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11.07.2007
As Obras

FANNY HENSEL (Hamburgo, 1805-Berlim, 1847)

Abertura em Dó Maior

"Madame Hensel é uma musicista inesquecível, uma excelente pianista, e uma mulher intelectualmente superior. Ela é pequena, quase frágil, mas o fogo que queima nos seus olhos revela extraordinária energia. Como compositora, ela é excepcionalmente dotada....".

Apesar destas palavras elogiosas do compositor Charles Gounod, o nome Fanny Hensel soa estranho para a maioria do público. O problema é que ela tinha um atributo imperdoável para a sociedade oitocentista, e isso desvalorizava sua obra a priori: era mulher.

A história da música registra, até o século XIX, apenas um punhado delas. Além de Fanny, a monja mística Hildegard von Bingen (1098-1179), cuja obra esteve esquecida por séculos, Francesca Caccini (1587–1640?) e Barbara Strozzi (1619–1677), apenas nomes nos livros, e a injustiçada Clara Schumann (1819-1896), uma grande compositora considerada um apêndice do marido. Somente no decorrer do século XX compositoras com Amy Beach (1867-1944), Cécile Chaminade (1857–1944), Ruth Crawford-Seeger (1901–1953), Sofia Gubaidulina (1931) ou Alizia Terzian (1934), entre muitas outras, encontram mais espaço para apresentar suas obras em igualdade de condições com os homens.

Mas Fanny Hensel, mulher do século XIX, apesar de pertencer a uma abastada família de banqueiros, teve que se valer do nome do irmão famoso, Felix Mendelssohn, para poder publicar algumas obras. Ela se beneficiou da mesma educação musical do irmão, e como este, demonstrou bastante habilidade e desde cedo começou a compor. Apesar disso, sofreu preconceito dentro de sua casa, sendo que seu pai apenas tolerava os pendores artísticos da filha, sem dar a ela qualquer incentivo. Em uma carta, falando a respeito de Felix, ele recomendava à filha: "A música se tornará talvez sua profissão, enquanto para você ela pode e deve ser apenas um ornamento. Você deve se preparar mais séria e avidamente para o seu real chamado, o único para uma mulher jovem – ser de dona de casa". Felix, ao contrário, sempre a incentivou, embora tenha publicado trabalhos da irmã em seu nome. Em 1829 Fanny casou-se com o pintor Wilhelm Hensel, que a apoiou em seu trabalho, mas isso não a colocou no lugar que merecia.

Três canções de Fanny foram publicadas no Opus 8 e 9 de Felix, um dueto escrito por ela é considerado o melhor da coleção. Ela compôs uma abertura e cinco peças vocais com orquestra. A maior parte de suas obras, incluindo grandes cantatas e oratórios, nunca foram publicadas.

Estima-se que Fanny tenha composto cerca de 400 obras e somente dez delas foram publicadas durante sua vida.

CLARA SCHUMANN (1819-1896)

Concerto para piano em Lá menor, op. 7

Clara era filha do pianista Friedrich Wieck, seu professor e mentor até que, contra a vontade deste, casou-se com Robert Schumann. Pai e filha romperam relações definitivamente. Até seu casamento em 1840, Clara tinha uma bem sucedida carreira como pianista e foi graças a essa habilidade que ela pôde sustentar sua numerosa família após a insanidade e morte de Schumann em 1856. Até o fim da vida recebeu apoio de Johannes Brahms, cuja carreira havia sido bastante impulsionada por Schumann.

Como compositora, Clara escreveu um pequeno número de peças para orquestra e câmara, além de peças para piano solo, a maior parte de sua obra. Sua única sonata para piano foi escrita como um presente para o esposo.

O Concerto para Piano em Lá menor é uma obra da juventude, escrito antes do casamento com Robert. Apesar disso, pode-se notar como a compositora conseguiu expressar de forma bastante enfática os ideais do romantismo vigentes no século XIX, utilizando o virtuosismo ao piano como um elemento de expressão de sentimentos profundos.

O início retumbante do primeiro movimento, Allegro maestoso, e a majestática introdução do piano demonstram o clima exacerbado que predomina em quase todo o concerto. Entretanto, um dos pontos mais marcantes da obra encontra-se no segundo movimento, Romanze: Andante non troppo con grazia, no qual o piano apresenta um tema cheio de lirismo, que é repetido pelo violoncelo, num momento em que o piano passa para o segundo plano, ornamentando de maneira bastante delicada a melodia do violoncelo. Ao retomar o tema, o piano fecha delicadamente o movimento. Uma chamada dos metais quebra o clima e dá início ao terceiro movimento, Allegro non troppo – Allegro molto que retoma o clima agitado do início do concerto.

Esta obra é bastante surpreendente se pensarmos que foi escrita em 1836, quando Clara, aos 17 anos, era ainda uma adolescente. Além da surpresa de uma obra de tal qualidade, só nos resta lamentar que ela não tivesse exercido com mais afinco a profissão de compositora. Mas a vida lhe foi ingrata, pois teve que amparar o esposo indaptado, que, mesmo antes da manifestação mais forte de sua doença, não conseguia meios para sustentar a família numerosa. Clara teve que se desdobrar para manter a família, além de ter se dedicado ao marido com devoção, mesmo após a morte deste, trabalhando intensamente na divulgação da obra de Schumann.

Este, por sua vez, consciente de sua doença, vivia apavorado com a idéia de que pudesse fazer mal à família durante uma de suas crises e tentou o suicídio jogando-se no Rio Reno, o mesmo que imortalizou na Sinfonia n° 3, Renana. Não tendo conseguido o seu intento internou-se em uma clínica até o fim de seus dias, sempre amparado por Clara, que não compôs mais nada após 1846, embora tenha sobrevivido ao marido por 40 anos.

AMY BEACH (Henniker, 1867-Nova York, 1944)

Sinfonia n° 2, em Mi menor, op. 32 – "Gaélica"

"Agora ela é um dos meninos". Assim o compositor norte-americano George Whitefield Chadwick se referiu a Amy Beach, que acabara de apresentar com grande sucesso sua Sinfonia Gaélica, interpretada pela Orquestra Sinfônica de Boston em 30 de outubro de 1896. Esta frase implicava que Beach havia sido aceita no seleto grupo de compositores estabelecidos em Boston, apesar de ser mulher.

Primeira compositora americana a ser reconhecida pela crítica, Amy Beach iniciou sua carreira como pianista após a mudança da família para Boston em 1875. Quando tinha catorze anos, começou a estudar composição, mas sua formação nesse campo foi mais auto-didata.

Em 1885, após casar-se com um cirurgião vinte e quatro anos mais velho, Amy limita suas apresentações como pianista a uma por ano e apenas com finalidades de caridade, mas seguiu sua carreira de compositora, conforme o desejo do marido.

Após a morte do marido em 1910 retomou sua carreira de pianista com uma grande turnê pela Europa, retornando aos Estados Unidos em 1914. No ano seguinte escreve "Dez recomendações para jovens compositores", no qual expressa seus princípios de auto-ensino e radica-se em Nova York, onde torna-se compositora residente na Igreja Episcopal de São Bartolomeu. Apoiou diversos compositores em início de carreira e participou de diversas organizações, com destaque para a Sociedade de Mulheres Compositoras Americanas, da qual foi a primeira presidente

Sua primeira obra de sucesso foi Missa em Mi Bemol Maior, apresentada em 1892 pela Haendel and Haydn Society. Quatro anos depois a Sinfonia Gaélica foi apresentada pela Orquestra Sinfônica de Boston e com ela Amy Beach alinha-se às correntes nacionalistas, que, nos Estados Unidos da década de 1890 foram fortalecidas com a presença de Antonin Dvorák à frente do Conservatório de Música de Nova York. Mas ela discordava com a ênfase que este dava à música afro-americana, com a qual ela, por ser oriunda da região norte dos Estados Unidos, não tinha muita familiaridade.

Na Sinfonia Gaélica ela trabalha com temas irlandeses, herança de seus ancestrais. Beach afirmou que esta sinfonia tinha um caráter programático, expressando os sofrimentos e lutas do povo irlandês, "seus lamentos... seus romances, e seus sonhos."

Baseada na crença de que as melodias mais antigas eram as mais autênticas, sua sinfonia foi baseada em uma coleção de melodias folclóricas publicadas em Dublin em 1841. Isso se reflete em toda a obra e pode-se notar, no final do primeiro movimento, o trabalho instrumental que busca imitar o som da gaita de fole. O segundo e o terceiro temas são emprestados de uma canção da própria Amy Beach, Dark is the night, op. 11, n° 1. O segundo movimento é monotemático e tem como base uma canção de amor gaélica, que é apresentada por um solo de oboé, e na seqüência pelo conjunto das madeiras e repetido pelas cordas. No meio desse movimento este tema é transformado em um agitado moto perpetuo. No terceiro movimento dois temas irlandeses, o primeiro deles um canto de glória pelas belezas da Irlanda e o outro, um lamento pela morte de uma criança, são desenvolvidos e combinados. O tema do último movimento, embora tenha estilo e ritmo de dança irlandesa, foi criado por Beach, e marca o final da sinfonia de maneira bastante enérgica.

Lenita W. M. Nogueira




 
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