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08.05.2010
As Obras

 

 

MARCO PADILHA (Campinas, 1955)

Mythos - Cena Sinfônica n° 1, Op. 9

Padilha é formado em Música – Composição pela UNICAMP e em Comunicação Social - Relações Públicas pela PUC Campinas. Como compositor, teve como mestres Orlando Fagnani, com quem aprendeu os rudimentos musicais, piano e iniciação à composição, Isabel Mourão, com quem se aperfeiçoou em piano e estilo musical, Raul do Valle, com quem estudou música eletroacústica, e Almeida Prado, que considera o seu grande mestre na arte de fazer música. Foi professor do Conservatório Musical Carlos Gomes, onde se formou em piano e matérias complementares, do Conservatório Campinas e da Faculdade Santa Marcelina em São Paulo. Como Relações Públicas foi Chefe do Cerimonial da Secretaria de Estado da Saúde onde implantou o Projeto "Arte, Cultura e Lazer nos Hospitais", e na UNICAMP, atuou no Centro de Documentação de Música Contemporânea (CDMC-Brasil/UNICAMP), no Escritório de Ação Cultural e na Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural. Atualmente é Chefe do Cerimonial da Câmara Municipal de Campinas, renomado mestre de cerimônias com atuação em Campinas e diversas cidades do Estado, produz e apresenta o programa “Intermezzo”, que vai ao ar todos os domingos das 19:00 às 22:00h na Rádio Educativa de Campinas. É importante lembrar que este programa está no ar há mais de vinte anos ininterruptamente, sempre apresentando ao público música erudita de qualidade.

Padilha, cuja obra recebeu elogios do violoncelista Antonio Meneses, das pianista Sônia Rubinsky e Yvonne Loriod-Messiaen, escreveu até o momento duas cenas sinfônicas, peças instrumentais baseadas em textos literários. A de n° 2, Cor Inquietum (Coração Inquieto) foi apresentada pela Sinfônica de Campinas em 2008.

Primeira obra do compositor para orquestra sinfônica, Mythos (1984) foi dedicada ao compositor Almeida Prado, de quem foi discípulo. Inspirada pelo trecho de A Tempestade de Shakespeare: " O que foi que viste no sombrio passado e no abismo do tempo?", a peça tem uma introdução como se fosse um livro de mitos. Diz o compositor: “abro um livro de mitos começando com um intervalo de segunda que vai até a quinta (dó/ré - dó/sol). Após a descrição dos vários mitos, o livro se encerra com o intervalo de quinta que vai até o de segunda (dó/sol - dó/ré), terminando em uníssono de dó.” As passagens curtas retratam “os Mythos, que podem ser também os Mythos de cada um, dos enigmas da memória e seus guardados.” (...) Cada um com seu significado. Olhando para o passado, inclusive o nosso passado (de cada um), quantos mitos podem surgir como enigmas da memória?”

 

RAUL DO VALE (Leme, SP, 1936)

Totens para Orquestra

Sobre o compositor Raul do Valle damos a palavra ao maestro Aylton Escobar, a quem Totens foi dedicada:

“Raul do Valle fez correr seu grande rio partindo da nascente mais que comum dos estudos pianísticos, marca registrada dos conservatórios brasilianos. Seguiu adiante, pela força do talento e do caráter pertinaz, através da prática da direção de coros e da indispensável composição. Alinhou para sua formação artística mestres soberbos: Camargo Guarnieri e Osvaldo Lacerda, entre outros, e com eles permaneceu até 1973 quando diplomou-se em Composição e Regência pelo Conservatório Musical de Santos.

Imediatamente deu o típico salto do signo de Áries: transferiu-se para a Europa onde estudou com Nadia Boulanger, em Paris e com Alberto Ginastera, em Genebra. A partir de 1976 passou a residir na capital francesa, recebendo aulas de Olivier Messiaen, Pierre Boulez e Iannis Xenakis.Tantos ensinamentos valeram-lhe a urgente independência do estilo - não através da mera substituição dos princípios estéticos primeiramente recebidos das mãos fortes de Camargo Guarnieri - mas através da nova feição nascida da poderosa descoberta da liberdade criadora, do fascinante instigamento da fantasia, do mundo aberto da sonoridade, da necessidade de inventar e conscientizar desde o elemento essencial à nova composição:o som, o material fundamental. (...) Professor do Departamento de Música do Instituto de Artes da UNICAMP na área da criação musical, Raul do Valle, por longos anos vem fazendo história e, antes de contá-las muito bem através da batalha diária do ensino acadêmico, recria-a na luta pessoal de uma constante transformação em sua arte. Incansável investigador. Indiscreto. A música para Raul do Valle é um jogo. A beleza e a poesia encontram-se na sutil movimentação do som insuspeitável. Este é o vale de Raul.”

Membro da Academia Brasileira de Música desde 1994, Raul do Valle define Totens como “uma aventura sonora (...)  e essa expressão emblemática, rica em sonoridade e carregada de significação, foi o estímulo e a diretriz deste trabalho composicional.” Já na abertura, feita pelos cinco tímpanos e seguida de outros tambores,  como num cerimonial, percebe-se o caráter solene que envolve toda a obra, onde a percussão tem papel preponderante. Totens é constituída de vários episódios onde ideias contrastantes e planos sonoros diversos se entrelaçam e se complementam de maneira orgânica e essencial. A utilização de elementos rítmicos e dinâmicos transmite uma energia vital à obra. O compositor completa o sentido da obra ao afirmar: “Totens: um apelo à imaginação do ouvinte.”

 

ROBERT SCHUMANN (Zwickau, 1810-Endenich, 1856)

Sinfonia n° 2 em Dó Maior, op. 61

Schumann vivia atormentado por crises profundas de depressão e foi durante uma delas que criou a Sinfonia nº 2 . O colapso começou em 1844 quando acompanhava sua esposa, a pianista Clara Wieck, em uma tournée pela Rússia, onde, para seu desprazer, era cumprimentado como o “marido de Clara Schumann”.

A Sinfonia nº 9 de Schubert, A Grande, provocou no compositor “pensamentos sinfônicos”, que, desenvolvidos entre 1845-46, resultaram na Sinfonia nº 2, estreada em Dresden em 1846, sob a regência de Felix Mendelssohn. Era na verdade sua terceira sinfonia: em 1841 havia composto uma em Si Bemol, a nº 1, e outra em Ré menor, publicada doze anos depois como a nº 4.

Schumann afirmou que ao compor a Sinfonia nº 2 não estava totalmente recuperado e transparece na obra a resistência do espírito contra a condição física. Esse conflito pessoal pode ser verificado em vários segmentos da obra, nos quais a música toma uma forma circular, girando sobre si mesma, numa vitalidade que não consegue se resolver. Um prelúdio introduz o primeiro andamento, um tema de seis notas que será muito importante no decorrer da obra, com um toque de metais sobreposto. A segunda parte do primeiro movimento é um daqueles momentos circulares, com um final emocional que busca uma heroica quebra do círculo.

No Scherzo o círculo continua, numa melodia que sempre volta ao mesmo ponto, num clima até certo ponto opressivo. É formado por dois trios e o segundo traz intervenções do primeiro, concluindo com o tema do prelúdio. Em contraste, o Adágio é bastante lírico, sem angústia ou frustração, concluindo calmamente, sem movimentos circulares obsessivos. No último movimento, temas do Scherzo e do Adagio são reelaborados e Schumann presta dois tributos simultâneos ao citar a canção An die ferne Geliebte (À Amada Distante): um a Beethoven, compositor da obra, e outro a sua esposa, Clara. A sinfonia termina como um grande hino e o tema do início fechando o círculo.

Acredita-se que o toque de metais no início da obra (que Mendelssohn achou muito parecido com o de sua Sinfonia Reforma de 1832 e é quase idêntico ao da Sinfonia nº 104 de Haydn), seria um chamado à esperança. Se isso é verdade, o gesto foi inútil: Schumann faleceu dez anos depois  em completo estado de demência.

 

 

Lenita W. M. Nogueira

 




 
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