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Autores e Obras

07/05/2015

 
 

 

REINHOLD GLIÈRE (Kiev, 1875-Moscou, 1956).
 

 

Dança dos marinheiros russos do balé A papoula vermelha
 

Glière, filho de um construtor de instrumentos de sopro, começou seus estudos de violino em Kiev e posteriormente no Conservatório de Moscou. Após uma temporada em Berlim, onde estudou regência, retornou à cidade natal e se tornou diretor do Conservatório de Kiev. Após a Revolução Russa mudou-se para Moscou, onde lecionou composição no Conservatório entre 1920 a 1941.
Ganhou bastante popularidade com os balés A Papoula Vermelha e O Cavaleiro de Bronze, baseados em seu interesse pela música do leste europeu e tradições eslavas, e com o Concerto para Harpa e Orquestra. Foi presidente da Associação de Compositores da União Soviética de 1938 a 1948 e recebeu diversos prêmios e o título de Artista do Povo em 1938, entre outros.
Embora sua produção musical seja do século XX, é considerado herdeiro da tradição romântica russa, um elo entre Tchaikovsky e músicos contemporâneos como Prokofiev e Khachaturian e sua produção está mais ligada às grandes formas românticas como ópera, balé, sinfonia e poema sinfônico. Sua obra sinfônica também tem ecos de Borodin e Glazunov, o que fica bastante claro na sua Sinfonia n°3, intitulada Ilya Muroments, nome de um herói russo.
A Dança dos Marinheiros Russos fecha o primeiro ato do balé A Papoula Vermelha, composto entre 1926 e 1927, uma obra que foge dos padrões da dança tradicional russa. O enredo se desenrola em um porto na era do Kuomintang na China, por volta de 1930. Um navio com marinheiros de diversas nacionalidades, incluindo russos, está ancorado em um porto chinês, quando o capitão percebe que um grupo de coolies (povo descendente da Índia, Ásia central e outras etnias) estava sendo brutalmente compelido a trabalhar no porto. Uma noite, enquanto dançava para os marinheiros a bordo do navio, a bela Tao-Hoa percebe que o capitão estava tentando resgatar os coolies. Impressionada com este ato, ela entrega a ele uma papoula vermelha como símbolo de seu amor. Mas seu patrão percebe e lhe ordena que mate o capitão, o que ela recusa. No final Tao-Hoa é morta pelo patrão durante um motim. Em seus momentos finais dá uma papoula vermelha para uma garota chinesa como um sinal de amor e liberdade.
 

 

 

SERGEI RACHMANINOFF (Semyonovo, 1873-Beverly Hills, 1943)
 

 

Vocalise op. 34, n° 14
 

“Se houvesse um conservatório no inferno, Rachmaninoff ganharia o primeiro prêmio por sua sinfonia, tão diabólicas são as discórdias que ele colocou diante de nós.“ Assim se manifestou em 1897 o compositor russo César Cui a respeito da Sinfonia n° 1 de Rachmaninoff, cuja estreia foi um tremendo fiasco. Continuando sua crítica avassaladora, Cui afirma que aquela sinfonia era uma tentativa de descrever as sete pragas do Egito. Outros críticos também foram impiedosos e o compositor de 24 anos não encontrou forças para suportar tal malogro. Caiu em profunda depressão e não foi capaz de escrever uma nota de música por alguns anos.
Sentindo-se como “um homem que sofreu um golpe e perdeu o uso de sua cabeça e de suas mãos”, por volta de 1900 procurou o Dr. Nicolai Dahl, especialista em neuropsicoterapia que trabalhava com hipnose. Este médico, que era também músico e tocava violoncelo em um quarteto, foi de grande valia ao frágil compositor. Por volta de 1900 Rachmaninoff conseguiu vencer a depressão e, durante uma viagem para a Criméia e Itália, iniciou a composição de seu segundo concerto para piano, que se tornaria um de seus maiores sucessos, e o dedicou ao Dr. Dahl.
Vocalise é a ultima peça de um ciclo de catorze canções para voz, que Rachmaninoff completou em 1912. A palavra “vocalize” indica uma canção para voz sem palavras, apenas vocalizada. Dado o sucesso da peça em sua versão para voz, a pedido do regente Serge Koussevitsky o compositor elaborou em 1915 um arranjo para orquestra, preservando a atmosfera de mistério e lirismo da obra original. 
 
 

CARL ORFF (Munique, 1895-1982)
 

 

Carmina Burana
 

Orff estudou na Academia de Música de Munique e foi regente da Munich Kammerspiele. Assumiu cargos em Mannhein e Darmstadt, retornando à sua cidade natal em 1919. Começou a se interessar pela questão educacional, desenvolvendo um método de ensino musical que leva seu nome, amplamente utilizado até os dias de hoje. De forma muito rasa, trata-se de um aprendizado apoiado em instrumentos de percussão, ritmos ostinatos e processos criativos associados ao movimento físico.
Orff foi regente da Sociedade Bach de Munique de 1930 a 1933 e a estada neste posto o instigou a escrever Carmina Burana, baseada em poemas medievais do século XIII em latim, francês e alemão, preservados na Abadia de Benedikbeuren na Bavária.
Carmina Burana estreou em Frankfurt em 1937 e uma das suas características marcantes, a intensa atividade rítmica, está ligada à atuação de Orff como educador, já que privilegiou na composição repetições em ostinato (células rítmicas que se repetem), ritmos insistentes, além da recusa em utilizar procedimentos mais complexos da música contemporânea, como cromatismo ou atonalismo, criando uma composição de intenso vigor.
No que se refere à orquestração, há uma seção de percussão repleta de instrumentos pouco usuais em uma orquestra sinfônica, que incluem cinco tímpanos, três glockenspiels, xilofone, castanholas, sinos variados, tamborins, entre muitos outros. Além da celesta, utiliza dois pianos e as cordas apresentam, em grande parte do tempo, um caráter percussivo. Além do coro adulto, há um coro infantil e três solistas, soprano, tenor e barítono.
O Fortuna, o prólogo de Carmina Burana, é bastante conhecido e tem sido utilizado como trilha sonora para as mais diversas situações. O texto comenta a inconstância e volubilidade da fortuna e da sorte: enquanto Roda da Fortuna gira, um rei pode se tornar mendigo e vice versa; o destino de uma pessoa pode mudar bruscamente, levando-a por caminhos nunca imaginados, para o bem ou para o mal.
 

Após o prólogo, a peça se divide em três partes, sendo a primeira delas intitulada Primo vere. Aqui tudo é leve e alegre, partes corais e solistas se alternam sempre proclamando a felicidade com a chegada da nova estação, na qual tudo deverá florescer e dar os frutos necessários para a sequência da vida. O final é grandioso, com trompetes e trombones liderando estrondosamente o coro Were du werlt alle min.
 

Na segunda parte, In taberna, o que se destaca é a jogatina e a bebedeira típica deste ambiente. Um solo de barítono abre a cena, enquanto homens de todas as classes sociais jogam, bebem e comem desbragadamente. Em outro solo, de grande dificuldade, o tenor interpreta o dilacerante Olim lacus colueram, dando voz a um pobre cisne que lamenta sua triste condição: ontem nadando garbosamente no lago, agora assado e à mercê de comensais vorazes. Outro destaque é o coro In taberna quando sumus, que não deixa dúvida: todos bebem, seja rico, pobre, homem, mulher, padre, nobre, camponês, ou qualquer outro. 
Já a terceira parte, intitulada Cours d’amour, trata de questões relativas ao amor. Começa com um doce coro de crianças emoldurado pela flauta, seguido pelo soprano, que demonstra toda sua inocência nesta questão. Outros poemas amorosos são apresentados, com destaque para o belo In trutina, no qual a personagem revela sua dúvida: amor lascivo ou pudicícia? Ao final submete-se ao “suave jugo do amor”. A alegria explode com o coro Tempus est iocundum, que contrasta solo e vozes infantis. O solo de soprano, Dulcissime, no qual acontece a total entrega ao amor, antecede o final da Cours d’amour, que se dá com o grandioso coral Blanziflor et Helena. Retorna a mesma Roda da Fortuna já ouvida no início de Carmina Burana, que continua invariavelmente a girar, determinando destinos inesperados. É impossível fugir, interferir ou mudar os ditames da Fortuna, Imperatrix Mundi.
 

 

 

Lenita W. M. Nogueira 
 

 

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