmente os violistas preferem trabalhar com a transcrição da partitura para Mi bemol, evitando a mudança de afinação.

A Sinfonia Concertante em Mi Bemol Maior tem três movimentos, nos quais existem notáveis diálogos instrumentais, não somente entre os solistas, mas também entre trompas e oboés, madeiras e cordas, solistas e orquestra.

Em seu livro, "O estilo clássico", Charles Rosen afirmou que a sonoridade desta peça é única e que o só o primeiro acorde já é um marco na carreira de Mozart que, através de uma singular combinação instrumental, criou uma sonoridade ao mesmo tempo pessoal e ligada intrinsecamente à natureza da obra. Esta obra é reconhecida como uma das obras primas da juventude de Mozart, além de marcar sua entrada na maturidade composicional,

No primeiro e último movimentos a orquestra é tratada de forma bastante participativa, o que contrasta com o papel de acompanhamento que desempenha no segundo, onde há um diálogo lírico entre os solistas, que se movimentam em uma estrutura que permite a eles o compartilhamento de uma corrente de melodias. No movimento final há uma introdução na qual humor é permeado por um sentimento de tragédia, que no final é dissipado pelo ligeiro Rondó, introduzido pela orquestra, seguido pelos solista, que executam uma melodia de grande beleza, marcada por pequenas figuras que sugerem os figuras rítmicas conhecidas como "chicote escocês" ou "ritmos lombardos".

Franz Joseph Haydn (Rohrau, Áustria, 1732-Viena, 1809)

Sinfonia n.82, em Dó Maior, "O Urso"

Haydn escreveu 104 sinfonias, além de óperas, quartetos de cordas, divertimentos, aberturas, sonatas e concertos para as mais variadas formações, incluindo trinta e duas peças para relógios mecânicos. Empregado na corte Esterházy da Hungria, por volta de 1780 Haydn já havia adquirido enorme prestígio e era cortejado por empresários de Londres e Paris e por estudantes de música que vinham de todas as partes da Europa tomar aulas com o mestre.

Em 1784 uma encomenda de seis sinfonias para os Concerts de la Loge Olympique, uma sala de concertos por subscrição em Paris, ampliou consideravelmente seu horizonte musical, pois pôde escrever música para uma orquestra bem mais numerosa que a disponível em Estherhaza, que tinha cerca de vinte e quatro músicos. Estava à sua disposição uma orquestra com quarenta violinos e dez contrabaixos, além de dois executantes para cada instrumento de sopro. Haydn não pôde ir a França ouvir as chamadas Sinfonias de Paris (nº 82 a 87), apresentadas entre 1785-86.

Apesar de ser a de número 82, o que se presume teria sido a primeira composta, esta foi na verdade a última das seis a ser escrita e foi completada em 1786 e apresentada no ano seguinte. Desde sua estréia tem sido popularmente conhecido como "O urso", um nome que não foi agregado pelo compositor, mas que deriva de uma característica recorrente do último movimento no qual Haydn sugere um som de Dudelsack, um tipo de gaita de fole alemã, também conhecida como Schaeferpfeife (flauta de pastor) ou Sackpfeife. Um som sustentado no grave, acentuado por uma appoggiatura no tempo fraco resultou em um curioso som que relembrou aos ouvintes a música que acompanhava os "ursos dançantes" durante o bear-baiting (isca de urso), uma forma popular de entretenimento proibida por volta de 1835, por envolver o sofrimento dos animais.

A peça é escrita nos tradicionais quatro movimentos e há um conflito entre as fontes manuscritas no que diz respeito à utilização dos metais. O padrão atual é apresentar "O urso" com trompas e trompetes.

Lenita W. M. Nogueira

DICIONÁRIO MUSICAL

Appoggiatura. Do italiano appoggiare, apoiar. Trata-se de um ornamento musical no qual uma nota é adicionada à nota principal, e "rouba" parte do valor desta. É grafada como uma nota em tamanho reduzido e conforme a intenção do compositor pode apresentar um traço oblíquo sobre a haste.

Goethe, Johann Wolfgang von. (1749-1832). Escritor alemão, considerado um dos pilares da literatura universal e um dos líderes do movimento chamado Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto) que influenciou bastante a obra de Beethoven. Sua atuação era múltipla, tendo atuado como novelista, poeta, dramaturgo, teórico, cientista e pintor. Várias de suas obras foram adaptadas ou serviram como enredo de obras musicais, entre elas Fausto e Os Sofrimentos do Jovem Werther.

Scordatura. É uma afinação alternativa utilizada nos instrumentos de cordas. É uma técnica que permite a execução de melodias, harmonias, figuras e acordes que seriam impossíveis na afinação normal. No caso da Sinfonia Concertante de Mozart acredita-se que a intenção era que a viola soasse mais potente que quando executada na orquestra.

Viola. (em francês, alto e em alemão Bratsche). De formato similar ao violino, este instrumento tem dimensões maiores e soa, portanto, mais grave que o violino. Seu timbre é mais escuro e mais encorpado que o violino. Na orquestra é utilizada freqüentemente para executar a parte interna da harmonia.

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