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Autores e Obras

25/07/2015

WOLFGANG AMADEUS MOZART (Salzburgo, 1756-Viena, 1791)
A Flauta Mágica – Abertura KV 620

A morte precoce de Mozart aos trinta e cinco anos nunca foi esclarecida, mas várias hipóteses foram levantadas, desde envenenamento pelo rival Salieri (hoje descartada) até febre reumática. Entretanto, pesquisas recentes atribuem sua morte a um surto epidêmico que ocorreu em Viena. Se aquele ano de 1791 não acabou para ele, que faleceu no dia cinco de dezembro, sua produção musical foi brilhante: compôs várias obras, entre as quais as óperas La clemenza di Tito (para a coroação de Leopold II como rei da Boêmia) e A flauta mágica, além de parte do Requiem, que deixou incompleto.
Acredita-se que o empresário e ator Emanuel Schikaneder tenha apresentado a Mozart, por volta de 1789, um libreto que estava adaptando a partir do conto Lulu oder Die Zauberflöte. Devido às dificuldades financeiras em que vivia, Mozart assumiu o projeto, embora já tivesse recebido a encomenda para escrever La clemenza di Tito. A composição, que começou em julho de 1791, foi interrompida para que o compositor terminasse e participasse dos ensaios da Clemenza, mas mesmo assim concluiu rapidamente A Flauta Mágica, que estreou no dia 30 de setembro, apenas dois dias após a conclusão da abertura.
Afirma-se que com A Flauta Mágica Mozart teria prestado um tributo à maçonaria, à qual tanto ele como Schikaneder eram ligados. De fato, símbolos maçônicos são recorrentes na obra e se manifestam já nas primeiras notas da abertura. As personagens também seriam alegorias maçônicas.
A abertura tem uma introdução lenta com acordes que atuam como uma espécie de convocação. No fim da exposição, já em movimento mais rápido, madeiras e metais tocam três acordes fortíssimos na ordem breve-longo-breve. Estes vão reaparecer no segundo ato da ópera entoado pelos sacerdotes e esta é a única referência que se faz aos temas da ópera na abertura. O primeiro motivo em Allegro, um fugato, foi emprestado de uma sonata para piano de Muzio Clementi (1752-1832).

LEO WEINER (Budapest, 1885-1960)
Serenata para pequena orquestra Op. 3

Compositor e pedagogo húngaro, Weiner produziu um grande número de obras nas quais optou por não aderir às correntes mais radicais de seu tempo,mantendo-se fiel às tradições herdadas do romantismo do século XIX. Entre suas composições destacam-se três quartetos de cordas, duas sonatas para violino, cinco divertimentos para orquestra e um poema sinfônico. Não escreveu sinfonias, preferindo dedicar-se à música de câmera e para piano, instrumento ao qual se dedicou profissionalmente, sendo bastante reconhecido entre neste campo.
Sua formação musical ocorreu na Hungria, mas estudou algum tempo em Viena, retornando 1908, quando assumiu o cargo de professor de Teoria Musical na Academia de Música de Budapest, onde permaneceria até 1957, passando pelas cadeiras de composição e música de Câmera. Reconhecido como pedagogo, teve entre seus alunos alguns importantes músicos do século XX como Antal Dorati e Georg Solti.
Como compositor foi profundamente influenciado pela música de Beethoven e Mendelssohn. Isso indica que Weiner pertence àquele grupo de compositores da chamada escola Pós-romântica, que, já no século XX, privilegiavam a utilização dos procedimentos técnicos e harmônicos do século XIX. Este é o caso desta Serenata para pequena orquestra, op. 3, composta em 1906, que tem quatro movimentos: Allegretto quasi andantino; Lebhaft, sehr rhythmisch; Rubato e Allegro molto.
 
FRANZ SCHUBERT (Viena, 1797-1828)
Overture em Ré maior, D. 590, "em estilo italiano”

Esta peça foi escrita no final de 1817, juntamente com a similar Abertura em Dó Maior, D. 591. Uma destas aberturas, provavelmente esta em Ré Maior, foi publicada em 1818 e saudada pelos críticos por seu “fogo juvenil”. Um jornal da época, não sem uma ponta de despeito, publicou: “Elas são de gosto italiano e imitam o ditador Rossini”.
O “estilo italiano” refere-se ao fascínio que o “ditador” italiano, o compositor Gioacchino Rossini (Pesaro, 1992-Paris, 1868), suscitava no público vienense. Suas óperas causavam furor na cidade, em 1816 foram levadas à cena com estardalhaço L’inganno felice e Tancredi. O grande sucesso daquele ano de 1817, quando Schubert compôs a Abertura em estilo italiano, era a ópera L’italiana in Algeri.
A abertura de Schubert, que se inicia com um Adagio seguido por um tema introduzido pelas cordas, Allegro giusto, no qual Schubert captura o estilo e a técnica do compositor italiano. Há, inclusive, uma citação musical da aria Di tanti palpiti da ópera Tancredi. Suspeita-se que Schubert nem era admirador da música rossiniana, na verdade queria provar sua capacidade de escrever algo no estilo, o que realizou com grande maestria.
 
Sinfonia n° 8 em Si Menor - Inacabada, D. 759
Protótipo do artista romântico desajustado e isolado, Schubert beirava a miséria e sempre recorria ao apoio financeiro de amigos. Como muitos jovens artistas de sua geração, vivia cheio de conflitos no que considerava uma “realidade miserável” que ameaçava sua existência pessoal e artística. Muitas vezes passava suas noites em tabernas, onde esboçava composições em guardanapos, rodeado por diversas canecas de cerveja.
Em 1822, quando compôs a Sinfonia n° 8, contava com vinte e cinco anos e estava no âmago desta crise existencial. Apesar da juventude, já havia escrito uma quantidade de obras superior àquela que muitos compositores levariam toda uma vida, mas praticamente nenhuma delas havia chegado ao público.
Há diversas especulações e nenhuma conclusão sobre a razão desta sinfonia ser “inacabada”, ou seja, ter apenas dois movimentos e não quatro como era o padrão. Certamente não se deve à morte do compositor que ainda viveria seis anos, nem a um desejo de criar um novo tipo de sinfonia ou falta de inspiração, já que sua produtividade era intensa.

Em 1822 Schubert recebeu uma homenagem da Sociedade Musical de Graz e sentiu-se obrigado a escrever uma peça para a ocasião. O manuscrito de dois movimentos da sua oitava sinfonia foi entregue a um membro desta sociedade, Anselm Hüettenbrenner, que o reteve até 1865, quando mostrou ao maestro Johann Herbeck. Este ficou entusiasmado e apresentou a obra em Viena naquele mesmo ano, agregando a ela os dois movimentos finais da Sinfonia n° 3 de Schubert. O compositor Johannes Brahms ficou encantado com a obra: “Minha admiração por Schubert é muito séria, provavelmente porque não é fantasia passageira. (...) Para mim ele é como um filho dos deuses, que brinca com os raios de Júpiter, embora ocasionalmente os manipule de forma estranha. (...) Eu espero que agora estejamos aptos a falar sobre este eleito dos deuses.”
A hipótese de que posteriormente Schubert tenha entregue a Hüettenbrenner os outros dois movimentos parece improvável. Talvez a resposta seja simples: a preocupação com outros trabalhos tenha desviado sua atenção. O que existe efetivamente são dois movimentos completos e o esboço não orquestrado de um scherzo, que poderia ser o terceiro movimento. Não há resquício de um quarto movimento. Alguns supõem que este movimento poderia ter sido escrito e, em uma emergência, aproveitado em Rosamunda, peça que tem a mesma tonalidade e a mesma orquestração.
Seja qual for o caso, trata-se de uma obra única no repertório sinfônico, na qual o compositor expõe a intensidade de suas emoções e conflitos, os quais ele mesmo explicou quando escreveu: "Quando quero cantar amor, torna-se dor. E novamente, quando quero cantar a dor, ela torna-se amor. Assim amor e a dor me dividem”.
 
Lenita W. M. Nogueira

 

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