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Autores e Obras

25/04/2015
CARL MARIA VON WEBER
Abertura da Ópera Der Freischutz (O franco-atirador), J. 277
 
“Viajando ou não, serei um homem morto. Mas se eu viajar, meus filhos ao menos terão algo para comer, mesmo se papai estiver morto – e se eu não for, eles passarão fome. O que você faria na minha posição?”

Aos 38 anos, Weber, consumido pela tuberculose, havia recebido um convite para estrear sua ópera Oberon em Londres. Suas predições estavam corretas: recebeu uma enorme quantia em dinheiro e faleceu em poucas semanas. Era considerado um dos compositores mais importantes de seu tempo e foi um dos pioneiros do movimento romântico. Embora ainda preso aos princípios clássicos, ele os ampliou com uso de cromatismos, combinações instrumentais inovadoras e, talvez o mais importante, com a introdução da cor orquestral, característica do romantismo.

Seguindo estes princípios, a ópera O Franco-atirador, que estreou em Berlin em 1821, tem um enredo repleto de elementos recorrentes no romantismo alemão, um homem simples que é dominado pelo mal, diabo, magia, uma floresta obscura, balas encantadas, etc.

Max está apaixonado por Agathe, mas para se casar com ela precisa vencer um concurso de tiro. Seu amigo Caspar o instiga a procurar auxílio do macabro Samiel, na verdade a encarnação do mal. À meia-noite vão ao Wolf’s Glen (Vale do Lobo) para buscar o apoio diabólico e Caspar, que tinha dívidas com Samiel, oferece Max em seu lugar. Em um ambiente fantasmagórico, Max recebe balas mágicas, sendo que seis delas seguem o destino que ele desejar, mas uma delas se moverá apenas segundo a vontade de Samiel.

No concurso Max atira com as balas mágicas e não erra o alvo, mas, ao ser desafiado a acertar uma pomba branca pousada em galho, utiliza a bala dominada por Samiel e acaba atingindo Caspar, que havia se escondido atrás da árvore. Max confessa sua trapaça, fica um ano na prisão, mas consegue realizar seu desejo e se casa com Agathe.

A abertura contém apresentações de material temático da ópera que sugerem a floresta, o mundo do caçador, o mal, representado por Samiel, além do conflito entre temas associados com Max e Agathe.

 

LUDWIG VAN BEETHOVEN
Concerto para Piano N° 2, Op. 19, em Si Bemol
 
Por razões ligadas à data de publicação, este concerto ficou conhecido como o Segundo Concerto para Piano e Orquestra de Beethoven, embora cronologicamente tenha sido o primeiro. O compositor havia escrito outro aos catorze anos, mas como nunca foi publicado, foi desconsiderado. O que ficou chamado Primeiro Concerto foi composto em 1796 e estreou em 1798, três anos depois do “segundo”.

Levando-se em consideração que a produção musical de Beethoven é dividida em três períodos distintos, o Concerto n° 2 se insere no primeiro, momento em que ainda estava ligado às tradições do modelo clássico de Haydn e Mozart. Apesar da obediência aos padrões da época, Beethoven introduz alguns procedimentos harmônicos bastante ousados, já demonstrando a sua personalidade única.

O concerto estreou em 1795 no Burgtheater em Viena, tendo o próprio compositor como solista, sob a regência de Antonio Salieri. O sucesso foi grande, o que animou Beethoven a apresenta-lo para outras plateias. Houve diversas récitas entre 1796 e 1798, uma delas, inclusive, regida por Joseph Haydn. Durante este período foi fazendo algumas modificações na partitura até entregá-la para publicação em 1800.

Como um concerto clássico tradicional, está escrito em três movimentos e para uma orquestra não muito numerosa. Esta instrumentação é bastante adequada aos padrões do classicismo, os quais  o próprio Beethoven iria sobrepujar em pouco tempo.

O movimento inicial, Allegro com brio, se inicia com a orquestra completa que apresenta uma longa introdução, até que acontece a exposição do primeiro tema. Na sua entrada, o solista apresenta um novo material e abre caminho para o segundo tema. Há uma seção central onde o material é desenvolvido e aparece variado na uma recapitulação final. Antes da conclusão há uma cadenza, momento em que a orquestra silencia e o solista se encarrega de mostrar suas habilidades.

A orquestra dá início ao segundo movimento, Adagio, e se nota que a música foi elaborada para mostrar as habilidades do solista (que em geral era o próprio Beethoven) no que refere em obter uma sonoridade cantábile no piano, um tipo de escrita na qual o compositor é reconhecido como um mestre. Segue-se o último movimento, Rondó: Molto allegro, no qual o solista imediatamente apresenta o tema, que será retomado várias vezes, ora por ele mesmo, ora pela orquestra. Há momentos contrastantes que trazem alguma dramaticidade ao movimento, que termina com um procedimento bastante recorrente na obra de Beethoven, um pianíssimo que soa como um suspiro seguido por uma breve e enfática conclusão.

 
ANTONÍN DVORÁK
Sinfonia n° 8, op.88, B. 163
 
O mais destacado dos compositores tchecos, Dvorák foi aprendiz de açougueiro até os dezenove anos. Recebeu apoio de um tio e foi tentar a sorte em Praga, onde começou a estudar órgão e viola, chegando a violista da Orquestra do Teatro Provisório, e iniciou sua carreira de compositor. Admirador fervoroso de Johannes Brahms, depois de muito hesitar, apresentou a ele algumas de suas composições. Estas agradaram tanto o compositor alemão que, além de indicar Dvorák ao seu editor de música, Simrock, insistiu para que ele participasse de um concurso de composição em Viena, do qual saiu vencedor. Após esse evento, Dvorák abandonou tudo para dedicar-se definitivamente somente à composição.

A Sinfonia nº 8 é um trabalho intermediário entre o desespero da Sétima (1885), composta à sombra da morte de sua mãe, um período que o próprio Dvorák descreveu como “de dúvida e obstinação, tristeza silenciosa e resignação”, e a ambivalência emocional da Nona Sinfonia (Do Novo Mundo, 1893), na qual alterna sentimentos de encantamento com a América do Norte, onde vivia na época, e de nostalgia por seu país distante.

Dvorák começou a escrever sua Oitava Sinfonia em agosto de 1889, mas, devido a uma série de encomendas, teve que trabalhar em várias obras simultaneamente, chegando a comentar que tinha tantas ideias musicais estourando na cabeça que não conseguia escrever nada rapidamente. Talvez por isso tenha evitado algumas complexidades instrumentais de uma sinfonia tradicional. Ele mesmo afirmou que se tratava de uma obra diferente, na qual procurou trabalhar pensamentos individuais de um modo novo. Para o biógrafo de Dvorák, Kretschmar, a Sinfonia n° 8 é um poema lírico que canta a beleza de seu país, mais importante pelo seu espírito do que pela sua forma.

Estreou em Praga no dia dois de fevereiro de 1890, mas desagradou o editor Simrock que, por achar que tinha trechos muito longos (leia-se pouco vendáveis), ofereceu uma soma irrisória pela obra. Indignado, Dvorák procurou o editor inglês Novello, que a publicou em 1892. Devido a este incidente, a Sinfonia n° 8 ficou conhecida como Inglesa, embora tenha sido dedicada à Academia Boêmia de Praga.

 

Lenita W. M. Nogueira

 

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