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Autores e Obras

29/03/2014
ALBERTO NEPOMUCENO (Fortaleza, 1864-Rio de Janeiro, 1920)
Scherzo para Orquestra (1894)
Após estudos no Rio de Janeiro, Nepomuceno viajou para a Europa, onde conheceu a futura esposa, Walborg Bang, então aluna do compositor norueguês Edvard Grieg, um dos mais importantes músicos da tendência nacionalista da época. Após o casamento em 1893, o casal hospeda-se por um tempo na casa de Grieg em Bergen, Noruega, e Nepomuceno, em contato mais estreito com as ideias do compositor, passa a valorizar a utilização do folclore como fonte para a composição musical.
Ao retornar ao Brasil, Nepomuceno empreendeu uma campanha pela nacionalização da música erudita. Em 1895 apresenta no Rio de Janeiro um concerto de canções em português e entra em acirrada polêmica com o crítico conservador Oscar Guanabarino, que defendia o canto em italiano. Na época acreditava-se que a língua portuguesa era inadequada para o canto, o que levou Nepomuceno a afirmar: “Não tem pátria o povo que não canta em sua língua."
 
Em 1897 apresenta a Série Brasileira, considerada como um marco do nacionalismo musical brasileiro. Sua produção musical é extensa e entre suas obras mais destacadas encontra-se O Garatuja, com libreto de José de Alencar, considerada a primeira ópera genuinamente brasileira no que tange à música, à ambientação e à utilização da língua portuguesa. Nesta composição introduz melodias populares como habanera, tango, maxixe e lundu, além de ritmos típicos de compositores populares da época como Xisto Bahia, Chiquinha Gonzaga e Joaquin Callado.
A primeira apresentação do Scherzo para Orquestra ocorreu em 1894, e foi, ao lado da Suíte Antiga, um dos trabalhos finais para obtenção de diploma no Conservatório Stern na Alemanha. Nesta ocasião a peça foi apresentada pela Orquestra Filarmônica de Berlim, sob a regência do compositor.
A palavra Scherzo, que quer dizer brincadeira, divertimento em italiano, foi utilizada por Beethoven na Sinfonia n° 3, Eroica, na qual substituiu o tradicional Minueto do terceiro movimento por um Scherzo. No caso da composição de Nepomuceno indica uma peça de caráter leve e sem compromisso com as formas tradicionais.
 
EDVARD GRIEG (Bergen, 1843-1907)
Concerto n° 1 para Piano e Orquestra em Lá menor, op. 16
Grieg é o mais importante compositor da Noruega e um dos principais defensores do nacionalismo em música, tendência importante do final do século XIX, que envolveu compositores como Dvorák, Smetana e Janacek, chegando até o século XX através de compositores como Béla Bartók, Villa-Lobos e Alberto Nepomuceno.
 
Em 1858 sua família recebeu a visita do violinista norueguês Ole Bull, que sugeriu ao jovem que fosse estudar no Conservatório de Leipzig, instituição fundada por Felix Mendelssohn alguns anos antes. Nesta cidade Grieg teve a oportunidade de ouvir o Concerto para Piano e Orquestra de Robert Schumann, interpretado pela viúva do compositor, a célebre pianista Clara Schumann. Para o jovem compositor norueguês foi uma experiência inesquecível, que iria ser fundamental quando resolve escrever seu próprio concerto para piano, no qual se pode notar algumas similaridades com o concerto de Schumann.
 
Grieg compôs este concerto aos vinte e cinco anos, durante uma temporada de férias que passou na Dinamarca. Ali conheceu o pianista e compositor norueguês Edmund Neupert, que acompanhou a composição da peça, dando sugestões e fazendo observações que deixaram Grieg muito satisfeito. Entretanto, não foi possível terminar a composição em Copenhagen e retornou a Kristiania (Oslo), onde pensava terminá-lo em breve. Mas ali havia muitos afazeres e, frustrado pelo excesso de trabalho, escreveu em novembro de 1896 ao compositor Niels Ravnkilde: "(...) agora eu tenho um concerto para piano e orquestra, que acredito ter algumas boas qualidades. Eu deveria gastar as tardes de outono instrumenando o primeiro movimento – aah, mas o tempo! Minhas tardes não me pertencem e Neupert deverá executar o concerto depois do Natal.” 
 
Não sem atraso, o concerto finalmente estreou em Copenhagen no dia três de abril de 1869, tendo Neupert como solista. A recepção foi muito boa, o que não aconteceu na Noruega alguns dias depois, o que deixou Grieg desapontado, principalmente pelos poucos comentários na imprensa. Na sequência, o concerto estreou em várias cidades da Europa e se consagrou como um das peças mais requisitadas do repertório sinfônico.
 
O momento feliz por que passava o compositor, casara-se com uma prima e há poucos meses nascera sua primeira filha, transparece neste concerto. A estrutura segue a tradição, escrita em três movimentos. No primeiro movimento, Allegro molto moderato, destaca-se a influência da música popular norueguesa. Inicia-se com os tímpanos para a rápida entrada do piano em movimentos descendentes, após o que é apresentado o tema pelos instrumentos de madeira, seguidos pelo piano, que mais adiante apresenta o segundo tema, sugerido pelos violoncelos. Já o segundo movimento, Adagio, como de praxe é mais lírico e se inicia com as cordas em surdina, conduzindo a um ambiente tranquilo que sugere riachos, cantos de pássaros e hinos tradicionais. Toda esta paz contrasta com o movimento final, Allegro moderato molto e marcato, que é introduzido sem pausa, no qual o compositor se inspira no Halling, dança típica da Noruega. Aqui aparecem cinco temas de caráter folclórico, mas todas as melodias são originais do compositor, ou seja, não há citações literais de canções, apenas sugestão de seu estilo. Antes de concluir o concerto há uma cadenza, que leva a um final bastante majestoso destacado pelos instrumentos de metal.
 
JOHANNES BRAHMS (Hamburgo, 1833-Viena, 1897)
Sinfonia n° 1, em Dó menor, op. 68
Em 1854 Brahms ouviu pela primeira vez a Sinfonia n° 9 de Beethoven (composta trinta anos antes) e escreveu a um amigo: “Eu nunca vou escrever uma sinfonia! Você não tem ideia do que é, para alguém como eu, os sentimentos que tenho quando ouço um gigante como ele [Beethoven] andando atrás de mim.”
Após a audição da Nona Sinfonia, premido pela sombra de Beethoven, pela obrigação de não ser apenas um epígono deste e pelo peso da tradição da música alemã, Brahms levaria cerca de vinte e três anos para apresentar a Sinfonia n° 1.
 
No Concerto para Piano e Orquestra n° 1 e na Serenata n°1 Brahms havia ensaiado uma escrita mais sinfônica, mas somente no verão de 1862 ousou apresentar o primeiro movimento da Sinfonia n° 1, em um concerto particular. No seu aniversário em 1868 enviou à amiga e confidente Clara Schumann o tema de trompa utilizado no finale. Muitos anos se passaram até que a sinfonia estreou em Karlsruhe em 1876, sob a regência de Otto Dessoff.
Foi a única peça para a qual Brahms programou a estreia antes de concluir a composição. Acredita-se que isso tenha relação com as disputas com Richard Wagner, já que os dois compositores seguiam caminhos opostos: Brahms era defensor das formas tradicionais, enquanto Wagner acreditava que após a Nona de Beethoven, somente as formas do Drama Musical (criado por ele) e do Poema Sinfônico podiam se justificar no campo orquestral.
A disputa pela herança beethoviana os colocou em confronto e talvez tenha dado o impulso que faltava para que Brahms apresentasse sua Sinfonia n° 1, uma reafirmação da sinfonia puramente instrumental em quatro movimentos, a forma tradicional trabalhada como nova. Naquele contexto de embate a obra foi recebida com frieza, embora o regente Hans Von Büllow tenha afirmado com entusiasmo que se tratava da “décima de Beethoven". Passada a questão com Wagner, a Sinfonia n° 1 de Brahms passou a ser considerada como uma das obras mais representativas da música sinfônica de todos os tempos.
 
 
Lenita W. M. Nogueira

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