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Autores e Obras

28/11/2015

LUDWIG VAN BEETHOVEN (Bonn, 1770-Viena, 1827)
Abertura Coriolano, Op. 62

Em 1802 o escritor Heinrich Von Collin escreveu o drama Coriolano, baseada em uma tragédia homônima de Shakespeare. Esta obra, com música arranjada por Abbe Stadler a partir de Idomeneo de Mozart, teve algum sucesso em Viena, mas logo caiu no esquecimento. Reapareceu em uma única vez em 1807 no palácio do príncipe Lobkowitz em Viena, na época patrono de Beethoven, que para esta ocasião compôs como introdução à peça de Collin, a Abertura Coriolano.

Nesta época Beethoven já havia se isolado devido à progressão de sua surdez, mas mantinha vivos seus ideais humanistas. Certamente ao iniciar esta composição seu interesse estava muito mais na figura heroica de Coriolano descrita por Shakespeare do que na peça de Collin, da qual nunca mais se ouviu falar.

A abertura exibe a saga do general romano Caius Martius Coriolanus, que considerava seus compatriotas corruptos e desprezíveis e advertia o senado romano sobre o perigo de se curvar ante os desejos dos plebeus. Após ser derrotado em uma eleição para o senado foi condenado ao exílio e passa a liderar um exército composto por inimigos de Roma. Sua mãe, Volumnia, a esposa e o filho são enviados por Roma para dissuadi-lo de guerrear contra seu próprio povo. Ele acaba por aceitar, mas suas tropas já estavam nos portões de Roma, e não podendo voltar atrás, se submete à turba e é morto como um traidor.

A Abertura Coriolano é composta basicamente por dois temas, o primeiro descreve o caráter rebelde de Coriolano e três uníssonos tocados pelas cordas recebem como resposta acordes exaltados da orquestra. O segundo tema é associado com sua mãe, Volumnia (alguns afirmam se tratar da esposa), que implora para ele que desista de atacar Roma. Este segundo tema retorna algumas vezes, cada vez menos convicto. A música vai perdendo vigor conforme vai ficando claro para Coriolano que o único caminho que tem pela frente é a morte. Este final pouco grandioso deixa um ar de estranhamento, mas deve-se levar em consideração que se trata de música composta como abertura de uma peça teatral e o que lhe cabe é sugerir o clima do drama que vai ocorrer em seguida.

CARL MARIA VON WEBER (Eutin, 1786-Londres, 1826)
Concerto para clarineta n° 1 em fá menor, op. 73

“Viajando ou não, serei um homem morto. Mas seu eu viajar, meus filhos ao menos terão algo para comer, mesmo se papai estiver morto – e se eu não for eles passarão fome. O que você faria na minha posição?”

Aos trinta e oito anos, Weber, consumido pela tuberculose, havia recebido um convite para estrear sua ópera Oberon em Londres. Suas predições estavam corretas: recebeu uma enorme quantia em dinheiro e faleceu em poucas semanas. Era considerado um dos compositores mais importantes de seu tempo e foi um dos pioneiros do movimento romântico. Embora ainda preso aos princípios clássicos, ele os ampliou com uso de cromatismos, combinações instrumentais inovadoras e, talvez o mais importante, com a introdução da cor orquestral característica do romantismo. Estes avanços podem ser notados na abertura da ópera Euryanthe, que estreou no Theater am Kärntner em Viena em 1823.

Weber escreveu dois concertos para clarineta comissionados pelo Rei Maximiliano I da Bavária e dedicados ao clarinetista da Orquestra de Munique, Heinrich Bärmann. Este foi o solista na estreia naquele mesmo ano em Munique em 1811. Depois disso, achando que o concerto não dava oportunidades para demonstrar suas habilidades, Bärmann inseriu uma pequena cadenza no primeiro movimento e, ao que tudo indica, foi aceita pelo compositor, já que foi definitivamente integrada ao concerto.

No primeiro movimento, Allegro, após os movimentos iniciais da orquestra, o solista apresenta um tema um tanto angustiado, clima que se quebra no decorrer do movimento, que explora uma das grandes qualidades da clarineta, a agilidade. Na parte central do movimento aparece a cadenza inserida pelo seu primeiro solista, Heinrich Bärmann.

O segundo movimento, Adagio ma non troppo, tem um clima bastante doloroso desde o início, com a clarineta apresentando uma triste melodia apoiada em cordas delicadas. Merece destaque o trecho em que a clarineta se apresenta acompanhada por trompas e fagote em forma de coral, o que dá um apoio solene ao tema. No final reaparece o tema inicial que é relembrado com uma breve reminiscência deste coral de trompas e fagote.

O concerto se encerra com um andamento bem mais movimentado, Rondo: Allegretto, em estilo de dança. Neste trecho a clarineta bastante exigida, tanto em agilidade como em extensão. O clima animado é quebrado por um trecho mais introspectivo, mas logo se reanima para chegar a um final brilhante.

LUDWIG VAN BEETHOVEN (Bonn, 1770-Viena, 1827)
Sinfonia nº 1 em Dó Maior, op. 21

A Primeira Sinfonia de Beethoven estreou no mesmo concerto em que ele apresentou o Concerto nº 1 para Piano e Orquestra, que ocorreu no Hoftheater em Viena no dia dois de abril de 1800. Foi dedicada ao Barão Gottfried van Swieten, um antigo patrão do compositor, e publicada no ano seguinte pela editora Hoffmeister & Kühnel de Leipzig.

Como o Concerto para Piano e Orquestra nº 1, esta sinfonia pertence ao primeiro período produtivo de Beethoven e está ainda impregnada do estilo clássico, no caso mais especificamente de Joseph Haydn, de quem foi aluno. Mas o compositor já demonstra as características que marcariam sua obra, notadamente o uso frequente de sforzando e o uso proeminente de instrumentos de sopros.

Em 1795 Beethoven esboçou algumas ideias para o primeiro movimento de uma Sinfonia em Dó Maior, mas abandonou o projeto até 1799, quando revisou o material. Percebeu que a música não seria adequada para o primeiro movimento e ela foi adaptada para o Finale, no qual aparece como tema principal.

Segundo o compositor francês Hector Berlioz (1803-1869), essa obra “por sua forma, por seu estilo melódico, por sua sobriedade harmônica e por sua instrumentação, se distingue das outras composições de Beethoven que a sucederam. O autor, ao escrevê-la, estava evidentemente preso ao império das ideias de Mozart, que ele expandiu algumas vezes e, sobretudo, imitou engenhosamente.”

A obra se inicia com uma introdução breve, Adagio, e após alguns compassos irrompe o Allegro con brio, formado por dois temas. Sobre o segundo movimento, Andante cantabile con moto, Berlioz afirma que “é cheio de charme, o tema é gracioso e se presta bem aos desenvolvimentos fugatos, dos quais o autor soube tirar partido de forma tão habilidosa quanto fascinante”. Como destaque, observe-se a utilização dos tímpanos como acompanhamento, que se hoje parece uma prática comum, não o era na época e já prenunciava a exploração inovadora que Beethoven faria deste instrumento.

O terceiro movimento, Menuetto: Allegro molto e vivace, é a parte que mais se sobressai em toda a sinfonia, principalmente porque aqui Beethoven expõe o que Berlioz chamou de “deliciosas brincadeiras”, o Scherzo, forma introduzida por Beethoven e que a partir daí substituiu os tradicionais minuetos em quase todas as suas obras instrumentais, embora nesta sinfonia ainda não tenha usado tal denominação. O movimento é brilhante e tem um conteúdo musical de grande simplicidade derivado de elementos temáticos apresentados anteriormente. A Sinfonia nº 1 termina com um Adagio – Allegro molto e Vivace, que também trabalha com elementos de partes anteriores.

Ao final, ficamos com as palavras de outro compositor, Robert Schumann (1810-1856), que, ao refletir sobre a Sinfonia nº 9 de Beethoven, escreveu: “Ame-o, ame-o verdadeiramente, mas não se esqueça de que ele atingiu a liberdade poética depois de perfeito estudo, anos sem fim, e admire seu incansável poder moral. Não procure extrair o incomum, retorne para as raízes da criação, demonstre a genialidade dele não através de sua última sinfonia (...), você pode fazer isso também através de sua primeira sinfonia.”

 

Lenita W. M. Nogueira

 

 

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