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14 e 15 de abril: Richard Wagner; Almeida Prado [solista: Niza Tank] ; Franz Schubert

03/04/2007

A Solista  | Serviço

As Obras

RICHARD WAGNER (1813-1883)

Idílio de Siegfried

"Saudação Sinfônica de Aniversário". Assim Wagner escreveu na dedicatória à sua esposa Cosima, que recebeu tão admirável presente no dia 25 de dezembro de 1870. Em seu diário ela relembra que neste dia acordou com uma música (e que música! escreveu) que subia pelas escadas. Wagner, que colocara uma orquestra tocando nas escadas, veio até ela com seus cinco filhos e ofereceu-lhe a partitura de O Idílio de Tribschen.

Esta era um dos primeiros momentos de estabilidade familiar do casal, que havia iniciado anos antes um rumoroso relacionamento e Cosima, mesmo casada com o regente e pianista Hans von Büllow, deu à luz três filhos de Wagner, Isolda, Eva e Siegfried. Este nasceu em junho de 1869 e também foi lembrado na dedicatória do Idílio: "Tribschen - Idílio com o chilreio de Fidi e a Aurora Laranja, ofertado como uma saudação sinfônica de aniversário à sua Cosima por seu Richard, 1870." A aurora laranja era resultante do brilho do sol sobre o papel de parede alaranjado no quarto do bebê, chamado carinhosamente de Fidi.

A escolha de uma orquestração reduzida, com apenas quinze músicos, não teve razão estética, mas foi determinada pela quantidade de músicos que cabiam na escadaria da casa. Em uma apresentação privada em Manhein no ano seguinte, sem a limitação de espaço, Wagner ficou à vontade e pôde ampliar o número de músicos.

O Idílio de Tribschen extrapolava o aspecto puramente musical e tinha enorme valor sentimental para Wagner, que decidiu não tornar pública a sua "saudação sinfônica". Entretanto, em 1877, premido por dificuldades financeiras, se viu obrigado a vender a peça, o que levou Cosima a anotar no seu diário:"o tesouro secreto irá virar propriedade pública".

A peça ganhou um novo nome, Idílio de Siegfried, e o público logo a associou à terceira parte da tetralogia O anel dos Nibelungos, cujo nome é justamente Siegfried, que havia estreado em 1876. Na verdade teria ocorrido o contrário, trechos do Idílio de Siegfried é que foram incorporados ao drama musical Siegfried.

A exata origem do Idílio é controversa: alguns escritores afirmam que seria baseada em um quarteto para cordas dedicado a Cosima. Já Barry Millington, em seu compêndio sobre Wagner, afirma que a fonte do Idílio seria a canção de ninar Dorme, neném, dorme que Wagner havia escrito em 1868.

Idílio de Siegfried, uma das poucas composições de Wagner não ligadas à música vocal, é um poema sinfônico cheio de lirismo e em diversos momentos assume um caráter pastoral, que repercute a atmosfera da casa de Tribschen. Começa e termina com destaque para as cordas e na parte central destaca-se o tema Dorme, neném, dorme, executado pelo oboé. A ser destacado também é a notável imitação de cantos de pássaros.

ALMEIDA PRADO (Santos, 1943)

Tríptico Celeste

Um dos mais reconhecidos compositores brasileiros, Almeida Prado estudou piano com Dinorah de Carvalho e composição com Osvaldo Lacerda e Camargo Guarnieri. Entre 1969 e 1973 estudou em Paris com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen, que influenciaram grandemente a sua obra. Realizou estudos também com Georgy Ligeti e Lucas Foss e venceu por duas vezes o Prêmio Lili Boulanger. De volta ao Brasil, em 1974 foi convidado para lecionar composição no então nascente Departamento de Música da UNICAMP, de onde se aposentou em 2000. Atualmente dedica-se somente à composição.

Escreveu mais de quatrocentas obras e transitou por diversos estilos, desde o nacionalismo musical, atonalismo, música pós-serial, chegando a um estilo próprio que chamou de "tonalismo estendido" desenvolvido nas Cartas Celestes. Escreveu obras de grande fervor religioso como missas, cantatas e oratórios, ao lado de peças de caráter afro-brasileiro. Um exemplo é a Sinfonia dos Orixás, de 1985, cuja estréia nacional foi realizada pela Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. Sua música tem em geral uma integridade estrutural rigorosa, efeitos harmônicos e timbrísticos muito pessoais, além de um conteúdo poético e espiritual.

Tríptico Cesleste foi composto em 1983 para piano, mas o compositor achou que tinha um caráter sinfônico e realizou a orquestração entre 1991 e 1992, adicionando uma voz solista. Esta obra faz parte de um conjunto de peças que fazem referências aos primeiro ciclo das Cartas Celestes e são desta fase obras bastante reconhecidas como Aurora e Halley , cujos temas têm relação com o mapa celeste.

O poema em que se baseia esta obra é de autoria do próprio compositor e segundo ele trata das emoções humanas em relação ao cosmo. Suas três partes estão relacionadas a três faces do amor, tendo como pano de fundo a simbologia dos astros.

O primeiro movimento, O chamado da estrela Alfa de Centauro, apresenta um anjo vocalizando e retrata o amor místico puramente espiritual e inatingível; o segundo movimento, Lua impossível se aproxima do minimalismo para descrever um amor que não pode ser consumado, descrito na partitura como "impossível conúbio"; já no terceiro movimento, Bendito o Sol, a ligação finalmente se consuma e acontece a celebração do sol, com explosões de luz, vida, alegria, amor, paixão e de tudo o que é belo, segundo o próprio compositor.

FRANZ SCHUBERT (Viena, 1797, 1828)

Sinfonia nº 3 em Ré Maior, D.200

A Sinfonia nº 3 foi composta entre maio e junho de 1815 e foi provavelmente apresentada na casa do violinista Otto Hatwig, onde músicos se reuniam para executar composições novas e de autores consagrados. A freqüência a este local foi de grande importância para Schubert, pois além de ouvir suas composições executadas por uma orquestra, permitiu que tomasse contato com obras de compositores como Haydn e Mozart.

Registros sobre a execução dessa sinfonia só vão ser encontrados trinta e dois anos após a morte do compositor, quando o último movimento foi apresentado em um concerto em Viena. O ano era 1860 e a Sinfonia nº 3 teria que esperar ainda mais de 20 anos para ser executada na íntegra, o que aconteceu em Londres em 1881.

Quando compôs essa obra, Schubert, então com dezoito anos, ainda não vivia de música, era professor-assistente na escola de seu pai. Apesar disto, este foi um período bastante fértil na sua produção musical, que a esta altura já ultrapassava trezentas e cinqüenta peças, entre elas a canção Gretchen am Spinnrade, considerada uma de suas obras-prima.

Esta sinfonia é concisa e sua estrutura, bastante definida, está ligada aos padrões do classicismo, em especial à música de Haydn. Após a introdução, segue-se um tema apresentado pelo clarinete que adquire um tom marcial. O estudo do manuscrito revelou que, num primeiro momento, o compositor escreveu esse tema para oboés e trompas, depois mudou para cordas e finalmente optou pela clarineta, que, aliás, tem um papel preponderante nesta sinfonia. O segundo tema também é escrito para este instrumento e deriva de um motivo de escalas ascendentes apresentadas na introdução; uma melodia de oboé, similar em caráter à da clarineta, apresenta novo material que é desenvolvido através do movimento.

O segundo movimento de uma sinfonia clássica era sempre lento e Schubert iniciou o tema em Adagio. Mas logo mudou de idéia e o reescreveu em um tempo um pouco mais agitado, Allegretto. Novamente a clarineta é evidenciada, especialmente na seção central. Segue-se um vigoroso minueto com andamento Vivace, no qual oboé e fagote dão um caráter de serenata na parte central. O final, Presto vivace, sugere uma ritmada tarantela e recorre constantemente à mesma figura de escala ascendente que vem sendo utilizada desde o início.

Lenita W. M. Nogueira

DICIONÁRIO MUSICAL

Cartas Celestes. Ciclo de catorze obras escritas por Almeida Prado para diversas formações entre 1974 e 2002, inspiradas em mapas celestes, que são tratados como visões sonoras dos céus do Brasil. A primeira Carta Celeste, para piano, surgiu em 1974, a partir de um convite do Planetário do Ibirapuera em São Paulo, que desejava uma trilha sonora para as observações do céu. Nestas obras Prado criou um sistema de estudo de ressonâncias do piano e no aspecto harmônico desenvolveu um estilo próprio que chamou de tonalismo estendido.

Cosima Wagner (Bellagio, 1837-Bayreuth, 1930). Filha de Franz Liszt e da Condessa Marie d’Agoult, casou-se com o pianista e regente Hans von Büllow (que regeu a estréia de Tristão e Isolda), de quem se separou para viver com Wagner, 24 anos mais velho, com o qual teve três filhos: Isolda, Eva e Siegfried. Após a morte do marido, foi diretora do Festival de Bayreuth durante mais de trinta anos. Entre 1869 e 1883, ano da morte de Wagner, manteve um diário, publicado tempos depois.

O anel dos Nibelungos. Composição de Richard Wagner, também conhecida como Tetralogia; é uma série de quatro dramas musicais baseados na mitologia germânica, com libretos do compositor. Suas quatro partes são: O ouro do Reno, As Walkírias, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses.

Tribschen. Pequena cidade no Cantão de Lucerna, Suiça, onde Wagner residiu entre 1866 a 1872, após ser coagido, por razões políticas, a deixar Munique. Com apoio financeiro do rei Ludwig da Baviera instalou-se em uma ampla residência próxima ao lago de Lucerna e ali escreveu obras fundamentais para a história da música: além de Idílio de Siegfried, concluiu Os mestres cantores de Nuremberg, o terceiro ato de Siegfried e começou a última parte da Tetralogia, O crepúsculo dos deuses. Atualmente esta casa é um museu dedicado a Wagner.

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