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CONCERTO OFICIAL 01 e 02 de Abril - Saiba mais sobre as obras...

29/03/2006

Conheça o currículo dos músicos:

Este concerto apresenta dois compositores, Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887-1959) e Mozart Camargo Guarnieri (Tietê, SP, 1907-São Paulo, 1993) fortemente ligados à corrente nacionalista da música brasileira, que incorpora elementos do folclore, dos ritmos e da tradição popular à composição erudita. Os dois, entretanto, seguiram caminhos estéticos opostos: enquanto Villa-Lobos teve uma formação musical mais autodidata, eminentemente carioca e ligada aos músicos de rua, seresteiros e chorões, o que resultou em procedimentos de certa maneira anárquicos no que diz respeito à forma musical, Guarnieri, nascido no interior paulista, realizou estudos mais formais e seguiu pelo caminho oposto, valorizando bastante a forma musical, sendo sua música por vezes analisada como uma busca das formas clássicas, de equilíbrio e contenção. Diferenças a parte, ambos foram extremamente representativos para a música brasileira do século XX.

CHOROS Nº 9

Embora menos conhecida que as Bachianas Brasileiras, a série Choros representa um dos pontos culminantes na obra de Villa-Lobos. Sob esse nome ele reuniu dezesseis peças inspiradas na música urbana carioca, escritas para formações diversas, que vão desde o violão solo do Choros nº 1, passando por grupos de câmara até as massas sinfônicas dos Choros nº 6 e 9.

A numeração da série não corresponde à ordem cronológica de composição, já que ordenar seqüencialmente sua obra não era nem de longe uma das preocupações de Villa-Lobos. Sabe-se que os Choros 7, 8 e 10 foram escritos entre 1924 e 1925 e os de número 4,5 e 6 entre 1925 e 1926.

O Choros nº 9 foi escrito em 1929 e segundo o próprio compositor não existe aqui “ficção, recordações, nem fatores temáticos transfigurados. Nenhuma objetivação, apenas ritmo e sons mecânicos.” A instrumentação é ousada para os padrões da época e utiliza instrumentos como tamborim, bateria, tambor, surdo e  bombo.

BACHIANAS BRASILEIRAS Nº 5

Seguindo a sua assertiva de que a música de Johann Sebastian Bach (1685-1750) poderia se tornar universal através do folclore, Villa-Lobos compôs entre 1930 e 1945 as Bachianas Brasileiras, uma série de nove suítes, cada uma com sua formação musical específica, nas quais buscou uma união entre o estilo denso do mestre alemão e a música popular brasileira. As Bachianas nº 5, em especial a primeira parte, Aria (Cantilena), é uma das obras mais executadas do repertório brasileiro, só rivalizando talvez com O Trenzinho do Caipira, do mesmo compositor.

Escrita para soprano e oito violoncelos, alude aos baixos dos violões seresteiros que Villa-Lobos tanto admirava. Foi composta em duas etapas: em 1938 compôs a Aria, com subtítulo de Cantilena, dedicada à sua segunda esposa, Arminda (ou Mindinha, como era mais conhecida), com texto da cantora Ruth Valadares Correa, que cantou na estréia em 1939 no Rio de Janeiro, sob a regência do compositor; em 1945 agregou a Dança - Martelo, com texto de Manuel Bandeira.

Um trecho em vocalise, sem texto, inicia a obra, com a voz como que pairando acima dos violoncelos em pizzicato, num contraponto ao estilo de Bach. Somente num segundo momento, sugerindo uma modinha de salão, é introduzido o texto. A segunda parte, Dança - Martelo,  se inicia com texto “Irerê meu passarinho do sertão do Cariri” que, com seu ritmo obstinado, sugere um desafio nordestino, numa melodia construída com fragmentos de cantos de pássaros daquela região.

Esta obra foi gravada por cantoras destacadas e entre elas podemos destacar Bidu Sayão e Victoria de Los Angeles, que gravaram sob a regência do compositor; Maria Lucia Godoy, Kiri te Kanawa, Anna Moffo, Kathleen Battle, Barbara Hendricks, Renée Fleming, Eva Marton, Arleen Auger, Galina Vischnevskaya e Jill Gómez, entre tantas outras.

CHORO PARA FAGOTE E ORQUESTRA DE CÂMARA

“Por Deus, esse menino é um predestinado!” Assim escreveu Mário de Andrade  (São Paulo, 1893-id., 1945) em 1928 sobre o então jovem compositor Camargo Guarnieri, que por esta época já havia retirado o “Mozart” de seu nome artístico, “para não ofender o mestre”, dizia. A convivência entre Andrade e Guarnieri foi das mais profícuas, já que o escritor de Macunaíma tornou-se o mentor artístico do compositor e assumiu a tarefa de orientar o rapaz sem recursos que tocava piano no Cine-Teatro Recreio em São Paulo para poder estudar música. Guarnieri recordava-se com saudade das reuniões de intelectuais na casa de Mário, onde “discutia-se literatura, sociologia, filosofia, arte, o diabo! Aquilo para mim era o mesmo que estar assistindo aulas numa universidade.” Foi por influência de Mário que aderiu com fervor aos ideais da música nacionalista, o que determinou toda a sua produção musical. Apesar de trabalhar com elementos do folclore e os ritmos fortes da música popular, a obra de Guarnieri não pode ser considerada fácil, mesmo porque ele dava muita atenção aos detalhes da composição, à forma musical e à lógica interior de suas obras.

O Choro para Fagote e Orquestra de Câmara, peça encomendada pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, foi a derradeira da sua vasta obra, estimada em mais de setecentas peças. Falecido em 1993, não chegou à assistir à estréia, que ocorreu no ano seguinte durante o 25º Festival de Campos do Jordão. Apesar de ser o fagote um instrumento raramente utilizado como solista, a escrita de Guarnieri é bastante exigente, já que trabalha com grandes saltos, notas repetidas e passagens angulosas que tornam a obra um grande desafio para qualquer fagotista.

Pouco antes de falecer, Guarnieri havia recebido da Organização dos Estados  Americanos o prêmio "Gabriela Mistral", como o "Maior Compositor das Três Américas". E este foi apenas um dos diversos prêmios e condecorações, tanto nacionais como internacionais, que recebeu em vida. Criou uma escola de composição, onde formou uma importante geração de músicos ainda em atividade como Osvaldo Lacerda, Marlos Nobre, Sérgio Vasconcelos Corrêa, Ailton Escobar e Almeida Prado.

CHOROS Nº 6

Trata-se de uma das peças mais encorpadas da série Choros, composta em 1926, só foi apresentada pela primeira vez em 1942 no Rio de Janeiro. A escolha da flauta para apresentar o tema é emblemática, pois é um dos instrumentos mais representativos da música popular urbana. Contrastando com esse tema seresteiro e choroso, uma valsa, outro gênero que dominava casas e ruas cariocas do início do século XX, é introduzida pelo fagote. 

Neste Choro nº 6 Villa-Lobos também utilizou um grande número de instrumentos de percussão mais típicos da música popular urbana que de uma orquestra sinfônica, como cuíca, reco-reco, tambor, chocalhos e tamborim de samba, sempre visando expressar o que chamou de “essência da alma brasileira”.

DICIONÁRIO MUSICAL

CHORO: Gênero criado pelos grupos de músicos cariocas que, ao executarem formas tradicionais da música européia em voga no início do século XX, como polcas, xótis, tangos e valsas, foram se apropriando desses gêneros e adaptando-os ao caráter brasileiro; com isso acabaram por criar o Choro, música de caráter plangente e choroso. Segundo Mário de Andrade, trata-se de uma música noturna de caráter popular coreográfico, para pequena orquestra.

PIZZICATO: palavra italiana que quer dizer beliscar. Efeito de beliscar a corda dos instrumentos de arco com os dedos, sem uso do arco.

ORQUESTRA DE CÂMARA: Diz-se de uma orquestra reduzida.

VOCALISE: Canto que as notas são entoadas sobre uma vogal, sem texto.

Lenita W. M. Nogueira

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