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Autores e Obras

04/07/2015

NICOLAI RIMSKY-KORSAKOV (Tikhvin, 1844-São Petersburgo, 1908)
O Galo de Ouro – Suíte

Baseada em um poema de Alexander Pushkin, está ópera é mais conhecida pelo seu título em francês, Le Coq d’Or. Última composição de Korsakov no gênero, o enredo gira em torno de um tzar fictício que, surpreendido por uma guerra, acaba se atrapalhando, resultando em uma catástrofe que acaba por destruir o reino. Esta história, escrita em 1834, se passa em um reino mítico, mas caiu como uma luva sobre a situação que vivia a Rússia naquele ano de 1907, quando Korsakov concluiu a composição.
Em 1905 a Rússia havia se engalfinhado em uma guerra contra o Japão, da qual saiu derrotada e humilhada perdendo, inclusive, vários territórios. Nesta situação, não é de se surpreender que a ópera não tivesse agradado às autoridades do império, incluindo o próprio tzar, que impediram sua apresentação por dois anos. Isso só ocorreu em 1909, um ano após a morte do compositor.
O enredo conta a história do milagroso galo de ouro, que, ao mínimo sinal de perigo, cantava e batia suas asas indicando de onde viriam os inimigos. Em uma reunião em seu castelo, o tzar Dodon, após ouvir algumas opiniões sobre como combater o inimigo que se aproximava sem chegar a uma conclusão, recebe do Astrólogo um presente que seria a solução para todos os problemas do reino. Era o galo de ouro, objeto que o Astrólogo doaria ao rei em troca de uma futura recompensa, que ele próprio determinaria.
O rei aceita e após um tempo de calmaria, finalmente o galo canta e bate as asas indicando a direção do perigo. Uma armada é enviada, liderado pelo filho mais velho do rei. Passam-se alguns dias sem notícias e o galo canta novamente. Outra armada é enviada, agora sob o comando do segundo filho do rei.

Esta também não retorna e o próprio rei vai atrás dos inimigos. Mas o que encontra são seus dois filhos mortos, pois seus exércitos, seguindo as direções indicadas pelo galo, acabaram lutando entre si. O rei fica desconsolado, mas ao encontrar em uma tenda próxima a princesa Shemakhan, esquece dos filhos e resolve se casar com ela. Ao retornar à cidade encontra o Astrólogo que veio exigir sua recompensa: queria Shemakhan, a escolhida do rei. Este, enraivecido, recusa e golpeia o mágico, que acaba morto. Mas logo é atingido pelo galo de ouro e tem o mesmo final.
A suíte extraída da ópera apresenta quatro momentos: 1. O rei Dodon em seu palácio; 2. O rei Dodon no campo de batalha; 3. O rei Dodon com a rainha de Shemakhan; 4. A festa de casamento e o lamentável fim do rei Dodon.
Ao final de seu conto Pushkin deixou indicada a seguinte frase, indicando que há passagens subentendidas: “Esta história não é verdadeira, mas há nela uma recomendação, uma lição para todos os jovens e cruéis.”
 
CAMILE SAINT-SAËNS (Paris, 1835-1921)
Concerto para Violoncelo e Orquestra n°1, op. 33, em Lá menor

Saint-Saëns era conhecido por sua pluralidade intelectual. Philip Hale, crítico americano, afirmou que ele era “organista, pianista, caricaturista, cientista amador, apaixonado por matemática e astronomia, comediante amador, folhetinista, crítico, viajante, arqueólogo – era um homem que nunca descansava.”
Já o compositor Charles Gounod afirmou: “Monsieur Saint-Saëns possui a mais surpreendente organização musical que conheço. É um músico que possui todas as armas. É um mestre do seu ofício como nenhum outro... Ele toca, e toca a orquestra como faz com o piano.”

Considerado um compositor de linha conservadora, Saint-Saëns era adepto da tradição da música francesa na linha que vinha desde Couperin e Rameau no século XVIII, e reprovava as tendências da composição musical de seu tempo, que tinha à frente Claude Debussy e Igor Stravinsky. Mas aos trinta e sete anos, quando escreveu o seu primeiro Concerto para Violoncelo em 1872, sua reputação nos círculos musicais franceses mais conservadores era de modernista e radical, um "profeta de Wagner". Teve uma vida longa e além de sobreviver aos seus antagonistas, na maturidade ele próprio passou a ser considerado um músico reacionário e antiquado, que detestava modernidades como os balés de Stravinsky.

Saint-Saëns foi o único músico francês do século XIX que escreveu peças na forma de concerto tradicional, o que inclui dez concertos para formações diversas e cerca de vinte peças para instrumento solo e orquestra.
O Concerto para Violoncelo n° 1 estreou em 1872 no Conservatório de Paris, executado pelo belga Auguste Tolbecque, a quem a peça é dedicada. Foi uma das peças que confirmou a fama de Saint-Saëns e compositores como Shostakovitch e Rachmaninof a consideraram uma obra-prima.

Nesta obra o compositor desafia a forma tradicional do concerto em três movimentos, já que compôs apenas um movimento com três seções, cujos temas são engenhosamente combinadas em um movimento contínuo.

O tema principal, uma figura descendente em quiálteras, é imediatamente introduzido pelo solista após um acorde seco da orquestra; posteriormente este tema é retomado pela orquestra e desenvolvido através de um diálogo do solista com a orquestra. Segue-se uma apresentação do segundo tema, de caráter mais lírico. Na sequência a orquestra introduz uma seção em forma de minueto, no qual as cordas acompanham em grande parte a melodia do violoncelo. Na terceira seção acontece a retomada do tema inicial e após a bela melodia e a cadenza do solista, há uma interligação de temas, conduzindo ao final brilhante.

Apesar da indicação de que este concerto deve ser executado sem interrupção, fica clara na sua estrutura a manutenção das características do concerto clássico em três movimentos, já que há três seções distintas que o próprio compositor indica Allegro non troppo, Allegretto com motto e Allegro non troppo.
 
MODEST MUS­SORGSKY (Karevo, 1839-São Petersburgo, 1881)
Quadros em uma Exposição (Orquestração de Francisco Mignone)

Esta peça foi composta em 1874, originalmente para piano, mas foi objeto de diversas transcrições para orquestra, sendo mais conhecida a realizada em 1922 por Maurice Ravel, que transformou a obra em um clássico do repertório orquestral. No concerto de hoje ouviremos a peça com a orquestração do compositor brasileiro Francisco Mignone (São Paulo, 1897-Rio de Janeiro, 1986).

Mussorgsky concebeu essa obra após visitar uma exposição de telas do arquiteto e pintor Viktor Hartmann, que havia falecido recentemente. Selecionou dez obras do pintor (somente três estavam na exposição original) e criou um itinerário musical, como se o ouvinte estivesse circulando por uma galeria.

Utilizando padrões harmônicos ligados à música folclórica, que considerava “um tipo de melodia criada pela fala humana”, criou um tema que chamou Promenade. Além de servir como introdução, este tema pontifica o caminho entre as obras sendo apresentada em cinco variações no decorrer da peça.

O itinerário criado por Mussorgsky é o se­guinte: O Gnomo, que retrata a corrida desajeitada de um pequeno gnomo; O velho castelo, no qual um trovador canta junto à muralha de um castelo medieval; Tulherias (Disputa de crianças após um jogo) é baseado em um quadro de Hartman, no qual o jardim está vazio, mas Mussorgsky acrescentou crianças conversando e jogando; Bydlo, representaum camponês cantando enquanto conduz sua carreta de bois; Balé dos pintinhos ainda não saídos do ovo; Dois judeus, um rico e um pobre; O mercado de Limoges (A grande novidade) que retrata mulheres discutindo no mercado; Nas catacumbas romanas, no qual Hartman representou a si próprio nas catatumbas de Paris; Com os mortos em língua morta, sobre qual Mussorgsky assinalou: “a alma criativa do falecido Hartmann leva-me aos crânios, invoca-os, crânios brilham levemente”; A pequena choça com pés de galinha; Baba Yaga, uma bruxa do folclore russo; A Porta de Bogatyr na antiga cidade de Kiev, também conhecida como A grande porta de Kiev, baseado em um projeto de Hartmann para um portal que nunca se concretizou e homenagearia, homenageia os Bogatyr, heróis de antigas sagas e contos folclóricos.
 
 
Lenita W. M. Nogueira
 

 

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