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14.06.2008
Autores e Obras

JEAN SIBELIUS (Tovastehus, Finlândia, 1865-Järvanpää, Finlândia, 1957)

O Cisne de Tuonela

Autor de sete sinfonias, Sibelius é considerado um dos grandes sinfonistas da primeira metade do século XX. Sua obra foi estimulada pelo movimento nacionalista finlandês (a Finlândia foi até 1917 um grande ducado pertencente ao Império Russo), bem como pela mitologia finlandesa, da qual a Sinfonia Coral Kullervo (1891) é uma conseqüência. Apesar de sua obra estar impregnada das velhas tradições e mitos finlandeses, Sibelius nunca trabalhou diretamente com canções folclóricas em suas composições.

Falecido em meados do século XX, sua linguagem tonal sempre esteve ligada à estética do século XIX, na corrente conhecida como Romantismo Tardio. Mesmo tendo sobrevivido a compositores mais arrojados como Bartók, por exemplo, nunca foi influenciado por experimentos com a atonalidade e as inovações em sua obra estão mais ligadas à forma, não à harmonia.

Sibelius desejava exaltar a cultura de seu país e o caminho para isso foi o estudo do Kalevala, a coleção de versos da mitologia finlandesa. A partir deste poema, pensava em escrever uma ópera épica e grandiosa ao estilo do Anel dos Nibelungos, a Tetralogia de Richard Wagner (1813-1883), baseada na mitologia germânica.

Este trabalho nunca foi concluído e o prelúdio tornou-se O Cisne de Tuonela (1896), a segunda das quatro seções que compõem a Lemminkäinen Suíte: Quatro Legendas do Kalevala, op. 22.

Similar ao Hades dos gregos, Tuonela é o local para onde vão os mortos, cercado por um rio de águas negras e forte correnteza, no qual nada e canta majestosamente o cisne sagrado. Em O Cisne de Tuonela, Lemminkäinen, um dos heróis da mitologia finlandesa, mergulha no rio para matar o cisne, mas morre atingido por uma flecha envenenada. No trecho seguinte do épico, O retorno de Lemminkäinen, o herói revive e conclui a epopéia.

A peça inicia-se em tom sombrio, a música retrata o canto do cisne que desliza serenamente em meio à névoa. Aqui encontramos um dos mais notáveis solos de corne inglês de toda a literatura orquestral, transmitindo um sentimento de solidão e consolação. A música se intensifica e o corne inglês retorna na segunda metade da peça para apresentar novamente o canto do cisne. A orquestração, que favorece violas e violoncelos e explora as notas mais graves dos violinos, dá um tom escuro à obra, retratando o caráter sombrio de Tuonela.

 

MAURICE RAVEL (Ciboure, 1875-Paris, 1937)

Le Tombeau de Couperin

Em 1914, quando estourou a Primeira Guerra Mundial, Ravel tentou se alistar no exército, mas, franzino e doentio, não conseguiu se integrar aos combatentes. Deu sua contribuição trabalhando como motorista de ambulância, mas acabou ferido. Talvez como uma única reação possível frente ao horror que sua alma sensível não podia suportar, manteve sua atividade de compositor.

Uma das obras que iniciou durante este período foi Suíte Francesa, que acabou deixando de lado durante dois anos. Só retomou a composição em 1917 durante uma temporada na Normandia, onde tentava recuperar sua saúde debilitada, condição agravada pelo falecimento de sua mãe. Sempre comovido pelos eventos gerados pela guerra, mudou o nome da obra para Le Tombeau de Couperin, em homenagem aos mortos na guerra. Esteticamente, pela utilização de formas do passado, esta obra pode ser enquadrada dentro da corrente neoclássica.

François Couperin (1668-1733), compositor, organista e cravista francês, era, na concepção de Ravel, um dos representantes máximos da cultura francesa e daí o título Le Tombeau de Couperin, ou A Tumba de Couperin. Mas ao nome desta obra não cabe uma tradução literal, já que em francês a expressão “le tombeau de” pode ter o sentido de “em memória de”, ou “em honra de”.

Foi com essa concepção que Ravel compôs esta obra para piano, já que em cada um dos movimentos rende homenagem a um amigo caído na guerra. A peça tinha data para a apresentação em Paris, mas houve um bombardeio e o evento foi cancelado. Ravel aproveitou o atraso para orquestrar quatro dos seis movimentos, já que, como disse certa vez, para ele “orquestração era mais diversão que trabalho”.

Dedicou o Prelúdio, ao tenente Jacques Charlot, que transcreveu a peça de Ravel Ma Mère l’Oye, originalmente para piano a quatro mãos, para piano solo; Forlane, ao pintor basco e tenente Gabriel Deluc;  Minueto, em memória de Jean Dreifuss, filho da amiga em cuja casa Ravel se recuperou após seu acidente e Rigaudon - aos irmãos Pierre e Pascal Gaudin, mortos pela mesma bomba.

Da peça original para piano, Ravel não orquestrou dois movimentos, Fuga, dedicada a Jean Cruppi, e Tocata, que escreveu em memória ao musicólogo francês Capitão Joseph de Marliave, estudioso dos quartetos de Beethoven e marido da famosa pianista e professora Marguerite Long.

 

Giacomo Puccini (Lucca, 1858-Bruxelas, 1924)

Missa de Glória

Os Puccini eram famosos na região de Lucca na Itália por uma linhagem de músicos ligados à igreja, organistas, compositores, cantores e mestres-de-capela. No século XVIII Giacomo Puccini (1712-1781) era organista na igreja de San Martino e diretor da Capela Palatina; seu filho Antonio (1747-1832) exerceu os mesmos cargos e dedicou-se à composição de música sacra, bem como seu neto, Domenico (1772-1815), que também compôs canções profanas e duas sinfonias. O filho de Domenico, Michele (1813-1864) estudou em Nápoles com Gaetano Donizetti e Saverio Mercadante e foi professor no Instituto Musicale Pacini em Lucca, do qual se tornou diretor em 1862. Também foi organista na igreja de San Martino e compositor de obras sacras e profanas, inclusive duas óperas. Teve dois filhos: Michele (1864-1891), que seguiu os seus passos, e Domenico Michele Secondo Maria, que adotou o nome de seu trisavô, Giacomo Puccini.

Este deveria continuar a tradição musical da família, representando a quinta geração. Aos catorze anos já atuava como organista, aos dezesseis tornou-se mestre-de-capela e começou a compor peças religiosas. Mas aos dezessete anos, após assistir uma apresentação de Aída de Giuseppe Verdi em Pisa, ficou de tal modo impressionado que resolveu abandonar tudo para dedicar-se à ópera. Matriculou-se no Conservatório de Milão, onde estudou com Amilcare Ponchielli, amigo de Carlos Gomes e compositor de La Gioconda.

Primeira composição de vulto daquele que viria a ser, ao lado de Giuseppe Verdi, um dos ícones da ópera italiana, a Messa di Gloria, estreou na cidade natal do compositor em 1880 e ficou esquecida até 1951, quando foi redescoberta e publicada na Itália.

Apesar do respeito à tradição musical, as linhas vocais de inspiração verdiana e a orquestração plena de tensões dramáticas dão à missa um caráter teatral onde destacam-se ecos de Nabuco de Verdi no Credo (Qui tollis peccata mundi) e uma verdadeira aria de ópera no solo de tenor do Gloria (Gratias agimus tibi). Apesar do tratamento mais tradicional no Kyrie e no Gloria (Cum Sancto Spiritu), o propósito de Puccini era mesmo dramático, tanto que reutilizou o Kyrie na ópera Edgardo (1889) e o Agnus Dei em um contexto nada religioso em Manon Lescaut (1893), transformado em um elegante madrigal entoado nos aposentos da protagonista.

 

Lenita W. M. Nogueira

 

DICIONÁRIO MUSICAL

Forlane. Dança originária de Veneza, a preferida dos gondoleiros durante o século XVII; foi banida pela Igreja por ser considerada indecente.

François Couperin (Paris, 1668-1733). Conhecido como Couperin Le Grand, para diferenciá-lo de outros músicos de sua família, é um dos mais conhecidos compositores, organistas e cravistas do período barroco na França. Em 1716 publicou L’Art de toucher le clavecin (A arte de tocar o cravo), onde apresentava aspectos inovadores na execução de instrumentos de teclado; foi pioneiro na utilização do dedo polegar, até então não utilizado pelos instrumentistas. Sua projeção foi tão importante que teria influenciado até Johann Sebastian Bach, que adotou suas técnicas. Escreveu quatro álbuns para cravo, que perfazem mais de 230 composições.

Fuga. Forma de composição popular muito utilizada no período barroco, na qual um tema ou sujeito é introduzido por uma voz e imitado pelas outras vozes em sucessão.

Minueto. Dança de origem francesa de caráter cerimonioso e delicado; dançada por um par, geralmente seu ritmo é ternário. Tornou-se um movimento padrão da sinfonia em quatro movimentos e do quarteto de cordas do período clássico (aproximadamente entre 1730 a 1820), em geral o terceiro movimento.

Rigaudon. Variação de uma dança rústica da região francesa de Provença.

Tocata. Uma fantasia ou composição de caráter livre para instrumentos de teclado, na qual era demonstrada a virtuosidade do executante. No período barroco frequentemente servia como introdução a uma fuga.

Tombeau. Na acepção “em memória de alguém”, pode ser utilizado título para uma peça ou conjunto de peças, escrito por um ou mais compositores, em tributo a um mestre falecido. Por exemplo, Paul Dukas, Manuel de Falla, juntamente com outros compositores escreveram Tombeau de Debussy, logo após a morte deste. Como gênero musical, a tradição é antiga e remonta aos alaudistas dos séculos XVII e XVIII.

 

 

Lenita W. M. Nogueira




 
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