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25.08.2007
As Obras

JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA (Rio de Janeiro, 1767-1830)

Abertura em Ré

Os músicos do Brasil colônia eram pessoas humildes, em geral mulatos, que buscavam, através da "arte da muzica" ascender socialmente dentro da rígida estratificação vigente. A igreja era o porto seguro, já que não havia cerimônia religiosa sem música. A posição principal cabia ao mestre-de-capela, músico contratado pela igreja com múltiplas funções como compor música, realizar cópias de partituras de outros compositores, ensaiar coro e orquestra, reger, tocar vários instrumentos, ensinar música a meninos e em geral, contratar e pagar músicos.

Esse era o ofício do padre José Maurício na Catedral e Sé do Rio de Janeiro a partir de 1798. Órfão, mulato e pobre, abraçou a carreira religiosa para poder dedicar-se à música e escreveu uma das mais belas páginas da música brasileira. Em 1808 a chegada da corte de Dom João VI provocou substancial incremento na atividade musical do Rio de Janeiro com a criação da Capela Real, para onde José Maurício foi transferido. Entretanto, um novo gosto musical passou a ser cultivado e o padre-mestre acabou por adaptar-se aos novos tempos e à ópera italiana, que dominava o período.

O termo abertura aqui não significa um trecho que antecede uma ópera, mas trata-se de peça autônoma, escrita provavelmente como introdução de algum espetáculo cênico ou elogio dramático. A data da composição da Abertura em Ré (também conhecida como Sinfonia em Ré) é incerta, mas a sua existência tem uma forte ligação com Campinas, já que, com o extravio dos manuscritos originais, a obra sobreviveu unicamente graças às cópias de Manuel José Gomes (Santana de Parnaíba, 1792-Campinas, 1868), mestre-de-capela em Campinas de 1815 até 1868, e, em menor número, de seu filho Sant’Anna Gomes (Campinas, 1834-1908), respectivamente pai e irmão de Carlos Gomes.

Embora a maior parte da produção musical de José Maurício seja sacra, temos o registro de que teria escrito uma ópera, Le due gemelle, infelizmente desaparecida, e quatro peças sinfônicas: além da Abertura em Ré, escreveu Abertura Zemira, Sinfonia Tempestade e Sinfonia Fúnebre. Embora não se saiba para que fim foram escritas, estas obras marcam bravamente o início da composição sinfônica no Brasil.

CAMARGO GUARNIERI (Tietê, SP, 1907-São Paulo, 1993)

Choro para Violoncelo e Orquestra

"Por Deus, esse menino é um predestinado!" Assim escreveu Mário de Andrade (São Paulo, 1893-id., 1945) em 1928 sobre o então jovem compositor Camargo Guarnieri, que por esta época já havia retirado o "Mozart" de seu nome artístico, "para não ofender o mestre", como dizia. A convivência entre Andrade e Guarnieri foi das mais profícuas, já que o escritor de Macunaíma tornou-se o mentor artístico do compositor e assumiu a tarefa de orientar o rapaz sem recursos que tocava piano no Cine-Teatro Recreio em São Paulo para poder estudar música. Guarnieri recordava-se com saudade das reuniões de intelectuais na casa de Mário, onde "discutia-se literatura, sociologia, filosofia, arte, o diabo! Aquilo para mim era o mesmo que estar assistindo aulas numa universidade." Foi por influência de Mário que aderiu com fervor aos ideais da música nacionalista, o que determinou toda a sua produção musical. Apesar dessa opção nacionalista, a obra de Guarnieri não pode ser considerada fácil, mesmo porque ele dava muita atenção aos detalhes da composição, à forma musical e à lógica interior de suas obras.

O Choro para Violoncelo e Orquestra de Câmara foi escrito em 1961 a pedido do grande violoncelista Aldo Parisot, brasileiro radicado nos Estados Unidos. Apesar de ter características de concerto, a obra foi intitulada "Choro", porque esta era uma prática que Guarnieri vinha utilizando há algum tempo, justificando que queria expressar "a linguagem nacional, própria do autor e com raízes na terra".

Durante a composição, os atritos entre compositor e intérprete foram muitos, e conta-se que Guarnieri, de personalidade difícil, teria rompido definitivamente com Parisot assim que ouviu a gravação realizada por este em Nova York, com a Orchestra of America dirigida por Richard Korn. A crítica de Guarnieri aconteceu através de uma carta, na qual reprovava veementemente a interpretação do violoncelista, que não teria seguido as determinações da partitura.

A peça tem três movimentos, mas há ligação entre o primeiro e o segundo. O primeiro é monotemático, baseado em um motivo de cinco notas, que é transformado durante o movimento. Segue-se o segundo movimento, ligado ao movimento anterior por uma nota sol deixada pelos contrabaixos. Como de praxe em concertos, este trecho é mais lento e de caráter pensativo, tendo como característica um pedal, isto é, uma nota sustentada que se reveza entre os instrumentos, sobre a qual o violoncelo executa uma melodia bastante lírica e expressiva. Já o terceiro movimento é bastante contrastante, cheio de alegria e agitação e de grande dificuldade técnica para o solista.

HEITOR VILLA-LOBOS (Rio de Janeiro, 1887-1959)

Sinfonieta n° 1

Costuma-se dividir a obra de Villa-Lobos em quatro fases, sem uma indicação precisa de datas. A primeira, que vai até 1919, seria uma fase de consolidação de sua formação musical, na qual mescla elementos de música popular carioca com música erudita. A Sinfonieta n° 1 é desta fase e foi escrita em 1916. A estréia ocorreu somente seis anos depois no Teatro Municipal de São Paulo em abril de 1922, com a orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos, sob a regência do compositor. Dois meses antes Villa-Lobos havia participado da turbulenta Semana de 1922, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, e várias de suas obras foram apresentadas pela primeira vez ao público paulista, que, um tanto conservador, em alguns momentos não lhe poupou sonoras vaias.

A Sinfonieta n° 1 foi dedicada à memória de Mozart, exaltando o músico que transitava entre dois mundos antagônicos, o da aristocracia com suas regras, que via o músico como produtor de entretenimento, e o íntimo do artista, que clamava por independência para sua criatividade inesgotável.

A peça, dividida em três movimentos, Allegro giusto, Andante non troppo e Andantino, é baseada em dois temas, o primeiro, que se conclui com uma súbita revolta, reflete a aristocracia européia à qual Mozart servia e o segundo, de caráter ao mesmo tempo violento, grave e misterioso, se transforma em um hino melancólico e apaixonado. Os dois temas vão se alternando e no decorrer da pela há predominância ora de um ora de outro.

Suíte n° 2 para Orquestra de Câmara

Já esta peça está no outro extremo da produção de Villa-Lobos, na sua quarta e última fase produtiva. Trata-se de uma das últimas composições de Villa-Lobos, escrita em Paris, em 1959, ano do seu falecimento, e dedicada à sua esposa, Arminda, ou Mindinha. Apesar de constar no nome da obra "para Orquestra de Câmara", foi escrita para orquestra sinfônica e representa uma síntese da obra do compositor, que a esta altura já havia escrito centenas de obras, algumas das mais preciosas da música brasileira, e dominava totalmente as técnicas de composição e orquestração.

Sendo uma suíte é formada por cinco partes: Lamento (Andante Cantabile), Scherzo (Vivace), Passeio (Andantino quase Allegretto), Canção lírica (Poco Moderato) e Macumba (subtítulo: Evocation of the spirits).

Esteticamente este era um período em que Villa-Lobos já havia se desligado da composição caráter nacionalista, assumindo uma postura mais universalista, ligada ao neo-classicismo com ênfase nas grandes formas, como quartetos de cordas, concertos, peças religiosas, a 10ª. Sinfonia e as duas Suítes para Orquestra da Câmara.

A primeira apresentação desta Suíte n° 2 ao público foi póstuma e ocorreu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em novembro de 1960, em um concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira sob a regência de João de Souza Lima.

Lenita W. M. Nogueira

Choro. Gênero criado pelos grupos de músicos cariocas que, ao executarem formas tradicionais da música européia em voga no início do século XX, como polcas, xótis, tangos e valsas, foram se apropriando desses gêneros e adaptando-os ao caráter brasileiro; com isso acabaram por criar o Choro, música de caráter plangente e choroso. Segundo Mário de Andrade, trata-se de uma música noturna de caráter popular coreográfico, para pequena orquestra.

Manuel José Gomes (Santana de Parnaíba, SP, 1792-Campinas, 1868). Chegou à Campinas, então vila de São Carlos, por volta de 1815 para exercer em caráter pioneiro a profissão de mestre-de-capela. Esteve ativo nesta função por mais de 50 anos e deixou um importante e vultoso acervo de manuscritos musicais que, além de suas próprias composições, contém diversas cópias que realizou de compositores do período colonial e imperial brasileiros; o caso da Abertura em Ré é de José Maurício, único exemplar remanescente dessa obra, é um exemplo de que, sem as suas cópias, esta obra teria se perdido definitivamente.

Sinfonieta. Uma sinfonia de pequenas proporções.

Suíte. Uma série de danças justapostas em um único trabalho; durante o período barroco (século XVII-XVIII), suíte referia-se geralmente a um conjunto estilizado de danças.

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