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Autores e Obras

12/04/2014
H. VILLA-LOBOS - (Rio de Janeiro, 1887 - Rio de Janeiro, 1959)
Bachianas Brasileiras Nº 9
Seguindo a sua assertiva de que a música de Johann Sebastian Bach (1685-1750) poderia se tornar universal através do folclore, Villa-Lobos compôs entre 1930 e 1945 as Bachianas Brasileiras, uma série de nove suítes, cada uma com sua formação musical específica, nas quais buscou uma união entre o estilo denso do mestre alemão e a música popular brasileira.
Considerada como síntese da série, a Bachianas Brasileiras n° 9 foi composta em Nova York em 1945 com duas opções: para coro ou orquestra de cordas. No que se refere à versão para coro, é uma peça raramente executada devido à grande complexidade da escrita vocal. A versão para cordas também é de grande dificuldade, com especial atenção aos contrabaixos.
A primeira audição ocorreu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em novembro de 1948, com Eleazar de Carvalho à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira. Contém dois movimentos: Prelúdio: Vagaroso e místico e Fuga: Poco apressado. A peça se inicia com um acorde fortíssimo, que parte da orquestra mantém soando, agora em pianíssimo. Na sequência as violas apresentam o tema principal. Na imagem do maestro Roberto Duarte, “é como uma procissão de monges, louvando ao Senhor, caminhando lentamente entre os sons extremos (o céu e a terra?) deixados pela explosão inicial.” A Fuga, ao contrário da forma tradicional do período barroco (1600-1750), que mantém uma estrutura contrapontística todo o tempo, não segue um padrão rígido e, em alguns momentos não é possível distinguir com clareza o que é bachiano ou de inspiração brasileira. O tema é exposto pelos violoncelos, há uma resposta das violas e novamente os violoncelos apresentam o contra tema. Durante o movimento aparecem vários fragmentos do tema e vários episódios, até que é apresentada uma melodia, que Duarte indica ser “(...) como um clamor aos céus, uma pequena melodia suplicante (...)”. Chega-se à reexposição do tema pelas violas, mas é omitido o primeiro compasso, dando maior dramaticidade ao trecho. Em um grande rallentando a peça se conclui majestosamente.
 
RICHARD STRAUSS (Munique, 1864-Garmisch-Partenkirchen, 1949)
Concerto nº 2 para Trompa e Orquestra, TrV 283
Strauss foi um dos mais importantes compositores ativos entre o fim do século XIX e meados do XX. Sua vasta produção musical inclui sinfonias, poemas sinfônicos, óperas, concertos e canções. Uma de suas obras mais conhecida é o poema sinfônico Also sprach Zarathustra (Assim falou Zaratustra), tema do filme 2001: Uma odisseia no espaço, dirigido por Stanley Kubrick em 1968.
Seu pai, Franz Strauss, um dos mais respeitados trompistas da época, tocou na Orquestra da Corte da Bavária por mais de quarenta anos e participou de estreias históricas de obras de Richard Wagner como Tristão e Isolda, Os mestres cantores, O ouro do Reno e As Valquírias. De acordo com Hans von Büllow, regente altamente conceituado em seu tempo, Strauss era o “Joachin da trompa”, uma comparação com o mais festejado violinista da época, Joseph Joachin (1831-1907).
Talvez por influência do pai, Richard Strauss foi o primeiro compositor após Mozart a escrever um concerto para trompa. Tinha então dezenove anos e recebeu orientações técnicas do pai e sugestões de Büllow para que fizesse algumas alterações na parte solo do concerto. Sabe-se desse fato através de uma correspondência de Strauss e Gustav Leinhos, primeiro trompista da orquestra da corte ducal de Meiningen.
Richard Strauss escreveu o Concerto nº 1 para Trompa e Orquestra entre 1882-83 e nesta composição seguiu a trilha aberta por Richard Wagner que havia explorado as possibilidades da trompa de válvulas, instrumento desenvolvido por volta de 1820. Iriam se passar sessenta anos até que o compositor apresentasse em 1942 seu Concerto nº 2 para Trompa e Orquestra. Nesta altura o Strauss contava setenta e oito anos, havia escrito peças importantes e consagradas nas salas de concerto, como poemas sinfônicos, óperas e canções e esta maturidade se reflete naturalmente neste concerto. Se o primeiro concerto tem um toque de clareza e simplicidade ao estilo de Mozart e uma harmonia bastante convencional e distante das ousadias que o compositor iria empreender em composições posteriores, como as óperas Salomé (1905) e Elektra (1909), neste segundo concerto, embora cheio de lirismo e em moldes românticos, nota-se ecos do modernismo do século XX.
Escrito em três movimentos, abre-se com um Allegro, que exige grande destreza do solista, que se depara com saltos bastante amplos. O tema deixa transparecer as linhas vocais de um compositor afeito à ópera. O segundo movimento, Andante com moto, é bem mais tranquilo que o anterior e tem um caráter mais íntimo, ao estilo de música de câmara. A trompa, por vezes, se mistura com o acompanhamento da orquestra. No final, Rondo - Allegro molto, há muitos diálogos entre orquestra e solista, mas ao final este se junta aos colegas da orquestra para concluir a obra de forma bastante intensa.
Strauss permaneceu na Alemanha durante a II Guerra Mundial, levando vários estudiosos a procurarem possíveis vínculos com o nazismo. Isto nunca ficou provado, o único evento registrado foi o momento em que se entregou aos soldados americanos. Ao contrário do jovem impetuoso que escandalizou audiências durante o século XX com harmonias dissonantes e com o erotismo de suas óperas, o compositor de oitenta e um anos desceu as escadas de sua residência no campo com as mãos para cima e disse apenas: “Eu sou Richard Strauss, o compositor de O Cavalheiro da Rosa e Salomé.” 
 
ROBERT SCHUMANN (Zwickau, 1810-Endenich, 1856)
Sinfonia n° 3, em Mi bemol Maior, op. 97 – “Renana"
Schumann inspirou-se nas paisagens do vale do rio Reno para escrever a Sinfonia Renana, conhecida como a terceira, mas que, em ordem cronológica, foi a quarta e última. Escrita entre novembro e dezembro de 1850, ainda não mostra sinais da doença que pouco tempo depois invadiria a sua mente. Nesse período era diretor municipal de música em Dusseldorf, onde ocorreu a estreia em fevereiro de 1851, sob sua regência. Vivia então um dos poucos períodos de relativa tranquilidade, que perdurou até o ano seguinte quando sua saúde começou a deteriorar e ele acabou abandonando o cargo em Dusseldorf.
 
Em 1854 começou a sofrer alucinações e atormentado pela ideia da loucura total tenta o suicídio atirando-se no mesmo rio Reno que havia inspirado a sua sinfonia. Com seu consentimento, foi internado em um asilo onde faleceu dois anos depois em completa demência.
Escrita em cinco movimentos, no primeiro movimento da Sinfonia Renana podem ser encontradas algumas influências da Sinfonia n° 3 - Eroica - de Beethoven; já o segundo, Scherzo, lembra uma estalagem rural na Renânia com camponeses dançando um alegre Ländler de suave rusticidade; o terceiro movimento, que apresenta uma calma e bela melodia para clarinetes e fagotes, é sereno e sentimental preparando o caminho para o movimento seguinte (indicado Feierlich, solene), cuja inspiração foi sublinhada pelo próprio Schumann na partitura: “Em caráter de acompanhamento para uma cerimônia solene”. Essa cerimônia, à qual ele esteve presente, foi a elevação de um arcebispo a cardeal que ocorreu na catedral de Colônia. Contudo, quando a sinfonia foi publicada, Schumann retirou inscrição justificando: “Não se deve mostrar aos outros o coração. Uma impressão geral da obra de arte é melhor para todos; assim pelo menos não serão feitas falsas comparações”. A base desse trecho é uma harmonia eclesiástica anunciada solene e majestosamente pelos trombones. Sobre ela é elaborada uma estrutura contrapontística, que acrescenta riqueza e brilhantismo em uma das mais elaboradas peças de polifonia desde Bach. O final é bastante contrastante e introduz novos temas, o motivo eclesiástico reaparece e a obra termina com uma alusão ao primeiro movimento.
 
Lenita W. M. Nogueira

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