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Autores e Obras

24/10/2015

FRANZ SCHUBERT (Viena, 1797-1828)
Rosamunde – Abertura, D. 644

Schubert conheceu a escritora Helmina Von Chezy em Viena e, a despeito de seu duvidoso talento literário, ela tinha acesso ao prestigioso Theater an der Wien, onde em 1823 levou à cena Rosamunde, Fürstin von Zypern (Rosamunde, princesa de Chipre), para a qual Schubert compôs a música incidental. A peça, um fracasso completo, foi retirada de cena após duas apresentações, ficando esquecida para sempre, bem como a sua música.

A música para Rosamunde só seria reabilitada em 1867 quando os musicólogos ingleses, George Grove e Arthur Sullivan encontraram o manuscrito original durante pesquisas em lojas de música e bazares de Viena. Desde então passou a integrar o repertório das salas de concerto, mas raramente é ouvida na íntegra, pois é bastante longa, ultrapassando uma hora.

Existem duas aberturas associadas à Rosamunde, uma delas escrita por Schubert para a ópera Alfonso und Estrella; a segunda, que é a mais executada, tem o subtítulo de Die Zauberharfe (A harpa mágica, 1820), embora, ao que tudo indica, não pertencia à obra inicial e havia sido escrita alguns anos antes para o mesmo teatro.

Rosamunde acabou ficando marcada por um fato lamentável: era costumeiramente executada nos alto-falantes do campo de concentração de Auschwitz quando chegavam de novos prisioneiros.

JEAN SIBELIUS (Hämeenlinna, 1865-Järvenpää, 1957),
Concerto para violino em Ré menor, Op. 47

Sibelius escreveu apenas um concerto para violino, seu instrumento na juventude. Porém, uma desastrada audição na Orquestra Filarmônica de Viena desfez seus sonhos de ser virtuose. A experiência parece ter sido bastante intensa, a ponto de perturbá-lo durante muitos anos, pois cerca de vinte e cinco anos depois anotou em seu diário: “Sonhei que eu tinha vinte anos e era um virtuoso”.

Começou a escrever o Concerto para Violino em 1902 com apoio do violinista Willy Burmester, a quem prometeu o concerto. Porém, foi o jovem e inexperiente violinista Viktor Novácek quem tocou na estreia do concerto dois anos depois em Helsinki, um absoluto fracasso. Segundo Erik Tawaststjerna, biógrafo de Sibelius, durante o concerto Novácek, “com a face vermelha e transpirando excessivamente travou uma batalha perdida.” O crítico Karl Flodin, sempre favorável ao compositor escreveu duas críticas destruidoras.

Embora o desempenho do violinista tenha sido sofrível, Sibelius reconheceu que havia outros problemas na sua composição e a revisou extensamente para uma nova apresentação em 1905 com a Orquestra Filarmônica de Berlim sob a regência de Richard Strauss e o violinista Karl Halir, desta vez com sucesso.

Já nos primeiros compassos do concerto (Allegro moderato) uma bela melodia é apresentada pelo solista, sob um discreto apoio das cordas. Mas o movimento é tenso e cheio de densidade e angústia. No desenvolvimento há uma cadenza, cuja dificuldade deve ter dado muita dor de cabeça ao pobre Novácek, que, além desta, teve que enfrentar outra não menos difícil, excluída na revisão.

O segundo movimento (Adagio di molto) é introduzido por um conjunto de instrumentos de madeira e contrasta com o clima agitado do anterior. O solista apresenta o tema principal que, nas palavras do poeta Lassi Nummi, é “cruelmente belo”. O terceiro e último movimento (Allegro, ma non tanto) retoma o tom inquieto do primeiro e sobre ele temos duas visões: a do compositor que o descreveu como uma “dança macabra” e a do musicólogo Donald Tovey de se que se trata “evidentemente de uma polonaise para ursos polares”.

WOLFGANG AMADEUS MOZART (Salzburg, 1756-Viena, 1791)
Sinfonia n° 32, K. 318

Mozart datou esta sinfonia no dia 26 de abril de 1779. Havia retornado a Salzburg após uma frustrada viagem a Paris, estava amargurado pela morte da mãe e por ter que retomar a um serviço que considerava degradante na corte do arcebispo Hieronymus Colloredo.

Há um consenso de que esta sinfonia, mais curta que o padrão, teve sua origem em uma abertura para uma obra teatral, mas as versões são divergentes. Na opinião do biógrafo de Mozart, Otto Jahn, a obra teria sido composta para a abertura da tragédia Thamos, König in Aegypten de Tobias Gebler. Já o musicólogo Alfred Einstein afirma ter detectado na Sinfonia n° 32 temas da ópera Zaide, que Mozart nunca concluiu, como o do Sultão Soliman, da heroína Zaide e de uma cena idílica que aparece no Andante. Há ainda outra versão, indicando que a peça original seria a abertura para uma comédia ou opereta apresentada em Salzburgo entre 1779 e 1780.

Seja como for, a sinfonia tem a forma de uma Abertura Italiana, com três movimentos curtos, rápido-lento-rápido, que se encadeiam sem pausa entre eles. No início do primeiro movimento, Allegro spiritoso, Mozart explora o recurso de acordes intensos, que se contrapõem a uma resposta suave das cordas, artificio que também utilizou na Sinfonia n° 41, Júpiter. O segundo movimento, Andante, é lento e dominado por um caráter nobre e sentimental. É contraposto ao rápido final (Primo tempo), que traz de volta temas do primeiro movimento, porém em ordem reversa, concluindo a peça em estilo marcial.

Esta sinfonia utiliza quatro trompas, quando o usual na época era somente duas, o que lhe confere caráter brilhante e sonoridade ampla. Um procedimento um tanto ousado para uma obra de juventude, composta aos vinte e três anos. Mas em se tratando de Mozart isso não significa absolutamente nada...

SERGUEI PROKOFIEV (Sontsovka, Ucrânia, 1891-Moscou, 1953)
Sinfonia n° 1, Op. 25 - Sinfonia Clássica

Uma das primeiras composições do século XX a adotar o neoclassicismo, tendência que buscava o retorno ao estilo musical do passado, a Sinfonia Clássica estreou em 1917 na cidade de Leningrado (atual São Petersburgo) e, embora seu nome oficial seja Sinfonia nº 1 em Ré Maior, ninguém a identifica assim.

Alheio aos acontecimentos que convulsionavam a Rússia naquele ano de 1917, Prokofiev passou o verão em uma casa de campo próxima a São Petersburgo, dividindo o seu tempo entre a música e a leitura de textos do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), conforme escreveu em sua autobiografia. Como não tinha um piano à sua disposição, resolveu dar vazão a uma ideia que cultivava desde os tempos de estudante, escrever uma sinfonia no estilo de Joseph Haydn (Rohrau, 1732-Viena, 1809), expoente maior, ao lado de Mozart, do classicismo do século XVIII. Acreditava que sem o apoio do piano a composição ficaria mais transparente e próxima à escrita do compositor. Também tentava responder a uma questão que o intrigava há tempos: se Haydn estivesse vivo até o século XX, como conciliaria seu estilo musical com os novos elementos da música contemporânea?

Assim surgiu a Sinfonia Clássica, que recebeu esse nome não só porque seguia os padrões da música do século XVIII, mas também, como Prokofiev revelaria posteriormente, ele desejava “divertir e provocar”, fazendo um trocadilho com a palavra “clássica”. Além de evocar um estilo de composição do século XVIII, desejava também insinuar que a peça se tornaria um “clássico” da música ocidental. Ironia juvenil ou desejo sincero, o fato é que essa obra tem seu lugar garantido no repertório das melhores orquestras do mundo.

Apesar da fidelidade às regras do classicismo setecentista, inseriu alguns procedimentos que não seriam possíveis nem admissíveis no tempo de Haydn, como dissonâncias, contrastes abruptos de dinâmica, paródias e elementos de humor e ironia. Dentro do padrão clássico, a orquestra tem instrumentação discreta (pares de madeiras, trompas e trompetes, além de tímpanos e cordas) e está estruturada em quatro movimentos. O primeiro, Allegro, é fiel ao estilo de Haydn, com dois temas, desenvolvimento, reexposição e coda; o segundo e o terceiro trazem reminiscências de antigas danças, Polonaise e Gavota respectivamente, e o Finale é cheio de dinamismo rítmico.

 

Lenita W. M. Nogueira

 

 

 

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