Sinfônica abre Série Grandes Pianistas
A Sinfônica abre Temporada 2009 com obras de consagrados compositores e solo da ilustre Niza Tank, na obra de Heitor Villa Lobos, Bachianas Brasileiras, n°5.
O segundo concerto da Temporada 2009 será apresentado na Sala Luis Otávio Burnier do Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes, com obras de consagrados compositores como Heitor Villa Lobos, Dvorák e Tchaikovsky. O Notas Musicais traz informações sobre os autores e suas obras.
HEITOR VILLA-LOBOS (RIO DE JANEIRO, 1887-1959)
Bachianas brasileiras n° 3 para piano e orquestra
De acordo com Villa-Lobos, as Bachianas “se baseiam na constante familiaridade com a grandiosa obra de João Sebastião e também na espontânea afinidade do ambiente harmônico, contrapontístico e melódico, como uma das principais modalidades da música folclórica do Nordeste do Brasil”.
Concluída em 1934, Bachianas Brasileiras n° 3 estreou no dia 19 de fevereiro de em 1947 em Nova York. O regente foi o próprio Villa-Lobos à frente da Columbia Symphony Orchestra e o pianista foi José Vieira Brandão (1911-2002), importante figura do meio musical brasileiro que, além de exímio pianista, também atuava como compositor e educador, colaborando com Villa-Lobos na implantação da educação musical nas escolas brasileiras a partir de 1932.
Como é comum na obra de Villa-Lobos, a ordem das Bachianas não corresponde à numeração oficial. Esta terceira foi na verdade a quarta a ser composta, sendo que a nomeada Bachianas n° 4 foi escrita como uma peça para piano solo e orquestrada posteriormente.
Dedicada à segunda esposa do compositor, Arminda, ou Mindinha, Bachianas n° 3, ao contrário das demais Bachianas, foi a única escrita na forma de concerto, já que é bastante longa e sua estrutura é dividida em quatro movimentos.
Todas as Bachianas se iniciam com um movimento lento no qual Villa-Lobos desenvolve seus temas à maneira de Bach. O primeiro movimento, Prelúdio (Ponteio) – Adágio, segue o padrão, inicia-se com uma frase longa apresentada pelo piano, seguida por outra melodia pela orquestra em contraponto com o piano, diálogo que se mantém até o final do movimento. Já o segundo movimento, Fantasia – Devaneio – Allegro moderato, apesar do título, inicia-se mais rápido que o anterior, com um tema interrompido por acordes do piano, com uma segunda seção mais rápida e virtuosística. O terceiro movimento, Aria (Modinha) – Largo, apresenta um tema de caráter bem brasileiro que, como o nome indica é romântico e melódico e, repetindo procedimento anterior, também tem um trecho mais agitado. A peça se conclui com Toccata (Picapau) – Allegro, trecho agitado e percussivo, no qual há imitação do som do picapau, num casamento perfeito entre temas brasileiros e técnicas de Bach, “uma fonte folclórica universal”, o “intermediário entre todas as raças” nas palavras de Villa-Lobos.
ANTONIN DVORÁK (Nelahozeves, 1841 — Praga, 1904)
Carnaval, op. 92
Em 1891 Dvorák era professor de composição no Conservatório de Praga e insistia com seus alunos para que se dedicassem ao estudo do folclore de seu país, demonstrando como os cantos folclóricos poderiam ser trabalhados em formas clássicas e como poderiam soar bem.
Nesta época, após completar a Sinfonia n° 8, dedicava-se à composição de peças mais curtas, como aberturas e poemas sinfônicos.
Carnaval é a peça central de um trítico de aberturas que ele compôs sobre os temas Natureza, Vida e Amor. Começou a escrever No reino da Natureza em 1891 e na seqüência escreveu Carnaval, peça que fala da vida, e Otelo representando o amor, que completou em janeiro de 1892.
As três aberturas foram apresentadas em Praga em abril de 1892 e foi sua última apresentação antes da viagem para Nova York, onde assumiu a direção do Conservatório Nacional de Música. As três peças foram apresentadas também em um concerto de boas vindas no Carnegie Hall.
Conforme Dvorák escreveu no programa do concerto, Carnaval descreve a chegada de viajante solitário e contemplativo a uma cidade iluminada onde acontece um animado festival. Em todos os locais ouve-se o som de instrumentos e gritos de alegria de pessoas que tomam as ruas cantando e dançando.
A peça se inicia efervescente, em tempo rápido, no qual há grade destaque para a percussão. Segue-se um trecho mais lento, Andantino, onde um solo de corne inglês apresenta um trecho com ostinato, a repetição de um padrão. A flauta se junta ao corne inglês para representar, segundo Dvorák, um apaixonado par de amantes. Há o retorno dos motivos festivos e a peça se fecha de forma entusiástica e brilhante.
PIOTR ILYICH TCHAIKOVSKY (Votkinsk, 1840-São Petersburgo, 1893)
Sinfonia n° 1, op.13, em Sol menor
Em 1865 o pianista Anton Rubinstein indicou Tchaikovsky para o cargo de professor do Conservatório de Moscou, escola que havia sido estruturada recentemente por ele e seu irmão Nikolai, no modelo do Conservatório de São Petersburgo. O convite fez com que Tchaikovsky se mudasse para Moscou no ano seguinte, instalando-se na casa de Nikolai Rubinstein.
Por esta época começou a compor a Sinfonia n° 1, sua primeira obra de maior envergadura. Anteriormente havia composto peças para piano, um quarteto de cordas e uma abertura baseada na Ode à Alegria de Schiller, a mesma utilizada por Beethoven na Nona Sinfonia, cuja responsabilidade o deixou inseguro e abalou seu sempre delicado estado emocional. A peça só foi concluída devido à insistência de Anton Rubinstein, já que seria a peça final do curso de composição do Conservatório de São Petersburgo e era necessário adquirir um certificado para ensinar em Moscou.
Durante a composição da Sinfonia n° 1, Tchaikovsky teve uma crise nervosa que chegou a afetar seu relacionamento com Nikolai. Escreveu ao irmão: “Estou no limite de uma crise nervosa: 1. Não consigo avançar na sinfonia; 2. Rubinstein e Tarnovsky notaram que sou muito sensível e se divertem me alfinetando; 3. Vou morrer muito cedo, antes de terminar a sinfonia. Eu estou ansiando o verão em Karmenka, como se fosse a terra prometida....”
Nesta vila, próxima a Kiev, morava sua irmã e ali, com mais calma, continuou a escrever a sinfonia. Segundo seu irmão Modest, enquanto compunha, Tchaikovsky sofria de insônia e teve um ataque de nervos acompanhado de alucinações tão terríveis que, “após esta sinfonia, nenhuma nota de qualquer de suas composições foi escrita à noite.”
Antes de retornar a Moscou, Tchaikovsky decidiu ir a São Petersburgo para apresentar a obra em um concerto da Sociedade Musical Russa, mas nada conseguiu. Fez uma revisão da partitura e reapresentou-a, mas só foi executado o terceiro movimento, com pouca repercussão. A sinfonia completa só foi apresentada em 1868, em Moscou, sob a regência de Nikolai, desta vez com grande sucesso. Revisada em 1874 e 1883-4, foi publicada em 1886, sendo esta a versão ouvida atualmente.
Dedicada a Nikolai Rubinstein, a sinfonia é conhecida como Sonhos de Inverno, derivado do subtítulodo primeiro movimento Sonhos de uma viagem de inverno (Allegro Tranquilo). O segundo movimento tem o subtítulo de Terra de desolação, Terra de névoas (Adagio Cantabile ma non tanto). Nos outros movimentos, Scherzo (Allegro scherzando, giocoso) e Finale (Andante lúgubre – Andante maestoso), Tchaikovsky seguiu os passos de Glinka (1804-1857), mentor do nacionalismo musical russo, integrando magistralmente elementos da música folclórica russa com refinadas técnicas de composição erudita.
Lenita W. M. Nogueira |