1 | 2 | 3 | 4

Autores e Obras

12/09/2015

CLAUDE DEBUSSY (Saint-Germain-em-Laye, 1862-Paris, 1918)
Clair de lune da Suíte Bergamasque (orquestração: André Caplet)

A Suíte Bergamasque foi composta em 1890 para piano e publicada em 1905. Com quatro movimentos Prélude, Minuet, Clair de lune e Passepied, foi posteriormente orquestrada por músicos como Leopold Stokowsky, Lucien Caillet e André Caplet, este responsável pela orquestração do terceiro movimento, Clair de Lune, que se destacou de tal maneira até se tornar peça independente do conjunto, sendo frequentemente executada isoladamente.

Para escrever Clair de Lune Debussy se inspirou em um poema do mesmo nome escrito pelo poeta simbolista Paul Verlaine. A peça, como o nome sugere, descreve um luar prateado e para representar este momento o compositor explora harmonias flutuantes, seu sentido oscila entre sons ora tristonhos, ora etéreos, que, nas palavras do poeta, descrevem “um luar belo e triste”.
Amigo próximo de Debussy, o orquestrador de Clair de lune, André Caplet, foi compositor de relativo destaque em seu tempo, chegando a receber o prestigioso Prix de Rome em 1901. Atualmente é mais conhecido pelas orquestrações que fez de obras de Debussy. Além de Clair de Lune, orquestrou Children’s corner e colaborou em Le Martyre de Saint-Sébastien e La Boîte a joujoux.
 
Petite Suíte
Escrita entre 1888 e 1889, originalmente para piano a quatro mãos, a orquestração não foi realizada por Debussy, mas sim por seu amigo Henri Büsser, considerado um dos melhores orquestradores de seu tempo.
A peça original estreou em 1889, tendo o próprio Debussy ao piano, ao lado do pianista-editor Jacques Durand. Acredita-se que tenha sido escrita por sugestão deste, que liderava um grupo de músicos amadores, porém habilidosos, muito comuns na época. A Petite Suíte, cujo caráter é de diversão e entretenimento, foi estruturada em quatro movimentos. No primeiro, En bateau (Em um barco), uma melodia acompanhada por acordes quebrados sugere ondulações e remoinhos na água. Debussy utiliza neste trecho um de seus procedimentos harmônicos mais característicos, a escala de tons inteiros. O segundo movimento, Cortège (Cortejo), descreve uma parada militar em uma passagem pomposa e triunfante. É seguido por um Menuet (Minueto) e a suíte se fecha com um enérgico Ballet, que, segundo o compositor, sugere uma dança de elfos. Em duas passagens Debussy trata a melodia em décimas paralelas, sugerindo técnicas que ele viria a explorar posteriormente.
 
GUSTAV MAHLER (Kaliste, Boêmia, 1860-Viena, 1911)
Sinfonia n° 4
— A abertura dos portões do paraíso! — Assim se expressou o regente Bruno Walter a respeito desta sinfonia, escrita entre 1899 e 1901, com revisões entre 1901 e 1910.
Desde a estreia em Munique, sob a regência do compositor, a sinfonia recebeu severas críticas: dizia-se que ali havia somente “coisas grotescas e cômicas” ou “dissonâncias e brincadeiras instrumentais”. Em Paris, o compositor Vincent D’Indy afirmou que se tratava de música para “Alhambras ou Moulins-Rouges, não para salas de concerto”. Para os massivos padrões mahlerianos, a orquestra é pequena e dispensa trombones. Traz uma ambiguidade de sentimentos, pois embora gire em torno da infância, a ideia da morte está sempre presente.
Em um antigo rascunho da Quarta Sinfonia, Mahler descreveu o primeiro movimento como “o mundo no eterno presente”. Embora esta ideia tenha sido omitida da partitura final, está impregnada em todo o movimento. Este se inicia com uma introdução pelas flautas e sinos, o que dá a impressão de um caminhar ritmado; há também intervenções do clarinete. Esse motivo é recorrente durante toda a sinfonia. O tema é introduzido pelos violinos e tem um caráter deliberadamente clássico, o que não surpreende, já que, segundo o compositor, a simplicidade é a chave para toda a obra. Há um segundo tema de caráter pastoral e o retorno do tema dos sinos e do primeiro tema. Após um desenvolvimento e o reaparecimento dos temas, o movimento termina alegremente.
O segundo movimento é um Scherzo onde Freund Hein, obscura personagem de uma lenda folclórica, que se assemelha à Morte, é representada por um violino afinado um tom acima do tradicional, propiciando um som mais agressivo e brilhante. Ao final, Freund Hein (vale dizer, a morte) dá a última palavra.
O terceiro movimento é decisivo para a compreensão da obra, o seu eixo psicológico. Escrito em forma de intrincadas variações, traduz em música a ideia de silêncio e serenidade, evocando, numa passagem tranquila e consoladora, a imagem de uma criança em seu sono derradeiro. Há um estado de suspensão, um limbo, que faz desse momento uma transição entre o primeiro movimento, onde é representado o mundo da vida eterna, e o último, quando a criança adentra o paraíso. Ao final a orquestra irrompe em uma gloriosa melodia, indicando que foi aberto o caminho para a vida celeste.
E ela chega no último movimento, na voz de um soprano que canta Das himmlische leben (A vida celeste), que mostra o paraíso na visão da criança. O texto é da coleção de poemas folclóricos Des Knaben Wunderhorn (A trompa mágica do menino), que Mahler havia musicado anos antes e também utilizou na segunda e terceira sinfonias. Escrito antes dos demais, este movimento foi concebido para ser o sétimo e último movimento da terceira sinfonia.
Mahler disse que este trecho deveria ter um tom infantil, mas sem uso de paródia. Desejava que os ouvintes percebessem que os três primeiros movimentos anteriores só seriam resolvidos no final. A ideia musical do início reaparece, conduzindo a um paraíso onde tudo é uma festa permanente, todos dançam e cantam embalados pela música de Santa Cecília e por vozes angelicais. São Pedro vela por todos com olhar indulgente, enquanto anjos amassam o pão, Santa Marta prepara pratos requintados e há comida e vinho à vontade. “Nenhuma música na terra pode ser comparada à nossa!”, diz a criança. E a sinfonia termina serenamente, já que a paz foi atingida.
 
Lenita W. M. Nogueira
 
 
 

 

OSMC - Paço Municipal
Av. Anchieta, 200 - 19º andar
13 015 904 | Campinas - SP
+55 19 2116 0951