Obras do período romântico.

Seguindo uma das propostas de Ligia Amadio, na regência titular e direção artística, em destacar esse período artístico, pois a Sinfônica de Campinas é uma orquestra devotada principalmente ao grande repertório romântico e que sempre o executa com maestria e brilho.


O Notas Musicais publica a vida e obras desses grandes compositores românticos Johannes Brahms e Giovanni Bottesini.


JOHANNES BRAHMS

Abertura Festival Acadêmico

Brahms recebeu duas homenagens universitárias: uma da Universidade de Cambridge em 1877 e outra da Universidade de Breslau (atual Wroclaw na Polônia) em 1880. A primeira Brahms não foi receber, pois se recusou a atravessar o mar. Sem a presença do homenageado, o título de Doutor em Música não lhe foi conferido. Já a segunda, que não implicava em longas viagens de navio, recebeu com prazer. No ato do recebimento do grau de Doutor Honorário da Universidade de Breslau, em 04 de janeiro de 1881, Brahms recebeu um diploma onde estava escrito Artis musicae severioris in Germania nunc princeps, ou “O mais famoso compositor alemão vivo de música séria”.

Para esta ocasião, a universidade havia solicitado uma “sinfonia doutoral”, mas Brahms, ao invés de escrever uma composição complexa e séria, optou por uma peça mais leve e bem-humorada, apresentando a Abertura Festival Acadêmico, baseada em canções estudantis populares na Alemanha da época, uma das quais, inclusive, tinha um teor de crítica às autoridades universitárias.

Ao reunir canções estudantis num clima descontraído, a peça naturalmente não agradou a comunidade acadêmica, que a achou frívola para tão solene ocasião. Um dos acadêmicos, estupefato, chegou a perguntar ao compositor se ele havia mesmo utilizado “A canção da raposa”, típica de calouros, na sua obra. Nas palavras de Brahms, trata-se de “um pot-pourri de canções estudantis a la Suppé”, famoso compositor de operetas, entre as quais se inclui Os alegres Estudantes, de 1863, da qual Brahms emprestou uma canção para sua abertura.

A peça começa aparentando seriedade, com a apresentação de um coral luterano. Na sequência os sopros exaltam a beleza na canção Wir hatten gebaut ein stättliche Haus (Nós construímos uma casa majestosa). Após uma recapitulação do tema inicial por toda a orquestra, surge outra canção de estudantes Der Landesvater (O pai da nação) e depois é introduzida pelo fagote  A Canção da Raposa, na qual um calouro vindo do interior é perseguido e ridicularizado pelos veteranos.

Após a recapitulação dos temas, é introduzida a mais famosa e mais conhecida canção estudantil alemã, Gaudeamus igitur, cujo texto enfatiza: "Vamos nos alegrar enquanto somos jovens; após uma juventude feliz e uma pesada velhice, a terra irá nos chamar.”

 


GIOVANNI BOTTESINI (Crema, 1821-Parma, 1889)
Grand Duo Concertante para violino, contrabaixo e orquestra

Bottesini era descendente de uma família de músicos e seu primeiro instrumento foi o violino. Em 1835, sabendo que o Conservatório de Milão abrira duas vagas, uma para fagote e outra para contrabaixo, opta pelo segundo, tornando-se um dos grandes expoentes deste instrumento no século XIX.

Após formar-se no conservatório em 1840, passa a integrar algumas orquestras italianas como instrumentista. Atuando também como regente, recebeu um convite para trabalhar como diretor da Ópera Italiana de Havana em Cuba, onde permaneceu por três anos. Ali escreveu sua primeira ópera, Cristoforo Colombo. Saindo de Havana, passou a realizar muitas turnês, assumiu diversos postos de diretor de orquestra, tanto nas Américas como na Europa.

Paralelamente a esta atividade como regente, nunca descuidou de sua carreira como contrabaixista, dedicando-se também à parte pedagógica, sendo autor do importante Metodo per Contrabasso, publicado pela Casa Ricordi. Este método é dividido em duas partes, sendo a primeira dirigida aos instrumentistas de orquestra e a segunda, a quem desejasse seguir a carreira de solista.

Entre os contrabaixistas, Bottesini é bastante conhecido por introduzir diversas inovações técnicas, entre elas a utilização de um arco mais longo e a empunhadura com a mão aberta, depois conhecida como arco francês (em contraposição ao arco alemão, no qual o músico segura o arco com a mão fechada). Outra inovação de Bottesini foi a afinação do instrumento um tom acima do usual, técnica utilizada até hoje para recitais e concursos. Também se credita a ele um conteúdo musical mais substancioso para o contrabaixo, transformando a maneira como este instrumento era visto, considerado até então de poucos recursos.

No que se refere à regência, Bottesini foi especialmente convidado para reger a estréia da ópera Aida, de Giuseppe Verdi, na cidade do Cairo, Egito, em1870.

O Gran Duo Concertante foi composto inicialmente para dois contrabaixos e orquestra em 1880 e transcrito em seguida por Camilo Sivori (aluno de Paganini) para violino e contrabaixo, existindo ainda outra versão para clarineta e contrabaixo.


JOHANNES BRAHMS
Concerto n° 1 para piano e orquestra, op. 15, em ré menor

“Foi um brilhante e decisivo–fracasso... Nenhuma reação ao primeiro e ao segundo movimentos. No final, três pares de mãos tentando lentamente aplaudir, após o que assobios de todos os lados rapidamente puseram fim a qualquer demonstração... Penso que é a melhor coisa que poderia acontecer para alguém, força-o a recolher seus pensamentos e aumenta a sua coragem... Apesar de tudo, o Concerto vai encontrar aprovação quando eu tiver aprimorado sua estrutura física. Este concerto irá agradar e o segundo soará bastante diferente.”

A observação de Brahms em carta a um amigo nos apresenta mais um desses casos comuns na história da música, quando obras primas foram desconsideradas pelas audiências contemporâneas. Acompanhando a Concerto n° 1 para Piano e Orquestra de Brahms no rol das peças desprezadas, encontramos peças fundamentais como a ópera Carmem de Bizet e A Sagração da Primavera de Stravinsky, entre tantas outras.

Com a distância do tempo, percebe-se que o pecado desta obra é uma abordagem diferenciada do gênero concerto. Pode-se dizer que se trata de um concerto sinfônico, ou sinfonia com piano, como disse um crítico da época.

A diferença é que o solista não é tratado como o grande virtuose que deve ter momentos de bravura e sempre predominar sobre a orquestra. Além disso, em muitos trechos o piano solista trabalha como se fosse um instrumento da orquestra e não como um instrumento a ser acompanhado por ela. No decorrer da obra os diversos temas podem ser apresentados tanto pelo piano como pela orquestra e os temas se seguem com fluidez, não há uma verdadeira separação entre eles.

A peça se inicia com uma introdução orquestral, que alterna momentos tumultuosos e líricos. Uma nova idéia é apresentada e o piano faz a sua entrada. O segundo tema, em forma de hino, é apresentado somente pelo piano. O segundo movimento é um Adagio ao qual Brahms adicionou a inscrição “Benedictus qui venit in nomine Domine”. O terceiro movimento, Rondó, um movimento um tanto opressivo, mas brilhante.

Sobre a indicação “Benedictus qui venit in nomine Domine” no segundo movimento, acredita-se que seja uma referência ao compositor, mestre e amigo, Robert Schuman. Outros acreditam que fosse uma referência à esposa deste, Clara, por quem, acredita-se, Brahms nutriu uma paixão platônica.

O fato é que, poucos meses depois de Brahms, então com vinte anos, ter sido aceito no círculo da família Schumann e aclamado por Robert como o sucessor de Beethoven, viu seu mentor, premido por doença mental, tentar o suicídio jogando-se no Rio Reno. Apesar de não ter conseguido seu intento, Schumann foi internado em uma clínica, onde faleceu dois anos depois.

Durante este período de angústia, Brahms compôs uma sonata para dois pianos, que tentou transformar em sinfonia, e por fim acabou por defini-la como um concerto para piano e orquestra. Ficou anos remexendo na peça, até que em 1859 o grande violinista e regente Hans Joachim convenceu-o a apresentá-la em um concerto da Orquestra da Corte em Hanover, sob sua regência, tendo o compositor como solista. Devido à boa recepção da obra, Brahms decidiu apresentá-la em um concerto na Gewandhaus de Leipzig, sob a regência de Julius Rietz. Frente ao grande púbico daquela importante sala de concertos, a obra foi recebida com indiferença e Brahms, embora tenha sido aclamado como um grande pianista, ficou magoado, como se vê pela frase acima.

 
Lenita W. M. Nogueira

 

Ligia Amadio rege o terceiro concerto da Temporada 2009

Maestrina Ligia Amadio

Linda Bustani - Série Grandes Pianistas

Solista: Betina Stegmann e Ana Valéria Poles