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Centro de Convivência: de Passeio Público a Complexo Cultural

10/04/2007

A inauguração do Centro de Convivência Cultural, no dia 9 de setembro de 1976, foi comemorada pela população de Campinas porque, a partir daquele dia, a cidade contaria com um novo espaço de espetáculos. Hoje, 29 anos depois, o local, que ainda é símbolo da história e da cultura da cidade, passou por uma completa reformulação, realizada por determinação do prefeito Hélio de Oliveira Santos.

As obras incluíram melhorias no paisagismo, iluminação, segurança e sistema viário no entorno da Praça Imprensa Fluminense e reformas nas instalações internas do CCC, além da inauguração da Sala Carlos Gomes.

Mas antes de abrigar o CCC, o que havia na Praça Imprensa Fluminense? Na lembrança da estudante Carolina Gonçalves, só existe mesmo o teatro. Já o aposentado Antonio dos Santos recorda-se de uma vasta área, que se manteve arborizada até a década de 1960 e que deu lugar ao moderno e ousado projeto do arquiteto Fábio Penteado.

O que muita gente desconhece é que a Praça Imprensa Fluminense, ainda no século 19, dava lugar ao Passeio Público. "Na primeira Metade do século 19, a Câmara Municipal começou a discutir a criação de um horto botânico em Campinas nos moldes do que existia no Rio de Janeiro. Seria um espaço de experimentações botânicas e de apoio às iniciativas agrícolas", conta a historiadora e coordenadora de Planejamento e Informação da Secretaria de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo (SMCIST), Mirza Maria Baffi Pellicciotta.

Embora o espaço tenha sido projetado com esta finalidade, lembra Mirza, o projeto não saiu do papel, restando a demarcação da área como Largo Municipal. Décadas depois, passou-se a discutir a criação de um Passeio Público em Campinas, um espaço no qual os Moradores, visitantes e suas distintas famílias pudessem "tratar da saúde, do bem estar, da vida" (nos dizeres da Gazeta de Campinas de 1876).

"Na época, duas áreas foram cogitadas: a do Largo do Mercado (que depois se transformaria em Jardim Carlos Gomes) e a do Largo Municipal", destaca. A segunda, revela a historiadora, foi escolhida pelos seus atrativos e pelo empenho de alguns grupos políticos locais. O antigo bairro do cambuizal ou dos Cambuys, região até então ocupada por sítios, fazendas e moradias populares originadas, inclusive, de antigos quilombos, começava a sofrer profundas mudanças.

Transformações

O Passeio Público sofreu muitas transformações no curso do século 20, acompanhando as mudanças da cidade. Novas avenidas foram abertas para dar passagem ao fluxo progressivo de pessoas e carros, novas casas e edifícios reurbanizaram a área, empurrando para longe as antigas e populares moradias que originaram o bairro Cambuí.

"A praça, renomeada de Imprensa Fluminense em 1889 (em homenagem à ajuda prestada pelos jornais cariocas no início da epidemia de febre amarela), manteve-se arborizada até a década de 1960 quando a construção do Centro de Convivência Cultural redefiniu sua ocupação e sentido original", relembra a historiadora.

Segundo Mirza, o projeto do arquiteto Fábio Penteado nascia da necessidade de suprir a cidade de um vazio deixado pela demolição do Teatro Municipal (1965), ao mesmo tempo em que procurava imprimir um novo conceito de "espaço cultural". "O projeto também também preservar algumas das centenárias árvores que, em outros tempos, formaram o Passeio. Algumas dessas árvores ainda estão lá", garante.

Passeio Público

O Largo Municipal transformou-se em Passeio Público pela iniciativa privada que, por meio de campanhas e apoio da Câmara Municipal (que preparou o terreno e instalou luz a gás), conseguiu atrair donativos e colaborações suficientes para dar forma à nova praça.

Entre os anos de 1876 e 1883, vários segmentos da cidade participaram desta construção, a começar pelos fazendeiros que doaram recursos e o trabalho de seus escravos para o ajardinamento e a arborização do espaço.

Além disso, relata Mirza, dois botânicos (Joaquim Corrêa de Mello, o "quinzinho da botica", e Alberto Lofgren) incumbiram-se da seleção de árvores, de plantas e do desenho da praça. Comerciantes e "empreendedores" que contribuíram com vários equipamentos e melhoramentos para transformar a área em um "jardim inglês" (padrão de logradouro público que tinha o Passeio Público do Rio de Janeiro como referência).

No mesmo período, foram instaladas grades e portões de ferro (para cobrança de ingressos), um chalé quiosque (1878), caramanchões com trepadeiras, gruta de cimento, lago artificial com cascata e chafariz, e ainda, um novo coreto de ferro trabalhado (1883). "Os equipamentos atraíram diferentes pessoas e famílias para uma nova forma de lazer público caracterizado pela música, pelos encontros e passeios, ou ainda, por uma programação especial que tornava as tardes de domingo mais agradáveis", diz.

Complexo cultural

Festejado, o Centro de Convivência Cultural foi descrito pela imprensa da época como um complexo com teatro interno, externo e área para exposições. Além disso, o que chamava a atenção era a área verde onde se localizava.

A inauguração, em 9 de setembro de 1976, foi realizada com um concerto para convidados da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC), sob a regência do maestro Benito Juarez. O prefeito Lauro Péricles Gonçalves, em cuja gestão foi realizada a obra, detalhou a importância do empreendimento cultural para a cidade, colocando Campinas entre as grandes praças para

receber peças e shows no País. O que realmente aconteceu. Durante muito tempo. O CCC sediou a estréia nacional de peças teatrais e abrigou shows importantes.

Na época, o projeto do arquiteto campineiro Fábio Penteado rompia com os conceitos comuns de teatro. O que chamava a atenção na obra era a extensa área verde que circundava o empreendimento.

Tanto o teatro de arena quanto o teatro interno do CCC abrigaram espetáculos importantes para a história cultural da cidade. O passar dos anos e a falta de manutenção fizeram com que o espaço sofresse uma degradação. Mas o Centro de Convivência Cultural jamais deixou de ser um símbolo na história da cidade.

Revitalização

As obras de revitalização da Praça Imprensa Fluminense foram coordenadas pela Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer (SMCEL) e envolveram outras áreas da administração municipal, como as secretaria de Infra-Estrutura e de Segurança Pública, além das Administrações Regionais (ARs) e Departamento de Parques e Jardins (DPJ). O projeto de revitalização do Centro de Campinas é uma das prioridades da atual administração.

Dentro do programa de reformulação da Praça Imprensa Fluminense, onde está o Centro de Convivência Cultural, foi inaugurada também, no último dia 10, pelo prefeito Hélio de Oliveira Santos, a primeira placa de sinalização turística da cidade durante a abertura da Sala Carlos Gomes.

O diretor de Turismo da Secretaria Municipal de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo (SMCIST), Fernando Vernier, afirma que o prefeito Hélio de Oliveira Santos está pessoalmente empenhado na valorização do centro de Campinas e na preservação da história da cidade.

"Por isso, o Departamento de Turismo e a Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Lazer (SMCEL) estão trabalhando de forma integrada de modo a interligar as atividades culturais desenvolvidas pela Cultura aos roteiros turísticos elaborados pelo Turismo.

Conscientização

Entretanto, segundo Vernier, a valorização dos equipamentos da cidade será plenamente possível se houver a conscientização da população sobre a importância do patrimônio histórico e cultural. "As pessoas precisam entender que aquele monumento ou aquele prédio também são delas. Precisam entender que aquilo é para elas", destaca. A sinalização turística, para ele, é compatível com as mais desenvolvidas cidades européias.

O diretor de Turismo também enfatiza que o Centro de Convivência é uma parte importante da história da cidade que está sendo desenvolvida à população com uma roupagem totalmente nova. "Ações como essa resgatam a memória de Campinas e a cidadania da população. Mas, se não houver um envolvimento maior dos cidadãos, todos os investimentos do poder público caem por terra", conclui.

Sinalização

Além da placa inaugurada pelo prefeito Hélio de Oliveira Santos no Centro de Convivência, está prevista a instalação de mais 14 painéis, quatro placas intermediárias e 33 placas em monumentos externos, que compõem o projeto de sinalização turística.

Segundo a coordenadora de Planejamento e Informação da SMCIST, Mirza Maria Baffi Pellicciotta, a sinalização turística da cidade prevê a valorização dos atrativos históricos e culturais de Campinas, com placas em locais históricos, monumentos e edifícios. Largo do Pará, Catedral, Jardim Carlos Gomes e Bosque dos Jequitibás estão entre os lugares projetados para receber os painéis.

O Centro foi priorizado por ser o local mais visitado. As placas foram idealizadas com duas faces. Em um dos lados, há informações sobre a origem do local. No outro, estão contidas as transformações pelas quais o local foi passando ao longo dos anos, com imagens e textos. Além disso, o material remete a outras opções de visitação, próximas ou não do local onde estão as placas.

Existem informações turísticas sobre lugares próximos que podem ser visitados. As placas também contêm pequenos textos com depoimentos de pessoas que estiveram no local em épocas históricas diferentes. "A ciência e a tecnologia não podem ser esquecidas, já que temos essa ligação em quase todos os painéis", avalia Mirza.

Citações contidas na placa de sinalização do Convivência:

"Um indivíduo qualquer, até mesmo casmurro, um caipira fica limitado em pouco tempo, pela sociabilidade, pelo espírito dos outros. Elle em pouco tempo aprende a não dizer asneira, a não bater no ombro do interlocutor, e a não cuspir nos circunstantes quando falla com assomos pedantes" - Gil Blás, Diário de Campinas, 1881

"O Jardim, nesses dias, regorgitava de famílias, vendo-se ali o que Campinas tinha de mais chic e mais distincto" - Leopoldo Amaral, 1927

"..tornou-se moda entre as famílias campineiras o passeio pela gare da Estação (...) Foi quando surgiu a idéia de se construir um jardim público" - José de Castro Mendes, 1968

"O domingo em Campinas, dava à mulher (...) oportunidade para um desfile em que podiam ser apreciadas as suas toaletes" - Benedito Barbosa Pupo, 1995

"É um dos principais exemplos de jardins de Campinas e importante marco na sua urbanização e na inserção de áreas verdes projetadas para o passeio público" - Siomara B. Lima, 2000

"...no interior dos ’novos’ ’espaços públicos’ campineiros (...) está em

curso o engendramento de um processo dramático de transformação de hábitos cotidianos, convicções, modos de percepção intimamente articulados ao avanço do sistema capitalista (...) onde não têm lugar os negros (..) os doentes, dentre os quais os varilosos, os portadores de ’hannseníase’, as ’camélias sujas’, além dos mendigos" - Carolina Galzerani, 1998

Andréa Malavolta

 

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