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08.08.2009
Compositores e Obras

EDVARD GRIEG (Bergen, Noruega, 1843-1907)

Peer Gynt

 

Peer Gynt – o imperador de si mesmo, poema do escritor norueguês Henrik Ibsen baseado em histórias tradicionais de seu país, causou polêmica por caracterizar um dos símbolos da Noruega como um anti-herói preguiçoso, presunçoso e irresponsável. Grieg foi convidado em 1874 para compor a música para a adaptação teatral do poema, mas não ficou muito entusiasmado, já que também reprovara o ataque ao caráter nacional norueguês. Entretanto, polpudos arranjos financeiros e a distinção de colaborar com autor tão notável fizeram-no mudar de idéia e compôs vinte e dois trechos para a peça que foi à cena em 1876. Anos depois, reviu a orquestração e extraiu alguns trechos para formar duas suítes que estrearam em Leipizg, a primeira em 1888 e a segunda em 1893.

Em linhas gerais o enredo é o seguinte: Peer Gynt morava com sua mãe Aase em um casebre miserável, odiava trabalho, vivia contando prosa e sonhava tornar-se imperador. Desejava a aldeã Ingrid, mas como ela resolve casar-se com outro, ele a rapta em plena cerimônia de casamento e a conduz até uma montanha, onde a abandona. Proscrito na sua vila segue para as montanhas onde convive com pastoras e duendes, mas após envolver-se com a filha de Drove, o Rei da Montanha, é atacado pelos pequenos e demoníacos Trolls e obrigado a fugir. Isola-se em outra montanha, mas é encontrado pela aldeã Solveig, que o ama e deseja viver com ele. Embora tocado por esse amor, seu espírito nômade o obriga a partir, afinal desejava tornar-se imperador. Visita rapidamente sua mãe moribunda e parte para aventuras em terras longínquas, como América e Marrocos e, movimentando-se no tempo, chega ao antigo Egito.

Depois de muitas aventuras retorna cansado e desiludido à sua vila, encontrando somente a envelhecida Solveig, a quem pede perdão. Ela o aceita e seu amor e fé inabaláveis levam Peer Gynt a perceber o quanto poderia ter sido feliz se não tivesse acalentado tantos desejos impossíveis.

Neste concerto será executada não a ordem das duas suítes elaboradas por Grieg, mas a ordem do drama de Ibsen, em oito trechos musicais. A primeira peça é O rapto e lamento de Ingrid, no qual a heroína, deixada por Peer em uma montanha, lamenta o seu destino. A segunda é Na casa do Rei da Montanha, onde Grieg, a partir de dezenove repetições cada vez mais rápidas de uma melodia de quatro compassos, descreve o ataque dos Trolls. O terceiro momento é A Morte de Aase, a mãe de Peer, trecho de envolvente melancolia desenvolvido pelas cordas. A seguir o prelúdio do quarto ato da peça de Ibsen e uma das peças mais conhecidas de Grieg, Amanhecer, cuja música sugere uma imagem pastoral norueguesa, apesar de reportar-se a uma cena no Egito. Seguem-se a Dança Árabe e a Dança de Anitra, esta escrita num estilo de mazurca e que retrata a escrava que foi oferecida a Peer quando este foi confundido com um emir no Marrocos. A obra termina com O regresso de Peer Gynt e a delicada Canção de Solveig.

 

PETER ILYICH TCHAIKOVSKY (Votkinsky, 1840-São Petersburgo, 1893)

Sinfonia n° 5 em mi menor, op. 64.

A desconfiança que Tchaikovsky tinha em seu talento está expressa em uma carta enviada ao irmão Modest em 1888, na qual comentava sobre uma crise de inspiração que acreditava ser insuperável. Havia passado as férias de verão trabalhando em uma nova sinfonia e estava convencido de que sua criatividade estava desaparecendo. Escreveu para sua protetora Nadezhda Von Meck: “Há algo repelente nisto... Esta sinfonia nunca agradará o público!”. O trabalho “repelente” estreou em São Petersburgo sob a sua regência em 1888 e era a Sinfonia n° 5, uma das composições mais executadas de todos os tempos.

Tchaikovsky freqüentemente duvidava de suas habilidades e pensava que sua música não tinha valor. Como um conto de fadas ao avesso, é um exemplo acabado do anti-herói, cuja música jamais teria sobrevivido se dependesse da sua própria avaliação.

Nesse sentido, o Andante Cantabile em Si bemol é exemplar: escrito como o segundo movimento do Quarteto de Cordas nº 1, que estreou em Moscou no dia 28 de março de 1871, criou vida própria e foi um sucesso imediato. Baseado em uma canção popular, suscitou diversos arranjos, incluindo a versão para violoncelo e orquestra de cordas realizada pelo próprio compositor que, entretanto, se aborreceu com a repercussão da obra, que considerava de segunda classe. Mas durante um concerto, ao notar lágrimas na face do grande escritor Leon Tolstoi, teve que repensar seu julgamento.

Apesar de Tchaikovsky não ter assinalado um programa para a Sinfonia n° 5 afirma-se que ela descreveria a batalha do homem contra o Destino, sendo este derrotado no final. Essa idéia estaria expressa em um caderno de notas onde aparentemente, mais que idéias para uma sinfonia sobre o Destino, Tchaikovsky estaria questionando seu próprio destino: “Introdução. Completa resignação diante do Destino, ou, o que é o mesmo, diante da predestinação inescrutável da Providência. Allegro, (1) Murmúrios, dúvidas, lamentos, censuras contra XXX. (2) Devo lançar-me aos braços da fé???

Os quatro movimentos da Quinta Sinfonia são unificados através de uma referência comum a um tema anunciado pelas clarinetas em tom sombrio logo no início da obra. Alguns estudiosos afirmam que aqui estaria representada a idéia do Destino que Tchaikovsky havia se referido em escritos anteriores. O tema é recorrente em toda a sinfonia e algumas vezes aparece retrabalhado. Ele explode abruptamente no trecho que antecede o final do segundo movimento, Andante cantabile con alcuna licenza. Este se inicia com um solo de trompa trágico, porém lírico, até que um segundo momento é introduzido pelo oboé e depois desenvolvido pela orquestra. O terceiro movimento, Allegro moderato, é uma valsa e aqui o tema do Destino é citado por clarineta e fagote próximo ao final. No último movimento, Andante maestoso, o motivo sombrio do Destino aparece transposto do modo menor para maior dando um caráter triunfal ao final da obra, indicando a vitória final sobre o Destino. Mas essa euforia seria temporária, já que na Sexta Sinfonia, que estreou no ano seguinte, poucos meses antes da morte do compositor, o que se sobressai é um Tchaikovsky totalmente  sucumbido e derrotado pelo Destino.

 

Lenita W. M. Nogueira

 

 

 




 
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