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Autores e Obras

16/03/2014

RAFAEL PICCOLOTO DE LIMA (1987)

Piccoloto se graduou em Composição (2009) e Música Popular (2011) pela Unicamp e, com apoio do FICC (Fundo de Investimentos Culturais de Campinas), gravou dois CDs, Caruwa (2008), e Transfigurações Brasileiras (2011), trabalho que recebeu o prêmio de Composição Original pela revista norte-americana DOWNBEAT (2012). Concluiu seu mestrado na Universidade de Miami em 2013 e a partir deste ano iniciou o doutorado. Tem obras apresentadas e/ou gravadas por artistas como Chick Corea e Terence Blanchard, e por diversos grupos de destaque como a Orquestra Sinfônica Nacional da Costa Rica e Orquestra Jazz Sinfônica do Henri Mancini Institut. Recebeu prêmios como compositor de música instrumental brasileira, erudita e jazz no Brasil, Europa e Estados Unidos.
 
Abertura Jobiniana
Por esta composição, o compositor foi indicado para o Prêmio Grammy Latino de 2013. Trata-se da abertura do disco Bossa Nova Sinfônica, apresentada e gravada pela Orquestra Sinfônica Nacional da Costa Rica sob a regência de Jeremy Fox. A música foi encomendada para ser uma espécie de medley de Bossa Nova, mas como apreciador do trabalho sinfônico de Jobim, o compositor vislumbrou nesta "abertura" uma chance de fazer um tributo a um Jobim que poucos conhecem. São desenvolvidos motivos musicais de três peças de Jobim: “Brasília, Sinfonia da Alvorada”, “Canta, Canta mais” e “Passarim”. A peça termina de maneira não conclusiva com uma nota pedal que serviria de ponte para o arranjo de Águas de Março.
 
Cenas quiméricas
Segundo o compositor, trata-se de uma suíte de miniaturas sinfônicas, composta como um estudo de orquestração, mas que acabou se tornando um prelúdio ao trabalho de seu doutorado. Influenciada pelo conceito do monomito (ou "Jornada do Herói" – a jornada cíclica presente nos mitos, segundo Joseph Campbell), as Cenas Quiméricas refletem alguns dos estados emocionais presentes na maioria das histórias, independente de época ou gênero. Inicia-se com Chamado, que reflete o primeiro impulso de mudança, o evento que provoca ao mesmo tempo insegurança e a ação inicial, a passagem do mundo comum para o mundo o mundo fantástico. Segue-se Figuras Místicas, que representa o estado de encantamento com o desconhecido e o encontro com o sábio, Espreita refletindo a ansiedade do que está por vir, a incerteza dos últimos passos seguros e Provação, o clímax da jornada do herói, simbolizando o último enfrentamento, a convergência de todas as forças e o ímpeto final.
 
 
CARLOS GOMES (Campinas, 1836-Belém do Pará, 1896)
Canções orquestradas
Além das óperas, as canções com piano foi o único gênero a que Carlos Gomes se dedicou com mais assiduidade. Escreveu diversas delas, algumas em português, outras em italiano e até em francês. As seis canções apresentadas neste concerto foram orquestradas pelo atual diretor da OSMC, Rodrigo Morte.
 
Salvator Rosa – Abertura
Il Guarany foi um grande sucesso, mas Carlos Gomes queria avançar esteticamente e compõe Fosca, que estreou no Teatro alla Scala de Milão em 1873. Sem repetir as fórmulas consagradas, criou uma partitura vigorosa utilizando temas recorrentes, orquestração sólida e um tratamento vocal inovador, com grandes saltos e harmonias ousadas. A despeito de sua indiscutível qualidade musical, Fosca não teve boa repercussão, provavelmente por supostas tendências wagnerianas, um acinte na Itália da época. Esse erro seria reparado em uma nova montagem em 1878, mas o compositor num primeiro momento viu-se obrigado a deixar as ousadias de lado e criar outra partitura mais melódica e menos sinfônica, surgindo assim Salvator Rosa, que estreou em Gênova em 1874 com enorme sucesso e se tornou sua obra mais conhecida, além de ter sido seu trabalho mais rentável. A abertura segue a linha tradicional e apresenta os principais temas da ópera.
 
HEITOR VILLA-LOBOS (Rio de Janeiro, 1887-1957)
Choros 10 – Rasga o coração
Embora menos conhecida que as Bachianas Brasileiras, a série Choros representa um dos pontos culminantes na obra de Villa-Lobos. São dezesseis peças inspiradas na música urbana carioca, escritas para formações diversas, que vão desde o violão solo do Choros nº 1, passando por grupos de câmara até as massas sinfônicas dos Choros nº 6 e 9. A numeração da série não corresponde à ordem cronológica de composição, já que ordenar sequencialmente sua obra não era uma das preocupações de Villa-Lobos. Sabe-se que os Choros 7, 8 e 10 foram escritos entre 1924 e 1925 e os de número 4,5 e 6 entre 1925 e 1926.
O Choros 10, escrito para coro e orquestra em 1925, tem apenas um movimento, mas nota-se uma divisão em duas partes, a primeira é instrumental e na segunda é introduzido o coro. Neste trecho o compositor faz uma mistura de música indígena, utilizando um tema recolhido por Roquette–Pinto na Amazônia, com música urbana, representado pelo xote Iara (1896) de Anacleto de Medeiros. Ao receber uma letra de Catulo da Paixão Cearense, Iara peça passou a se chamar Rasga o coração, subtítulo do Choros 10. Villa-Lobos utilizou a letra de Catulo, mas não lhe deu os devidos créditos, o que lhe rendeu um processo por violação de direitos autorais. Viu-se obrigado a retirar o texto de sua composição, de forma que as partes corais são somente vocalizadas.
 
FRANCISCO MIGNONE (São Paulo, 1897-Rio de Janeiro, 1986)
Maracatu do Chico Rei
No início de sua carreira, Mignone seguiu um padrão europeu, tendo inclusive estudado na Itália, onde compôs uma ópera bastante criticada por Mário de Andrade, que lutava pela criação de uma composição de caráter brasileiro. No princípio Mignone relutou em abraçar esta causa, mas, convencido por Andrade, torna-se um dos mais destacados compositores de linha nacionalista, da qual Maracatu do Chico Rei é um grande representante. Dividido em dez partes, é uma composição que, em consonância com os ideais nacionalistas do período, tem grandes efeitos rítmicos e sonoros.
Concebido em 1933 como um balé para grande orquestra e coro, sua parte literária ficou a cargo de Mário de Andrade e versa sobre a história (ou lenda) de um rei africano, cuja tribo foi capturada e levada para o garimpo em Vila Rica. O rei, agora chamado Chico, trabalhou duramente até conseguir sua alforria e a dos membros da tribo, que formaram a Confraria do Rosário e, segundo Andrade, “nos dias de festas, festas sempre misturadíssimas de catolicismo e fetichismo africano, os negros vinham em cortejo, dançando (Maracatu se chama no Nordeste a esses cortejos coreográficos) até a igreja. Na frente desta havia uma pia, aí deixando o ouro que servia às despesas da construção. O bailado, baseado nessa tradição histórica, apenas modifica esse final da tradição, fazendo o ouro deixado nesse dia servir para alforriar seis membros da tribo, que ainda aparecem como escravos. Isso permite ainda o aparecimento de dois personagens brancos (com seu séquito) o que trará mais diversidade e permite o emprego episódico e descansante de música de caráter Europeu.”
 
Lenita W. M. Nogueira

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