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09.08.2008
Autores e Obras

MAURICE RAVEL (Ciboure, 1875-Paris, 1937)

Pavane pour une infante défunte

A pavana é uma dança do século XVI, de caráter majestoso e ritmo binário que em geral precedia uma galharda, de ritmo ternário e mais rápido. Pavane pour une infante défunte foi escrita originalmente para piano em 1899, época em que Ravel ainda estudava composição com Gabriel Fauré no Conservatório de Paris. A orquestração foi realizada pelo próprio compositor em 1910.

Ravel tinha ascendência basca e sua cidade natal, Ciboure, fica próxima à fronteira da França com a Espanha. Por isso composições inspiradas neste país são recorrentes na sua obra, como Rhapsodie espagnole e Bolero. Este é também o caso de Pavane pour une infante défunte, que nasceu de uma sugestão de Fauré, a partir de um quadro do pintor espanhol Velásquez (1599-1660), principal artista da corte de Felipe IV.

Embora alguns estudiosos acreditem que a infanta do título seria a princesa Margarita, filha do rei Felipe IV, Ravel afirmou que o título não faz menção a nenhuma princesa que tenha existido, mas expressa entusiasmo pelas tradições espanholas. O título também não tem nada a ver com uma possível princesa falecida, mas teria sido uma brincadeira de Ravel, que gostou da pronúncia francesa de "infante défunte" e por isso colocou este nome na obra.

A peça foi dedicada à mecenas de Ravel, Princesa de Polignac, ou Winnareta Singer, filha do inventor das máquinas de costura Singer, cujo salão era assiduamente freqüentado por Ravel.

A primeira apresentação, ainda no original para piano, aconteceu em 1902, na Societè Nationale em Paris, executada pelo pianista Ricardo Vimes, despertando pouco interesse do público. Na época o próprio Ravel achou que a obra sofria de "falta de ousadia", e um crítico a chamou, ao invés de Pavana para uma infanta defunta de "Pavana morta para uma princesa". Como peça orquestral, a estréia aconteceu nos Concertos Hasselmans, também em Paris em 1911, sob a regência de Alfredo Casella.

Como aconteceu com inúmeras obras no decorrer da história, a recepção pouco entusiasmada na estréia não impediu que Pavane pour une infante défunte se tornasse uma das peças mais conhecidas e executadas de Ravel.

MAURICE RAVEL (Ciboure, 1875-Paris, 1937)

Ma mère l’oye

Conta-se que o pai de Ravel, para incentivá-lo a estudar piano, dava algumas moedas por cada meia hora de estudo ao piano. Já adulto, o compositor utilizava o mesmo artifício com as crianças Jean e Mimi Godebsky, com a diferença que as encorajava escrevendo músicas inspiradas em contos de fada. Ma mère l’oye (Mamãe Gansa), baseada em contos de Charles Perrault e da Condessa d’Aulnoy, foi escrita em 1908 para dois pianos, de forma que as crianças Godebsky pudessem tocá-las em concerto. Mas elas ficaram apavoradas com a responsabilidade e a apresentação ficou a cargo de Jeanne Leleu e Geneviève Durony, de onze e catorze anos respectivamente. No mesmo ano o amigo de Ravel, Jacques Charlot (morto na Primeira Guerra e homenageado no Prelúdio de Le tombeau de Couperin), transcreveu a peça para piano solo. Ravel fez outras duas versões desta suíte, um balé sobre A Bela adormecida e a orquestração da peça em 1911.

A peça inicia-se com a Pavane de la Belle au Bois Dormant (Pavana da Bela Adormecida no Bosque), na qual flauta e harpa representam a floresta onde repousava a heroína. A segunda peça, Le petit poucet (O Pequeno Polegar), tem um caráter triste, no qual o corne inglês demonstra a desolação do herói ao perceber que os pássaros (representados por violino, piccolo e clarineta) comeram o miolo de pão que serviria para indicar a direção de casa.

Em Laideronnette, Impératrice des Pagodes (Laideronnette, Imperatriz dos Pagodes, inspirada no conto A Serpente Verde), Ravel emprega escalas pentatônicas e grande variedade de cores através da utilização de madeiras, celesta, harpa, xilofone e gongo. A peça seguinte Les entretiens de la Belle et de da Bête (As conversas da Bela e da Fera) tem como pano de fundo uma valsa, sendo a Bela representada pelo clarinete solo e a Fera pelo contra-fagote. O momento da transformação da Fera em um belo príncipe é indicada por um glissando de harpa e um solo de violino. O último trecho é Le jardin feérique (O jardim encantado), que traz uma sensação paz e beleza peculiar a todos os contos de fada ao retorna à cena da Bela Adormecida, que é despertada pelo beijo do Príncipe Encantado.

JOAQUIN RODRIGO (Sagunto, Valencia, 1901-Madri, 1999)

Concerto Pastoral

A obra de Rodrigo reflete a atmosfera ensolarada da Espanha e tem ecos tanto da música barroca espanhola como das melodias populares e instrumentos tradicionais de seu país. É interessante notar que esta obra, cheia de ritmos e melodias de cor mediterrânea, foi escrita por um compositor cego desde os três anos. A música de Rodrigo é tão forte para os espanhóis, que suas composições teriam estimulado o renascimento da sua cultura após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

Embora tenha escrito para as formações diversas, suas obras mais conhecidas são dois concertos para violão e orquestra, sendo o mais famoso o Concerto de Aranjuez (1939), cujo Adagio é uma das peças mais executadas em todo o repertório para violão do século XX. O outro concerto (embora o compositor não o chame assim) é Fantasia para um gentilhombre de 1954, dedicada ao violonista espanhol Andrés Segovia, certamente o "gentilhombre" a que se refere o título.

O Concerto Pastoral para Flauta e Orquestra foi encomendado pelo famoso flautista inglês James Galway em 1978. Este havia conhecido Rodrigo quatro anos antes e, encantado com a sonoridade de Fantasia para um Gentilhombre, solicitou ao compositor permissão para transcrevê-la para flauta.

Aos setenta e sete anos, Rodrigo escreveu uma obra vigorosa, que exige muito empenho e virtuosidade do flautista. O concerto tem três movimentos (Allegro, Adagio e Rondó – Allegro), sendo que o título "Pastoral" está ligado ao ambiente do segundo movimento. A estréia de Concerto Pastoral aconteceu no mesmo ano de 1978 no Royal Festival Hall em Londres, tendo Galway como solista e o regente mexicano Eduardo Mata à frente da Philharmonia Orchestra.

A década de 1970 foi de reconhecimento para Rodrigo, que ganhou grande reconhecimento fora da Espanha, tornando-se uma das figuras mais importantes da música contemporânea. Foi nomeado Doutor Honoris Causa pelas universidades da Califórnia, 1982, Politécnica de Valência, 1988, e Exeter na Grã-Bretanha, 1990. No ano seguinte recebeu o título de Marquês dos Jardins de Aranjuez e, ao falecer em 1999, foi sepultado no cemitério desta cidade, localizada quarenta e oito quilômetros ao sul de Madri, famosa por suas plantações de morango e imortalizada pela música de Rodrigo.

CLAUDE DEBUSSY / ANDRÉ CAPLET

Golliwogg’s Cake-Walk (da Suite Children’s corner)

"Nenhuma regra fixa deveria guiar o artista criador. As regras são estabelecidas pelas obras de arte, não para as obras de arte". Baseada nessa idéia expressa por Debussy (1903) suscitou polêmicas ao não se enquadrar em nenhuma fórmula pré-estabelecida. Sua música é uma superposição contínua de elementos musicais, sem vínculo com temas, motivos ou ritmos. É música que existe em função da sensação, ou como definiu Oscar Thompson, é a "apoteose da sensação."

A Suite Children’s Corner é bastante conhecida em sua versão original para piano, composta entre 1906 e 1908, dedicada pelo compositor à sua filha Claude-Emma, conhecida como Chou-Chou. Nascida em 1905, viria a falecer de difteria em 1919, um ano após a morte do pai.

Children’s Corner, apesar do nome (O cantinho das crianças) não foi concebida para ser executada por crianças ou mesmo para crianças. A idéia do compositor foi evocar a essência da infância através de composições inspiradas nas fantasias infantis. A intenção de Debussy era sugerir impressões e sensações, utilizando para isso a riqueza típica da harmonia de Debussy e o manejo do estilo impressionista.

O compositor sempre reconheceu que suas obras para piano tinham um débito com Frédéric Chopin (Zelazowa Wola, 1810-Paris, 1849), mas também recebeu diversas influências como a música do Oriente, escalas exóticas, do jazz e do ragtime. Um exemplo é o famoso Golliwog’s Cake-Walk, que integra Children’s corner. Cake-walk é uma forma musical afro-americana que se originou entre os escravos no sul dos Estados Unidos. A tradução literal seria "passo de bolo" e vem da tradição de oferecer como prêmio aos dançarinos, um pedaço de bolo de milho.

A suíte Children’s Corner é formada por seis peças contrastantes, que são por muitas vezes executadas isoladamente. A transcrição para orquestra é de André Caplet (1878-1925), compositor e regente francês. Amigo próximo de Debussy, vencedor do Prix de Rome de 1901, atualmente é mais conhecido pelas orquestrações que fez de obras de Debussy. Além de Children’s corner, orquestrou Clair de Lune da Suíte Bergamasque e colaborou nas orquestrações de Le Martyre de Saint-Sébastien e La Boîte a joujoux. Combatente durante a Primeira Guerra Mundial, aspirou gases venenosos que causaram uma pleurisia, que o mataria aos 46 anos.

Lenita W. M. Nogueira




 
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